Azul de metileno

Suporte na restauração da hemoglobina e propriedades neuroprotetoras.

O que é azul de metileno?

O azul de metileno é um corante aromático da família das fenotiazinas, conhecido por apresentar características físico-químicas bem peculiares, como a capacidade de autoagregação. Administrado há séculos no tratamento de diferentes condições, como infecção urinária e malária, sua principal indicação parenteral atualmente é como antídoto para a metahemoglobinemia adquirida. Nessa condição grave, a hemoglobina perde a capacidade de transportar oxigênio, e o azul de metileno atua como receptor de elétrons, revertendo o quadro ao restaurar a hemoglobina funcional.

Além dessa aplicação, alguns estudos observaram que o azul de metileno tem a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, o que abre possibilidades terapêuticas em condições que acometem o sistema neurológico, como o Alzheimer. Nessas pesquisas, foi verificada também a sua grande capacidade de atacar os radicais livres — causados principalmente pelo estresse oxidativo —, um fator de risco associado a diversos distúrbios neurodegenerativos.

Por sua função de receptor de elétrons, o azul de metileno também pode ser utilizado para senescência. Além disso, ganhou reconhecimento na literatura de cuidados intensivos pelo seu uso eficaz no tratamento da neurotoxicidade induzida por ifosfamida e do choque vasoplégico refratário, devido à sua capacidade de inibir a via do óxido nítrico e causar vasoconstrição.

Principais indicações terapêuticas

Tratamento da metahemoglobinemia

A metahemoglobinemia ocorre quando há excesso de metemoglobina no sangue, podendo se desenvolver como resultado da exposição a certos medicamentos ou substâncias tóxicas, como nitritos. A metemoglobina é um tipo de hemoglobina que, ao contrário da forma funcional, não ajuda a transportar oxigênio. Ela é encontrada em pequenas quantidades no sangue, portanto, quando seu nível aumenta, o sangue passa a ter dificuldade para distribuir oxigênio pelo corpo, resultando em um quadro de déficit generalizado que pode causar sintomas como pele azulada ou pálida.

O tratamento baseia-se na administração de azul de metileno, sendo esse o principal uso clínico dessa molécula e aprovado também pela FDA dos Estados Unidos. Quando administrado por via intravenosa como antídoto, o azul de metileno é primeiramente convertido em azul de leucometileno, que, posteriormente, converte o grupo heme da metemoglobina em hemoglobina. O azul de metileno pode encurtar a meia-vida da metemoglobina de horas para minutos e restabelecer a capacidade adequada de transporte de oxigênio pelo organismo.

Tratamento antimalárico

O azul de metileno foi o primeiro fármaco sintético utilizado para tratar a malária em humanos, no final do século XIX. Com o tempo, porém, acabou sendo amplamente substituído por derivados sintéticos mais populares e eficazes, como a cloroquina.

Apesar disso, o azul de metileno apresenta uma ação esquizontínea no sangue, atacando e eliminando as formas do parasita Plasmodium que se reproduzem nos glóbulos vermelhos e são responsáveis pelos sintomas agudos da doença, como a febre. Além disso, mostra-se particularmente eficaz na eliminação dos gametócitos de Plasmodium falciparum, contribuindo para interromper a cadeia de transmissão da malária.

Investigação em condições neurodegenerativas

Estudos têm explorado o potencial do azul de metileno no tratamento de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, devido às suas propriedades neuroprotetoras e à capacidade de atuar em múltiplos mecanismos celulares.

Apresentações disponíveis
Ampola – exclusivo EV

Azul de metileno (1%) 50mg/5mL

Azul de metileno (2%) 40mg/2mL

Azul de metileno (1%) 100mg/5mL

Via de administração

Este medicamento deve ser administrado, exclusivamente, por infusão endovenosa lenta (45-60min/bolsa) com prévia diluição em soro fisiológico (0,9%) de 250mL, avaliando individualmente cada paciente.

Armazenamento

Mantenha a solução de azul de metileno em temperatura ambiente (entre 15 e 30 °C), protegido da luz e da umidade. Após aberta a ampola, utilizar o conteúdo inteiro ou descartar.

Cuidados complementares

Durante pelo menos 24 horas após o tratamento, recomenda-se evitar a exposição à luz solar, pois o medicamento pode causar queimaduras solares com mais facilidade. Ao sair ao ar livre, é importante utilizar roupas de proteção e protetor solar com FPS 30 ou superior.

Contraindicações

  • Hipersensibilidade grave ao azul de metileno.
  • Pacientes com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) devido ao risco de anemia hemolítica.
  • Gestantes, lactantes e pacientes com cardiopatia.

Reações adversas

Como aumenta a serotonina, a sua infusão endovenosa pode gerar síndrome serotoninérgica se utilizado com outros medicamentos que elevam a síntese ou reduzem a recaptação desse neurotransmissor.

A urina pode apresentar coloração azul-esverdeada devido à redução do eritrócito que transforma o azul de metileno em azul de leucometileno. Em pacientes mais sensíveis, pode causar arritmias cardíacas, vasoconstrição coronariana, diminuição do fluxo sanguíneo, dor nos braços e nas pernas, alteração no paladar, dor de cabeça, tontura, sudorese, descoloração da pele, náuseas e sensação de calor. Também podem ocorrer vômitos, dores abdominais, cefaleia, confusão mental e hipertensão.

Evitar a infusão rápida, devido ao risco de toxicidade (anemia hemolítica), e não utilizar o azul de metileno para colorir alimentações enterais com o objetivo de detectar aspiração.

Atenção: é imprescindível que o tratamento seja iniciado com doses baixas para avaliar individualmente a tolerância ao ativo.

Interações medicamentosas

O azul de metileno é naturalmente um inibidor da monoamina oxidase (IMAO) e, portanto, pode interagir com os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) e com outros IMAOS, podendo causar toxicidade grave relacionada à captação serotoninérgica. Também interage com a dapsona, formando a hidroxilamina, um composto capaz de oxidar a hemoglobina e causar hemólise.

Incompatibilidades

Essa formulação deve sempre ser administrada de forma isolada na bolsa de soro fisiológico, sem a associação de outros medicamentos no mesmo recipiente, evitando incompatibilidades e garantindo a segurança da administração.

IMPORTANTE

Este material é de apoio técnico para prescritores e é proibida a sua divulgação para consumidores, nos termos do item 5.14 da RDC 67/2007.

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