Peelings:

Uma estratégia eficaz para a renovação da pele

Os peelings são procedimentos que promovem a remoção controlada das camadas superficiais da pele, favorecendo a renovação celular, o estímulo de colágeno, o rejuvenescimento e o tratamento de condições dermatológicas. Eles são amplamente utilizados na dermatologia e na medicina estética quando se deseja melhorar a aparência e a saúde da pele.

De acordo com o agente utilizado, os peelings podem ser físicos (com ação física para a descamação, como lixas, cremes abrasivos ou aparelhos de microdermoabrasão) ou químicos (com ácidos específicos).

No peeling químico, sua ação e profundidade dependem da concentração do ácido, da composição da fórmula e dos procedimentos de aplicação. Neste material vamos apresentar nossos peelings químicos e suas principais indicações e sugestões de uso, com alternativas compatíveis para o rosto e áreas extrafaciais, inclusive para a região íntima.

Cuidados pré-peeling

A aplicação dos ácidos para o peeling é realizada em consultório, sendo necessários alguns cuidados antes do procedimento para garantir a segurança e os melhores resultados.

Avaliação clínica e bioquímica do paciente

A prescrição de um peeling envolve uma profunda anamnese do paciente, que deve incluir fatores que podem afetar os resultados dos procedimentos, como: grau de exposição solar, antecedentes de herpes simples, tendências para queloides e hiperpigmentação pós-inflamatória, uso de medicamentos e tabagismo. No exame dermatológico deve-se observar o fototipo, o grau de fotoenvelhecimento e o tipo de pele.

O estado nutricional do paciente antes do procedimento também pode interferir nos resultados, o que torna importante a realização de exames bioquímicos prévios ao uso dos peelings. Algumas literaturas sugerem verificar as concentrações de vitaminas e minerais, como as vitaminas B12 e D3, o zinco, o ferro e o selênio, além dos níveis de homocisteína e dos principais marcadores inflamatórios. Manter os níveis adequados desses nutrientes antes do tratamento é importante para melhorar os resultados e prevenir o surgimento de melasma rebote ou de hiperpigmentação pós-inflamatória.⁽¹⁾

Preparar a pele com tratamentos dermatológicos

Para aumentar a eficácia do peeling químico e garantir os resultados esperados, recomenda-se o preparo da pele durante o período de 2 a 12 semanas antes do procedimento. São utilizados ativos dermatológicos que ajudam a reduzir a produção sebácea e a preparar a epiderme, facilitando a penetração dos ácidos, acelerando a reepitelização e cicatrização e reduzindo o risco de hiperpigmentação pós-inflamatória.⁽²⁾

Dentre esses ativos estão os corticoides ou anti-inflamatórios tópicos, inibidores da produção de melanina que controlam a inflamação relacionada ao procedimento, além de agentes que reduzem a espessura dérmica e facilitam a penetração do ácido a ser aplicado. O uso diário de filtros solares também é importante para a prevenção da hiperpigmentação pós-inflamatória.⁽²⁾

No caso de pacientes com histórico de infecções por herpes, é necessário um tratamento preventivo por via oral para evitar o surgimento das lesões, que podem ser reativadas após os peelings químicos.^(2,3)

Considerando o quadro clínico e as características da pele

Após a avaliação clínica e bioquímica do paciente e estando a pele devidamente preparada, é chegada a hora da aplicação do peeling, que deve ser realizada em consultório.

Os peelings químicos variam em composição, concentração e método de aplicação, permitindo a escolha dos tratamentos de acordo com as necessidades específicas e características individuais da pele dos pacientes. O ácido utilizado, a concentração e o tempo de exposição são fatores que impactam na forma em que o peeling vai agir, podendo ser superficial (removendo apenas a camada mais externa da epiderme), chegar a média profundidade (atingindo a derme papilar) ou ter ação profunda (atingindo a derme reticular média).^(4,5)

Conhecer essas particularidades permite escolher a formulação ideal para cada tratamento. Por exemplo: linhas finas e acnes podem ser manejadas com peelings superficiais, já o rejuvenescimento cutâneo e o tratamento de cicatrizes ou certas condições dermatológicas requerem agentes mais profundos.⁽⁴⁾

Além disso, o tipo de pele do paciente também deve ser considerado, principalmente quanto ao seu fototipo.⁽⁵⁾ Peles mais claras (fototipos I a III) tendem a responder bem a uma variedade de peelings e a possuir menor risco de hiperpigmentação pós-inflamatória, porém, podem ser mais suscetíveis à vermelhidão e sensibilidade.

Já os fototipos mais altos (IV a VI), encontrados em indivíduos com pele mais escura, apresentam um risco maior de desenvolver hiperpigmentação pós-inflamatória e requerem uma seleção cuidadosa dos agentes químicos e da concentração, bem como um acompanhamento rigoroso no pós-procedimento.⁽³⁾

Fototipos: a escala de Fitzpatrick

A escala de Fitzpatrick classifica a pele de acordo com a sua tonalidade, a resposta à exposição solar e a propensão a hiperpigmentações ou queimaduras.⁽⁶⁾

Principais ácidos para uso em peelings químicos

Agentes químicos para a renovação da pele, indicados para uso em consultório.

Peeling ácido retinoico

Renovação do epitélio e controle da oleosidade.
É um peeling superficial adequado para peles de todos os fototipos, inclusive mais altos.⁽⁷⁾ Esse peeling promove a descamação e a renovação do epitélio, compacta a camada córnea, estimula a síntese de colágeno, elimina os queratinócitos atípicos e impede a formação de queratoses. Dentre suas indicações, é amplamente utilizado para o rejuvenescimento e redução de linhas finas, melasma, acne, oleosidade, cicatrizes superficiais, queratose e estrias.⁽⁸⁾ Pode ser também utilizado no pré-peeling químico e a laser, como preventivo da hiperpigmentação pós-inflamatória.

Concentração sugerida: 1% a 8%. É um peeling tempo-dependente (2 a 8 horas) e o tempo pode ser definido de acordo com a sensibilidade da pele do paciente.

Peeling ácido salicílico

Remoção da oleosidade, inflamação e hiperpigmentação.
O ácido salicílico é um beta-hidroxiácido (BHA) de caráter lipofílico, que promove a renovação celular por meio da remoção dos lipídios ligados ao envelope cornificado ao redor das células epiteliais. Apresenta propriedades anti-inflamatórias, antimicrobianas, queratolíticas e seborreguladoras, sendo indicado para o manejo da oleosidade cutânea, foliculites, acne vulgar (com ou sem lesões inflamatórias), lentigens, manchas, sardas, fotoenvelhecimento e rugas.⁽⁹⁾ Pode ser utilizado para o clareamento da região íntima.

Concentração sugerida: 20% a 30% para peeling superficial e 30% a 50% para peelings médios. Pode ser indicado para todos os fototipos.

Peeling ácido glicólico

Renovação do epitélio, controle da oleosidade e hiperpigmentação.
Peeling da classe dos alfa-hidroxiácidos (AHA) que provoca a epidermólise, reduzindo a coesão entre as células córneas e causando a descamação da pele,^(5,10) contribuindo também para a dispersão da melanina epidermal e o clareamento cutâneo.⁽⁵⁾ Esse peeling melhora a espessura da epiderme, aumenta a síntese de colágeno na derme e tem ação queratolítica, estimulando a camada germinativa e os fibroblastos. Indicados para os casos de queratose senil, queratose actínica, cicatrizes superficiais, rugas e linhas de expressão, seborreia da face e acne comedoniana.

Concentração sugerida: 20% a 70%. A literatura indica começar com concentrações menores (20% a 30%) e aumentar em 10% nas sessões seguintes, de acordo com a necessidade clínica e a tolerância do paciente.⁽⁵⁾

Peeling ácido mandélico

Inibe a tirosinase, controla a oleosidade e acnes e possui ação antibacteriana.
O ácido mandélico é um alfa-hidroxiácido obtido pela hidrólise do extrato de amêndoas amargas. Tem ação anti-inflamatória, inibe a ação da tirosinase, suaviza a pele e apresenta propriedades seborreguladoras e queratolíticas.⁽¹¹⁾ Devido ao seu tamanho molecular, o ácido mandélico penetra a pele de forma controlada, agindo como um peeling superficial bem tolerado, inclusive em peles sensíveis e em quadros de rosácea.^(11,12) É indicado para o tratamento da acne inflamatória não-cística, da hiperpigmentação solar e pós-inflamatória, para rejuvenescer a pele fotoenvelhecida, como antisséptico e antibacteriano no pós-peeling, para acelerar o processo de descamação e para facilitar a penetração de agentes dermatológicos.^(11,12) Pode ser utilizado para o clareamento da região íntima.

Concentração sugerida: 20% a 40%. Pode ser usado, inclusive, em fototipos mais altos. Para peelings íntimos, as literaturas sugerem doses de 10% a 25%.

Peeling ácido tricloroacético (ATA)

Renovação da derme e auxiliar no tratamento de cicatrizes, inclusive pós-acne.
O ácido tricloroacético (ATA) é um agente desnaturante que precipita as proteínas epidérmicas, causando desprendimento, necrose, inflamação da derme e formando frosting. Essa ação leva à renovação da pele, deixando sua tonalidade mais uniforme e reduzindo marcas e cicatrizes.⁽⁵⁾ Como peeling superficial, é indicado para o tratamento da acne comedogênica, seborreia da face, rugas finas e linhas de expressão. Como peeling de média profundidade, é indicado para o tratamento de rugas, cicatrizes superficiais, queratose actínica e discromias pigmentares. E como peeling profundo, é indicado para tratamentos de rejuvenescimento cutâneo e remoção de tatuagens, verrugas e condiloma acuminato, com o uso de concentrações mais elevadas de ATA.⁽¹²⁾

Concentração sugerida: 10% a 25% para peelings superficiais, 25% a 50% para peelings de média profundidade e 50% a 90% para peelings profundos.

Peeling ácido lático

Renovação celular com ação hidratante e clareadora.
O ácido lático é um alfa-hidroxiácido que atua na renovação celular da pele, reduz a espessura do estrato córneo e é conhecido por sua importante ação hidratante e clareadora.⁽¹²⁾ É indicado para o tratamento do melasma, acne, rosácea, como esfoliante e na regulação do pH da pele. Pode ser utilizado em peelings íntimos.

Concentração sugerida: 30% a 70%. Para peelings íntimos, as literaturas sugerem dose de 15%.

Peeling ácido tioglicólico

Agente quelante do ferro da hemossiderina, reduz manchas de origem vascular.
Este peeling é utilizado para o tratamento da hiperpigmentação periorbicular de origem vascular (olheiras) e para casos de hemossiderose ou hipercromias pós-inflamatórias.^(5,13) Sua eficácia nestes casos está relacionada à capacidade de quelar o ferro da hemossiderina, por apresentar grupo tiólico.⁽¹³⁾

Concentração sugerida: 2% a 5% para olheiras e 10% a 15% em consultório.

Peeling resorcina

Controle de acne e oleosidade e renovação da pele.
É um derivado fenólico sintético com ação queratolítica e propriedades antisséptica, seborreguladora, antifúngica, antipruriginosa e esfoliativa. Utilizado no tratamento de acne, discromias, linhas finas, peles rugosas e hiperpigmentação pós-inflamatória.⁽⁵⁾

Concentração sugerida: 30% a 60%. Pode ser usado em peles de fototipos mais altos.

Solução de Jessner

Renovação da derme e controle da oleosidade.
É um queratolítico que combina as propriedades do ácido salicílico, do resorcinol e do ácido láctico (85%). O ácido láctico é um AHA que produz epidermólise, já o resorcinol é estruturalmente similar ao fenol e rompe as ligações de hidrogênio da queratina, e o ácido salicílico, um composto lipofílico, remove os lipídios intercelulares. Indicado para peeling superficial para eliminar manchas da pele, rugas finas e linhas de expressão, bem como no tratamento da acne e seborreia.⁽⁵⁾

Concentração sugerida: resorcina 14% + ácido salicílico 14% + ácido lático 14%.

Algowhite^®

Renovação da derme e peeling enzimático.
É um peeling enzimático obtido a partir do extrato concentrado da alga marrom (Ascophyllum nodosum). Aumenta a expressão da enzima SCCE (serina proteinase), que promove a quebra dos desmossomos do estrato córneo e a renovação celular natural da pele. Ao aumentar esta síntese, o Algowhite^® contribui para a diminuir a coesão entre os corneócitos, facilitando a esfoliação e a renovação da pele.

Concentração sugerida: 2,5% a 5,0%.

Peelings íntimos

Os peelings íntimos são indicados, principalmente, para reduzir hipercromias causadas por variações hormonais, como na gravidez ou menopausa, e fatores genéticos relacionados à idade ou a ações externas, como exposição solar ou depilação.⁽¹⁴⁾ Segundo estudos recentes, os casos de herpes genital recorrentes também podem se beneficiar destes procedimentos, pela renovação celular que eles promovem.⁽¹⁵⁾

Devido a sensibilidade desta área, os peelings íntimos demandam cuidados especiais e escolha de ativos compatíveis com a região genital. Os agentes devem ser aplicados apenas na parte externa da genitália, com tempo de exposição e concentrações adequados. Seu uso deve ser suspenso em caso de sensibilidade.

Os principais ativos utilizados em peelings íntimos são:

Ácido mandélico

Peeling adequado para regiões sensíveis, inibe a tirosinase e tem ação esfoliante, queratolítica, e antibacteriana.⁽¹⁶⁾

Concentração sugerida para peelings íntimos: 10% a 30%.

Ácido lático

Usado em peelings íntimos por sua ação esfoliante leve e por promover a renovação celular.⁽¹⁶⁾ Pode ser usado no pré-peeling, em doses menores.

Concentração sugerida para peelings íntimos: 10% a 30%.

Ácido salicílico

Utilizado em doses baixas em peelings íntimos, possui ações esfoliantes e queratolíticas.

Concentração sugerida para peelings íntimos: 3% a 10%.

Gluconolactona

Poli-hidroxiácido com alto peso molecular e absorção lenta, promove esfoliação suave da pele. Tais características tornam esse ativo adequado para áreas sensíveis, como a região genital. Apresenta, ainda, propriedades hidratantes e antioxidantes, podendo ser usado no pós-peeling (0,5% a 5%).

Concentração sugerida para peelings íntimos: 10% a 30%.

Ativos clareadores

Para potencializar os resultados, podem ser associados aos tratamentos ativos clareadores como o ácido tranexâmico e o ácido ferúlico.

Cuidados pós-peeling

Iniciam-se logo após os tratamentos em consultório e são importantes para prevenir complicações e manter os resultados.

Os cuidados pós-peeling iniciam-se logo após os tratamentos em consultório e são importantes para prevenir complicações e manter os resultados. Visam, principalmente, fornecer proteção e os nutrientes necessários para a cicatrização e recuperação e para minimizar possíveis desconfortos do paciente. Em procedimentos superficiais, recomenda-se a higienização com produtos não irritantes, fotoproteção e lubrificação da pele. Em procedimentos mais profundos, além desses cuidados, é importante usar coadjuvantes que promovam a analgesia, reduzam a inflamação e o eritema.^(2,3)