Vitaminas e imunidade infantil

A saúde e o bem-estar das crianças dependem da interação entre seu potencial genético e fatores externos, como um ambiente seguro, boa convivência social e uma nutrição adequada. No entanto, o aumento da oferta alimentar de alimentos industrializados nas últimas décadas coincide com uma maior carência de micronutrientes em todo o mundo

Entende-se que a falta de uma dieta variada e as preferências alimentares restritas têm limitado a ingestão adequada de micronutrientes importantes, afetando principalmente o funcionamento do sistema imune dos pequenos.

Vitaminas C e D merecem maior atenção durante a infância

Entre os micronutrientes que merecem maior atenção durante a infância estão as vitaminas C e D. A vitamina C, com suas propriedades antioxidantes e seu papel na síntese de colágeno, importante para cicatrizações e estabilização das barreiras epiteliais, está altamente ligada ao sistema imunológico. Já baixos níveis de vitamina D estão associados ao maior risco de desenvolvimento de doenças infecciosas respiratórias, entre outras possíveis consequências.

Confira a seguir detalhes das funções dessas vitaminas nas crianças e os resultados que a suplementação delas têm na otimização da saúde infantil, com reflexos na vida inteira.

Vitamina C na
saúde das crianças

A vitamina C é um micronutriente essencial, com efeitos profundos no desenvolvimento físico, mental e na manutenção da saúde e do bem-estar das crianças. É necessária para uma resposta imunológica ideal e, portanto, importante para a prevenção de doenças e o combate a infecções.

Parte dessa importância se deve ao papel regulador do sistema imunológico exercido pela vitamina C. Isso ocorre devido ao seu efeito imunoestimulador nas células linfocitárias, às suas propriedades antioxidantes e ao seu papel na função fagocítica e na síntese de colágeno, necessária para a estabilização das barreiras epiteliais.

Além disso, a vitamina C é altamente concentrada nos leucócitos, sendo consumida rapidamente durante infecções. Ela tem sido definida como uma estimulante das funções leucocitárias, especialmente do movimento de neutrófilos e monócitos. Altos níveis de vitamina C nos neutrófilos são necessários para neutralizar os níveis extremamente altos de estresse oxidativo ao qual eles são expostos após a produção de espécies reativas de oxigênio.

Outras atividades relacionadas à vitamina C incluem a manutenção de tióis enzimáticos em um estado reduzido e a preservação da glutationa, um importante antioxidante intracelular e cofator enzimático. Por outro lado, a deficiência de vitamina C está relacionada a uma redução significativa das respostas de hipersensibilidade do tipo tardia que indicam imunidade comprometida.

Vitamina D para
uma infância saudável

Estudos recentes mostraram que, por meio de seu metabólito ativo 1,25 (OH) 2D, a vitamina D desempenha um forte papel imunomodulador. Ela atua sobre as células do sistema imunológico inato, inibindo a produção de citocinas pró-inflamatórias e induzindo a síntese do peptídeo antimicrobiano.

Legenda:

  • Produção intrácrina de 1,25D (1,25-dihidroxivitamina D)a partir da enzima CYP27B1 (25-hidroxivitamina D 1α-hidroxilase) é mostrada em macrófagos ativados e células dendríticas.

  • A indução da sinalização de 1,25D através do VDR (Receptor de vitamina D) codificam vários tipos de proteínas implicadas na sinalização imune inata, incluindo citocinas/quimiocinas, receptores de reconhecimento padrão (PRRs) e peptídeos antimicrobianos (AMPs).

  • Sinalização da 1,25D nas células dendríticas influencia a sua maturação celular
    e suprime a produção de Células Th1 e Th17, favorecendo Th2 e Tregs (células T regulatórias)..

Consequentemente, a vitamina D pode modular a incidência e a gravidade das infecções bacterianas e virais. Essa hipótese foi confirmada por uma série de estudos epidemiológicos, que mostram que crianças com baixos níveis séricos da vitamina têm alto risco de desenvolver doenças infecciosas respiratórias, e que a restauração dos valores normais de vitamina D está associada a um declínio significativo na incidência de episódios infecciosos.

Vitaminas e as infecções
do trato respiratório

Infecções do trato respiratório são as doenças mais prevalentes nas crianças, que têm um organismo ainda em fase de fortalecimento. Nos primeiros anos de vida, é comum ter muitas infecções por ano. Especialmente entre as crianças que frequentam escolas, o que triplica a chance de pegar essas infecções.

Geralmente causada por vírus, a infecção do trato respiratório é tratada sintomaticamente. Os antibióticos não são eficazes, assim como os corticosteróides de uso inalatório e oral nos casos de resfriado comum.

Vitamina C

Uma revisão da Cochrane mostrou que a administração diária de 1g a 2g de vitamina C levou à redução média de 18% na duração dos resfriados em crianças, assim como uma diminuição na severidade das infecções.

Vitamina D

Em estudo duplo-cego e controlado por placebo, realizado no Japão com crianças entre 6 e 15 anos, a gripe A (Influenza) ocorreu em 18,6% do grupo placebo e em 10,8% das crianças suplementadas com 1.200 UI de Vitamina D ao dia. A pesquisa investigou 334 crianças durante
quatro meses.

Vitamina C no combate à asma

Com comprovados efeitos anti-histamínicos, altas doses de vitamina C vem sendo prescritas para combater a hiper-responsividade à histamina, que está associada a muitos dos sintomas observados em distúrbios alérgicos e asma brônquica. Segundo estudo, uma dose aguda, de 2 g de vitamina C, pode reduzir significativamente a responsividade brônquica à histamina inalada em pacientes com alergia.

Esta propriedade anti-histamínica também pode contribuir com o efeito profilático de suplementação de vitamina C em pessoas com asma e atenuar a gravidade dos sintomas observados em infecções respiratórias.

Vitamina D e tratamento da pneumonia

Altas taxas de deficiência de vitamina D são normalmente encontradas entre crianças internadas por pneumonia. Por desempenhar um papel importante na modulação da resposta imune inata contra infecções, estudo investigou o potencial da suplementação dessa vitamina no tratamento da pneumonia em crianças.

Os resultados mostraram que a suplementação de vitamina D, em conjunto com o tratamento com antibióticos, reduz significativamente os novos episódios de pneumonia em um período de 90 dias.

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A otite média aguda (OMA) é a doença bacteriana mais comum em bebês e crianças pequenas. Nos primeiros 3 anos de vida, quase todas as crianças têm pelo menos um episódio e cerca de um terço registra dois ou mais episódios.

A otite é uma doença infecciosa que pode ser causada por bactérias ou vírus. As bactérias são encontradas no fluido do ouvido médio em cerca de 75% dos casos. No entanto, os vírus desempenham um papel fundamental ao favorecer a infecção bacteriana do ouvido médio. Isso porque uma infecção viral do trato respiratório superior geralmente precede a otite, modifica a função da tuba auditiva e causa a aspiração da flora nasofaríngea para o ouvido.

Segundo estudo publicado em ​​The Pediatric Infectious Disease Journal, a hipovitaminose de vitamina D é comum em crianças com otite recorrente e está associada a um aumento na ocorrência da doença quando os níveis séricos são inferiores a 30 ng / ml. A administração de vitamina D em uma dosagem de 1000 UI por dia restaura os valores séricos na maioria dos casos e foi associada a uma redução significativa no risco de otite comum.

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Seja pela dificuldade dos pais em oferecer uma dieta rica e variada, seja pela recusa de alimentos naturais pelas crianças, a hipovitaminose é uma realidade em todas as regiões e estratos sociais. Por esse motivo, a prescrição de vitaminas já faz parte do dia a dia de profissionais que acompanham a saúde das crianças, e durante a escolha do que suplementar é preciso estar atento a alguns fatores:

Concentração

No caso da vitamina D, a ingestão diária recomendada para crianças e adolescentes pela Sociedade Brasileira de Pediatria é de 400UI/dia (10mcg). Portanto, quanto mais próximo dessa quantidade por dose o suplemento estiver, mais indicado ele pode ser. Já em relação à vitamina C, quando o objetivo é reforçar a imunidade, a recomendação média diária vai de 25 a 50mg por quilo de peso da criança.

Formas atraentes e saudáveis

Gominhas e multivitaminicos em forma de suco ou achocolatados são opções de suplementos com maior aceitação pelas crianças. Mas, além das formas, é recomendável verificar a presença ou não de ingredientes como açúcar, adoçantes artificiais, corantes artificiais ou saborizantes artificiais.

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