Redução da carga tóxica: a importância dos cosméticos

Autores: Rogério R. Rita: Médico Ortomolecular – CRM 4538

Raquel Rita: Pesquisadora Científica do Departamento de P&D do Essentia Group

Resumo: Nas últimas décadas, compostos sintéticos potencialmente tóxicos que afetam, entre outros, o sistema endócrino tornaram-se componentes onipresentes dos produtos de higiene pessoal e cosméticos. Um estilo de vida carregado de toxinas potencialmente bioacumulativas corre paralelamente às taxas sem precedentes de muitas doenças e transtornos relacionados ao sistema endócrino, além de comprometer todos os ecossistemas e futuras gerações. Com a tendência de consumo consciente e anseio de ingredientes clean por parte dos pacientes, este é um importante momento de conscientização e atualização de todos os profissionais da área da saúde sobre esse tema relevante, especialmente os médicos.

Palavras-chaves: carga tóxica; cosméticos; sistema endócrino; disruptores endócrinos; bioacumulação; sustentabilidade; circularidade; pele; intestino; microbiomas; alergia; ecossistema.

Abstract: In the last decades, potentially toxic synthetic compounds that affect, among others, the endocrine system have become ubiquitous components of personal care and cosmetic products. A lifestyle loaded with potentially bioaccumulative toxins runs parallel to the unprecedented rates of many diseases and disorders related to the endocrine system, in addition to compromising the health of all ecosystems and future generations. With the trend of conscious consumption and the desire for clean ingredients on the part of patients, this is an important moment of awareness and updating of all health professionals on this relevant topic, especially doctors.

Keywords: toxic load; cosmetics; endocrine system; endocrine disruptors; bioaccumulation; sustainability; circularity; skin; intestine; microbiomes; allergy; ecosystem.

Objetivo: Através dos cosméticos, este artigo vem lembrar os profissionais da área da saúde que o corpo de literatura evidenciando a complexa problemática do uso diário de substâncias com potencial tóxico aumentou relevantemente na última década. Para a saúde de todos os ecossistemas, incluindo o ser humano, a carga tóxica deve ser amplamente reduzida.

Introdução

A importância da redução da carga tóxica na prática Ortomolecular já é bem conhecida como um fator promovedor de saúde. No entanto, a conversa sobre esse tema era considerada de certa maneira frustrante pela escassez de estudos e opções alternativas. Agora, em paralelo com a tendência de sustentabilidade e circularidade, a situação vem mudando, assim, facilitando a abordagem desse tema entre profissionais de saúde e seus pacientes.

Aqui, trazemos esse tema sob o ângulo dos cosméticos que fazem parte da nossa rotina e cujo uso diário aumentou significativamente nos últimos anos. Substâncias tóxicas em produtos cosméticos são comuns, e deveriam ser evitadas. Essas substâncias podem ser encontradas em formulações entre aditivos, fragrâncias, conservantes, estabilizantes, surfactantes, corantes e brilho para potencializar sua qualidade, propriedade e prazo de validade. Se em “nano” dose ou não, a questão é que relatórios documentaram que o homem e a mulher usam em média seis e doze produtos cosméticos por dia, respectivamente, nos EUA.1

Embora o contato externo humano com uma substância possa não resultar na penetração através da pele e exposição sistêmica de maneira significativa, os cosméticos produzem exposição local (pele, olhos, nariz, lábios, cabelos e unhas). Muitas dessas substâncias, desreguladoras endócrinas ou não, outrora tidas como seguras, hoje passam por reavaliações científicas, onde fica evidente que a soma de pequenas doses pode ser mais maléfica do que se imaginava.2

Muito importante, devido ao seu uso generalizado, resíduos ativos de produtos cosméticos são continuamente introduzidos no meio ambiente de várias maneiras. Muitos desses produtos químicos são bioativos e caracterizam-se por sua potencial capacidade de bioacumulação e persistência ambiental, representando um grande risco para a saúde de todos os ecossistemas, incluindo os seres humanos e futuras gerações.

Disruptores endócrinos

A saúde humana e da vida selvagem depende da capacidade de reprodução e desenvolvimento normal. Isso não é possível sem um sistema endócrino saudável. Os desreguladores ou disruptores endócrinos são poluentes químicos que imitam, bloqueiam ou alteram as ações dos hormônios normais. Eles incluem ftalatos, bisfenol A, perclorato, vários pesticidas, como os ortofosfatos, retardadores de chama bromados e dioxinas.

No entanto, identificá-los entre todos os produtos químicos usados e liberados em todo o mundo é um grande desafio, e é provável que atualmente estejamos avaliando apenas a ponta do iceberg. Somando-se muito à complexidade e ao número de produtos químicos em nosso ambiente, estão os subprodutos desconhecidos ou não intencionais que são formados durante a fabricação de produtos químicos, durante os processos de combustão e por meio de transformações ambientais.

Esses produtos químicos são fabricados em volumes de milhares de toneladas por ano e são amplamente usados em produtos de consumo diário, como sabonetes, xampus, perfumes, plásticos e embalagens.

Além de tóxicos ao desenvolvimento e cancerígenos, entre as evidências preocupantes que levam aos disruptores endócrinos, está a alta incidência e as tendências crescentes de muitos distúrbios endócrinos; observações de efeitos relacionados ao sistema endócrino em populações de animais selvagens; e a identificação de produtos químicos com desregulação endócrina associados vinculados a resultados de doenças em estudos de laboratório.

Exposições deles no útero, mesmo em doses extremamente baixas, durante o desenvolvimento inicial, podem levar a deficiências permanentes na função orgânica e aumento do risco de doenças. Exposições pré-natais têm sido associadas a comportamentos autistas em crianças e a anomalias dos órgãos reprodutivos em meninos.3

Muitas doenças e transtornos relacionados ao sistema endócrino são relatados:4

  • Grandes proporções (até 40%) de homens jovens em alguns países possuem sêmen de baixa qualidade, o que reduz sua capacidade de gerar crianças.
  • A incidência de malformações genitais, como testículos não descendentes (criptorquidias) e malformações penianas (hipospádia), em bebês do sexo masculino, aumentaram com o tempo ou se estabilizaram em taxas negativamente altas.
  • A incidência de resultados adversos da gravidez, como nascimento prematuro e baixo peso ao nascer, aumentou em muitos países.
  • Os distúrbios neurocomportamentais associados à disfunção da tireoide afetam uma alta proporção de crianças em alguns países e aumentaram nas últimas décadas.
  • As taxas globais de cânceres relacionados ao endócrino (mama, endométrio, ovário, próstata, testículo e tireoide) têm aumentado nos últimos 40-50 anos.
  • Há uma tendência de início precoce do desenvolvimento da mama em meninas em todos os países onde isso foi estudado, o que assinala um fator de risco para o câncer de mama.
  • A prevalência de obesidade e diabetes tipo 2 aumentou dramaticamente em todo o mundo nos últimos 40 anos. A OMS estima que 1,5 bilhão de adultos em todo o mundo estão com sobrepeso ou obesos e que o número de pessoas com diabetes tipo 2 mais que dobrou (de 153 milhões para 347 milhões) entre 1980 e 2008.

Observa-se que a maioria dos estudos foca nos receptores de estrogênio, androgênio e tireoide e suas vias mecanísticas. No entanto, existem outros mecanismos de ação dos disruptores endócrinos, especialmente aqueles envolvendo o receptor de aril hidrocarboneto (AhR) que regula a expressão de vários genes, incluindo os membros da família do gene citocromo P450 (CYP) -1 e a glutationa S-transferase M, que medeia muitas das respostas a produtos químicos tóxicos ambientais.5

Está claro que os toxicologistas precisam reconsiderar como estudam as exposições a produtos químicos, especialmente aquelas silenciosas, em baixas doses, que ocorrem durante a gestação. Considerando-se que essas substâncias podem estar presentes ao mesmo tempo em diferentes produtos diários, o trabalho de segurança de uso traz implicações para o monitoramento do meio ambiente como um todo.

Ambiente e mutações epigenéticas

Por muitas décadas, estudos epidemiológicos e experimentais relacionaram os riscos de fenótipos (características morfológicas e fisiológicas) adversos a uma ampla gama de fatores ambientais. Como as mutações epigenéticas são pequenas, potencialmente cumulativas e podem se desenvolver com o tempo, pode ser difícil estabelecer as relações de causa-efeito entre fatores ambientais, mudanças epigenéticas/riscos de fenótipos e doenças. Contudo, já temos várias associações relacionadas, como a da desnutrição durante a preconcepção, no útero ou infantil com um risco aumentado de desenvolvimento de várias doenças de início na idade adulta, incluindo distúrbios psiquiátricos, diabetes tipo 2 e obesidade.6,7

A maioria dos fatores ambientais e tóxicos não tem a capacidade de alterar a sequência do DNA ou promover mutações genéticas diretamente. No entanto, muitos deles podem promover fenótipos anormais ou aumentar o risco de doenças. As exposições no início da vida durante janelas críticas de desenvolvimento podem ser um dos aspectos mais importantes desse processo. Mas, mesmo na idade adulta, os mesmos processos epigenéticos conduzem a proliferação, diferenciação, função e adaptação celular. Portanto, todos estão suscetíveis, inclusive as gerações seguintes.

Foi provado que produtos químicos podem alterar as marcas epigenéticas e que alterações epigenéticas iguais ou semelhantes podem ser encontradas em pacientes com a doença em questão ou em tecidos doentes. Várias doenças de início na idade adulta foram associadas a alterações epigenéticas anormais, incluindo câncer, diabetes e condições neurológicas, renais, cardíacas e respiratórias; e os processos epigenéticos desempenham um papel fundamental no início da puberdade, cujas alterações também podem aumentar o risco de algumas dessas doenças de início na idade adulta.8,9

Esses impactos ambientais sobre o fenótipo e o risco de doenças muitas vezes não são mediados diretamente por meio de mecanismos genéticos clássicos, mesmo ao longo de muitas gerações. Em vez disso, os mecanismos epigenéticos que podem afetar inclusive o fenótipo de uma geração para a próxima são importantes, incluindo a metilação do DNA, modificações de histonas, RNAs não codificantes e estrutura da cromatina. As exposições ambientais que influenciam diretamente esses processos epigenéticos podem variar de nutrição, temperatura e estresse a um grande número de tóxicos ambientais.8,9

Hereditariedade transgeracional epigenética

Estudos evidenciando a influência de substâncias tóxicas, nutrição anormal e estresse sobre a epigenética apontam para diagnósticos médicos potencialmente novos. Mesmo que essa influência não se manifeste de forma clara ou direta no momento presente de um indivíduo, exposições ambientais ancestrais podem também promover a herança transgeracional epigenética de doença e variação fenotípica. Essa forma não genética de herança foi demonstrada em uma variedade de espécies, incluindo plantas, moscas, vermes, peixes, roedores, porcos e humanos.10,11

Segundo a evidência, não apenas o ambiente dos seus bisavós está influenciando a sua saúde para melhor ou para pior, mas os produtos químicos aos quais eles foram expostos podem ter deixado uma impressão digital na sua epigenética.

A maioria das exposições ambientais resulta em ações diretas sobre as células somáticas de tecidos específicos durante as janelas críticas de desenvolvimento, por exemplo, para afetar o número de cardiomiócitos ou néfrons que afetam o risco posterior dos indivíduos expostos à doença de início adulto. Embora esses efeitos nas células somáticas possam ter consequências dramáticas para o indivíduo, no pensamento clássico eles não têm a capacidade de passar esse fenótipo transgeracionalmente: isso é conhecido como barreira de Weissman, que sugere que apenas a linhagem germinativa pode transmitir informações genéticas entre gerações. Portanto, alterações nas células germinativas são necessárias para transmitir informações moleculares para a próxima geração.8

Mais recentemente, estudos que mostram a capacidade de exposições ambientais em alterar a epigenética da linha germinativa revelaram o potencial de promover um fenótipo transgeracional. Essa transmissão hereditária de fenótipos induzidos pelo ambiente é de particular interesse, pois pode transmitir o risco de doença entre gerações na ausência de exposições ambientais contínuas.8,11

Ingredientes a ser evitados

  • 1,4 dioxano
  • Cloreto de benzalcônio (BAC)
  • Metais pesados como o acetato de chumbo ou outros compostos de chumbo, mercúrio, cádmio, níquel e alumínio
  • Benzofenonas (benzofenona, 17 benzofenona-1, benzofenona-3 também conhecida como oxibenzona
  • BHT (hidroxitolueno butilado), BHA (butilado hidroxianisol), tolueno
  • Bisfenol
  • Butoxietanol
  • Corantes de alcatrão de carvão (P-fenilenodiamina)
  • Derivados de petroquímico (p.ex., surfactantes)
  • EDTA (ácido etilenodiaminotetracético)
  • Etanolaminas (DEA- dietanolamina / TEA-trietanolamina / MEA-monoetanolamina)
  • Formaldeídos (metilenoglicol / metanodiol / formaldeído) e conservantes de liberação de formaldeído (DMDM, hidantoína, diazolidinil ureia, imidazolidinil ureia, metenamina, quaternium-15 e hidroximetilglicinato de sódio)
  • Fragrâncias ou perfumes
  • Ftalatos
  • Fosfato de trifelina
  • Octinoxato
  • Octocrileno
  • Microplásticos
  • Parabenos (isoproilparabeno, isobutilparabeno, fenilparabeno, benzilparabeno, pentilparabeno, propilparabeno e butilparabeno)
  • PEG (polietilenoglicol)
  • Silicones (polidimetilsiloxano, aminopropil fenil trimeticona, ciclopentasiloxano, dimeticonol, polímero cruzado de dimeticona, ciclometicona, dimeticona, amodimeticona)
  • Lauril sulfato de sódio e lauril sulfato de sódio (SLS e SLES)
  • Microesferas de polietinelo, acrilatos de estireno ou estireno
  • Polímeros sintéticos
  • Triclosan e triclocarban

Exemplos da lista de “ingredientes a ser evitados”:

Fragrâncias
Muitas fontes de disruptores endócrinos não são conhecidas devido à falta de declarações de constituintes químicos em produtos, materiais e mercadorias, como é o caso das fragrâncias. O termo “fragrância”, frequentemente mencionado na lista de ingredientes da maioria de produtos cosméticos e domésticos, refere-se a uma mistura de compostos que produz uma variedade de odores subjetivamente agradáveis. A informação limitada atualmente disponível sobre a segurança de seus compostos e taxas de exposição humana é devida à ambiguidade, já que os fabricantes não são obrigados a entrar em detalhes sobre os ingredientes que usam em suas fragrâncias, uma vez que são classificados como um “segredo comercial”.12

Existe por volta de 3000 químicos de fragrâncias disponíveis, e um só perfume pode conter de 10 a 300 deles. Um estudo de 2003 observou que cerca de 60% do uso de fragrâncias está em sabonetes, amaciantes de roupas, produtos de limpeza e detergentes, e os 40% restantes em cosméticos, produtos de higiene e perfumaria. Vários problemas de saúde estão associados à exposição a compostos de fragrâncias: patologias na pele, sistema respiratório, patologias neurológicas e sistêmicas são alguns exemplos. Depois dos metais, as fragrâncias são consideradas a segunda maior causa de dermatite de contato alérgica. Estudos recentes vêm comprovando as vias de perturbação do eixo endócrino-imunológico-neural desses produtos químicos.12-15

A maioria dos compostos incluídos nas fragrâncias pertence a uma das três famílias: ftalatos, almíscares sintéticos e “sensibilizantes” – um grupo onde alguns ftalatos e almíscares sintéticos que atuam como odores fixadores e difusores (p.ex., galaxolide e tonalide) também podem ser encontrados. Esses compostos persistentes se acumulam no meio ambiente e na vida selvagem, servindo, assim, também como fonte de exposição secundária em humanos (além da exposição direta após a aplicação).

Sete alérgenos de fragrâncias foram detectados em águas residuais de duas estações de tratamento de água na Espanha, quatro das quais em águas residuais após dois tratamentos, afetando também a cadeia alimentar. Entre outros locais, várias concentrações de almíscares sintéticos também foram encontradas em rios e lagos no Japão, Alemanha, República Tcheca, Michigan (EUA), o mar Báltico e o mar do Norte. Isso mostra a persistência de tais compostos, também chamados de poluentes orgânicos permanentes (POPs), e a atual ineficácia das estações de tratamento de águas residuais públicas, além da ausência de sistemas de filtração de águas residenciais.12,16-18

(Bickers DR, et al. 2003)

Metais pesados
Qualquer elemento metálico com densidade relativamente alta, além de ser tóxico quando em baixas concentrações, são considerados “metais pesados”. A ingestão ou contato por metais pesados é algo que se deve evitar, mas às vezes a exposição pode ser devido a algo tão simples como beber água devido à tubulação de chumbo, p.ex. Os cosméticos, entretanto, geralmente não são considerados quando se pensa em metais pesados. Atualmente, chumbo, níquel, cádmio e mercúrio estão entre os encontrados em cosméticos.

Citando somente o batom, a agência americana FDA não possui regulamentos que regem o nível de contaminantes tóxicos ou perigosos. Em um estudo, descobriu-se que 61% dos batons testados continham 0,65 ppm de chumbo. Na água, a FDA não permite mais de 0,005 ppm. Entre outros, a exposição a metais pesados e toxinas em pós faciais e xampus podem causar danos à pele e aos folículos capilares.2,19,20

Microplásticos
Atualmente, os microplásticos (MPs) parecem estar em todos os lugares. Definidos como partículas com menos de 5 mm de tamanho, eles não derivam apenas da fragmentação de peças maiores, mas também são produzidos nessas dimensões para usos comerciais.

A presença de pigmentos em MPs é explicada pelo amplo uso desses compostos para colorir não só produtos plásticos, mas também tintas e revestimentos. Por exemplo, o pigmento amarelo óxido de hidróxido de ferro é usado para a coloração de polímeros (plásticos e borracha) e em uma ampla variedade de cosméticos, como cremes e bases; ftalocianina de cobre e ftalocianina são usados para a coloração de materiais plásticos (cloreto de polivinil, polietilenos de baixa e de alta densidades, polipropileno, polietileno tereftalato), e para tintas de pintura a dedo muito usadas pelas crianças; o pigmento violantrone é usado especialmente para tingimento de têxteis (algodão/poliéster), produtos de revestimento, adesivos e fragrâncias; o pigmento azul Ultramarine é aplicado principalmente em cosméticos, por exemplo, para formulações de sabonete, batom, rímel, sombra para os olhos e outros produtos de maquiagem.

Não se sabe como os MPs chegam à corrente sanguínea e se vêm do sistema respiratório ou gastrointestinal, mas sabemos que o nível de exposição humana e animal é significativo, sua presença pode afetar a microbiota intestinal, e que eles são cada vez mais reconhecidos como contaminantes globais onipresentes.21-23

Recém-publicado em Environment International, um estudo lançou uma nova luz sobre o nível de exposição humana a MPs e micropartículas em geral. Devido ao papel crucial da placenta no apoio ao desenvolvimento do feto e em atuar como uma interface entre ele e o ambiente externo, a presença de partículas exógenas e potencialmente prejudiciais (de plástico) é uma questão de grande preocupação. Possíveis consequências nos resultados da gestação e do feto são os efeitos transgeracionais do plastificante no metabolismo e na reprodução. No estudo, os autores coletaram a primeira evidência de MPs na placenta de gestantes, nomeando um novo termo: “plasticenta”. Todos eles eram pigmentados; três foram identificados como polipropileno tingido de polímero termoplástico, enquanto para os outros nove foi possível identificar apenas os pigmentos, todos utilizados para revestimentos artificiais, tintas, adesivos, emplastros, tintas a dedo, produtos de polímeros, de higiene pessoal e cosméticos.24

Muitos estudos experimentais relataram efeitos adversos em baixas doses de BPA, e estudos recentes incluem seus efeitos adversos para a saúde do coração. Dentre eles, um estudo epidemiológico e meta-análise recém-publicado em Science of Total Environment, que usou dados de pesquisa nacional americana de 2003 a 2016, ao constatar a riqueza de dados que relacionam um dos constituintes dos MPs, o bisfenol A (BPA), com a disfunção reprodutiva, diabetes tipo 2 e obesidade, focou a investigação sobre a relação com a doença cardiovascular (DCV). Em resumo, de 11.857 participantes, 1.299 (11,0%) tinham DCV (angina pectoris: 319,2,6%; doença cardíaca coronária: 510, 4,3%; ataque cardíaco: 518, 4,4%; insuficiência cardíaca: 384, 3,3%; acidente vascular cerebral: 431, 3,6%). A concentração média de BPA foi de 1,60 ng/mL e o BPA ajustado para creatinina na urina foi de 1,59 ng/mg. Além disso, 10.338 participantes (87,2%) tiveram uma concentração de BPA acima do limite de detecção. As pessoas com DCV eram mais velhas, fumavam mais, tinham maior IMC, bem como maior prevalência de diabetes, hipertensão e dislipidemia. Os participantes com DCV apresentaram maior ln-BPA do que aqueles sem DCV.25

Um achado positivo de viabilidade de redução da carga de BPA veio de um estudo piloto publicado no Journal of Women’s Health (2017) que testou a redução dos níveis de BPA em vinte e quatro mulheres. As participantes do grupo intervenção receberam cosméticos, produtos de higiene e recipientes livres de BPA para uso durante o estudo. Em somente 3 semanas, essas mulheres diminuíram significativamente o BPA urinário médio ajustado pela creatinina em -0,71 ng/m, enquanto as mulheres no controle aumentaram o BPA urinário em 0,32 ng/mL (p = 0,04). Além disso, as mulheres do grupo intervenção perderam peso (- 0,28 +-0,44 kg), enquanto as mulheres do grupo controle ganharam peso (+1,65 +-0,74 kg) (p = 0,03). Esse é um importante achado desde que estudos anteriores mostraram que as mulheres têm concentrações mais altas desse desregulador endócrino.26

Nanopartículas
A Cooperação Internacional sobre Regulamentação de Cosméticos define um nanomaterial em cosméticos como um ingrediente insolúvel, manufaturado intencionalmente com uma ou mais dimensões que variam de 1 nm a 100 nm na formulação final. Além disso, o nanomaterial deve ser suficientemente estável e persistente em meio biológico para permitir potenciais interações com biossistemas.

Um grande número de materiais em nanoescala com propriedades físico-químicas exclusivas estão sendo usados atualmente nas formulações de cosméticos ou recomendados para uso futuro como nanossistemas ou novos nanocarreadores para encapsular ingredientes ativos para sua entrega eficiente através das barreiras da pele com recursos notáveis, como melhor estabilidade, especificidade do local, excelente eficiência de encapsulação, ação prolongada, penetração na pele aprimorada e alta capacidade de carregamento de medicamentos. No entanto, as pesquisas em nanotoxicologia levantam preocupações sobre o uso excessivo de nanopartículas em cosméticos, já que, como elas podem penetrar na pele, isso pode resultar em problemas de saúde, em especial quando a barreira da pele se encontra frágil.27-31

Parabenos
Os parabenos são uma classe de produtos químicos amplamente empregados como conservantes em produtos farmacêuticos e cosméticos devido às suas atividades antimicrobianas. Os cosméticos e produtos de cuidados pessoais, como perfumes, loções hidratantes e protetores solares, são um dos maiores contribuidores para a exposição desse químico ou seus precursores.16,32

Por muito tempo, foi ensinado que os parabenos apresentam toxicidade insignificante com um perfil de segurança excelente. No entanto, as apreensões mais graves foram recentemente despertadas por causa da atividade de desregulação endócrina in vitro e in vivo dos parabenos.33-38

Na Europa, mesmo com o seu uso atualmente limitado em produtos de higiene pessoal e cosméticos, eles ainda são amplamente utilizados devido ao seu baixo preço, toxicidade marginal e pronunciada atividade inibitória contra bactérias, fungos e leveduras.39

Estudo recém-publicado em Environmental Health concluiu que a exposição de crianças/adolescentes (6-17 anos) a parabenos foi associada a concentrações reduzidas de hormônios reprodutivos circulantes. A maioria das 382 meninas (92%) tinha pelo menos um parabeno detectado na urina. Meninas com concentrações mais altas de parabenos urinários tiveram concentrações séricas significativamente mais baixas de estradiol, LH e FSH, mas não de progesterona.40

Cloreto de benzalcônio
O cloreto de benzalcônio (BAC), também conhecido como composto de amônio quaternário, pertence a uma família catiônica de detergente e conservante surfactante. É um dos conservantes mais amplamente usados em produtos cosméticos, utensílios domésticos, produtos farmacêuticos, produtos de higiene pessoal (enxaguatórios bucais, desinfectantes de mãos, xampus, condicionadores e sabonetes), de limpeza (detergentes e amaciantes de roupas) e também usado como desinfetante de superfície.39

Como o BAC é o ingrediente mais amplamente utilizado como conservante em soluções oftálmicas, muitos estudos se concentraram nessa área de atuação, com achados de maiores chances de distúrbios oculares (periféricos ou não), incluindo coceira, irritação, ardência, queimação, sensação de corpo estranho, vermelhidão, visão turva e sensível à luz, falha da cirurgia de glaucoma, blefarite, lesão e irritação da córnea e dano intranasal das membranas mucosas.39

Específico aos cosméticos, foi mostrado que produtos com alta concentração de BAC têm alta potência para induzir neurotoxicidade severa mediada por ROS em animais, que leva à apoptose em estágios posteriores. A indução de danos ao DNA mediada por BAC foi relatada inclusive em organismos marinhos Ceriodaphnia dubia e Daphnia magna, que são organismos amplamente usados ​​para estudar a genotoxicidade.39

Ftalatos
Ftalatos e metabólitos de ftalatos são encontrados via várias fontes, incluindo ar, medicamentos, alimentos, plásticos, água e cosméticos. A Academia Americana de Pediatras publicou um artigo afirmando que bebês expostos a produtos de higiene infantil, especificamente xampus, loções e talco, mostraram níveis aumentados desse grupo químico na urina. 41

Historicamente, os ftalatos primários usados em produtos cosméticos são dibutilftalato (DBP), usado como plastificante em produtos como esmaltes de unhas (tornando-os menos quebradiços); dimetilftalato (DMP), usado em sprays para cabelo (para moderar a rigidez e formar uma película flexível no cabelo); e dietilftalato (DEP), usado como solvente e fixador em fragrâncias.

De acordo com a última pesquisa da FDA sobre cosméticos, conduzida em 2010, o uso de DBP e DMP foi reduzido, e o DEP continua comumente usado em cosméticos. Proibidos na Europa, seu uso é proibido somente de maneira parcial no Brasil, e raramente o rótulo dos produtos traz a descrição “ftalato”, sendo mais comum encontrar o composto pelos seus nomes específicos, os quais são desconhecidos do público leigo.41,42

Interação: disruptores endócrinos e microbiomas

Centenas de estudos publicados abordam o efeito dos disruptores endócrinos na composição do microbioma e vice-versa, da relação da microbiota intestinal com a reprodução, diabetes, obesidade, síndrome metabólica, imunidade, transtornos mentais/cerebrais e, de maneira semelhante, sua relação com os disruptores endócrinos.

Por exemplo, a conversa cruzada entre o sistema imunológico e os tecidos metabólicos foi bem explorada e agora é aceito que a disfunção imune aumenta o risco de vários distúrbios metabólicos, incluindo diabetes e obesidade. Disruptores endócrinos e outras substâncias tóxicas afetam a imunidade inata e adquirida. Nossa exposição onipresente a eles agrava ainda mais o risco de desenvolver doenças metabólicas.43

Acredita-se que o microbioma intestinal funcione como um órgão endócrino autônomo, participando das regulações endócrinas e neuroendócrinas. Geralmente os disruptores endócrinos podem (co)causar disbiose.44

A conversa cruzada entre o microbioma da pele e o do intestino, que está envolvida na indução da alergia alimentar mediada por IgE, ainda não é completamente compreendida. Há muito negligenciados em comparação com o microbioma intestinal, os microrganismos da pele estão começando a revelar seus segredos sobre saúde e doença. Enquanto os pesquisadores do intestino presumem que as amostras de fezes integram a atividade microbiana em todo o trato intestinal, o microbioma da pele varia de acordo com o local da pele, nível de higiene e condições ambientais, tornando mais difícil derivar regras gerais sobre – bem como ligações para – doenças.45,46

No desenvolvimento da dermatite atópica e alergia, duas hipóteses foram populares nas últimas décadas. Primeiro, a “hipótese de dentro para fora” foi desenvolvida, em que o microbioma intestinal e o sistema imune são responsáveis pela diminuição da função de barreira da pele, levando à dermatite atópica e alergia. Mais tarde, a “hipótese de fora para dentro” tornou-se mais dominante, em que a disfunção da barreira cutânea foi vista como um impulsionador do desenvolvimento da dermatite atópica, o que por sua vez leva à ativação do sistema imune, resultando em uma barreira cutânea ainda mais reduzida e afetada.46

Terapias baseadas no microbioma da pele vêm sendo testadas em ensaios clínicos de fases 1 e 2 através do uso de coquetel de phages, Lactobacillus plantarum, C. acnes, etc. Compreende-se agora que o ecossistema da pele educa o desenvolvimento do sistema imune, sendo importante na inflamação e defesa contra patógenos.

Nesse novo aprendizado, as diretrizes regulatórias formam um grande desafio internacional. Nem um único produto terapêutico direcionado ao microbioma intestinal ou cutâneo obteve aprovação regulamentar, mas cosméticos baseados em microbioma para a pele já estão disponíveis. Assim, empresas estão buscando encontrar um equilíbrio entre o enaltecimento da beleza e o melhoramento da saúde através do uso de cosméticos. Microbiomas saudáveis parecem exigir a eliminação de substâncias invasivas e a presença de ingredientes bioinspirados, probióticos, posbióticos e prebióticos.45

Toxicologia evolutiva, variação e diversidade genética

A variação genética contribui para a doença. O número de genes funcionais no genoma humano varia entre os indivíduos, talvez em até 10%, por causa de duplicações e deleções em grande escala, pequenas mutações de perda de função, substituições missenses prejudiciais, e outras formas de variação genética.

Ainda em fase inicial, alguns pesquisadores vêm investigando os efeitos da contaminação química no longo prazo sobre a genética populacional. O estudo da toxicologia evolutiva avalia a possível redução da população pelos efeitos de mutações somáticas e hereditárias, bem como por modos não genéticos de toxicidade como o uso de disruptores endócrinos. Processos estocásticos em pequenas populações, aumento da carga de mutação e o fenômeno de fusão mutacional são fatores combinantes que causam redução de aptidões, reduzindo populações.

Embora o dano original causado pelos contaminantes químicos seja no nível molecular, há efeitos emergentes no nível das populações, como a perda da diversidade genética, que não são previsíveis com base apenas no conhecimento do mecanismo de toxicidade desses contaminantes químicos.

Ao controlar a ancestralidade genética, observa-se que a poluição do ar impacta a expressão gênica e as vias que afetam as características cardiometabólicas e respiratórias. Favé et al. (2018) demonstraram como o ambiente local afeta diretamente os fenótipos de risco de doenças e que a variação genética, incluindo variantes menos comuns, pode modular a resposta do indivíduo aos desafios ambientais.47-49

(Bickham J, et al. 2000)

Questões de segurança de uso

Como definir uma segurança de uso de ingredientes com potencial tóxico quando vários deles se mostram presentes em diferentes produtos de (co)uso diário? Essa é uma complexa questão toxicológica.

Por exemplo, se o BAC é visto como um irritante cutâneo e ocular em concentrações superiores a 0,1%, qual seria o raciocínio de segurança toxicológica quando se sabe que esse ingrediente está presente em múltiplos produtos de uso comum, diariamente. Ou seja, um mesmo indivíduo pode estar entrando em contato com o BAC aqui e ali sob a forma de xampu e condicionador, sabonete facial, batom, amaciante de roupa, produto de limpeza de superfícies, pesticidas usados na agricultura (0,1 a 0,5%), creme vaginal e/ou géis antimicrobianos para as mãos.50

Ademais, até o momento, os estudos de segurança de uso ou toxicológicos são executados analisando um ingrediente específico, por vez. Raramente os seus efeitos toxicológicos são analisados quando combinados com outros ingredientes na mesma fórmula nem sobre a miscelânea de substâncias potencialmente tóxicas entre diversos produtos simultâneos.

Portanto, muito ainda precisa ser melhorado na área de segurança de uso, inclusive entre as agências reguladoras. Dentre outras questões, muitas agências exigem que os cosméticos sejam seguros, mas não especificam como a exposição à inalação deve ser avaliada. Outra, uma substância tóxica pode estar banida para uso em cosméticos em vários países, mas liberada em outros. Num mundo global, o fator fiscalização nessa área, já historicamente considerado fraco, atualmente parece precisar urgentemente encontrar soluções do impacto sofrido pela mudança comportamental de compra digital de produtos de variadas origens, internacionais ou não.

Conscientização da circularidade: mudança essencial para a sustentabilidade da vida saudável

Todos os sistemas vivos e não vivos, incluindo os seres humanos, estão interconectados e mutuamente interdependentes. Uma variedade de perspectivas, como o uso diário de variadas substâncias com potencial tóxico parece exigir do ser humano a conscientização de uma visão circular e sistemática da vida.

O relatório da comissão Lancet sobre poluição e saúde (Landrigan et al., 2018) afirma que mais de 140.000 novos produtos químicos e pesticidas foram sintetizados desde 1950 e que os 5.000 produzidos em maiores quantidades tornaram-se amplamente dispersos no meio ambiente, com ampla exposição humana associada.

Menos da metade deles foi testada quanto à segurança ou toxicidade, enquanto a avaliação rigorosa de novos produtos químicos antes de serem colocados no mercado ocorreu apenas em alguns países de alta renda. E muitos deles, prematuramente vistos como seguros por vários pesquisadores, hoje passam por revisão frente a incidência de casos ou efeitos não pensados com consequência negativa.3

Isso resultou em um conhecimento limitado da natureza e extensão dos seus efeitos na saúde e no meio ambiente, embora algumas evidências tenham surgido nos últimos anos. Consequentemente, Landrigan et al. concluem que a contribuição da poluição química para a carga global de doenças é quase certamente subestimada.51

A importância na confiabilidade da marca

Um empacotamento bonito, um marketing de impacto, uma textura macia, uma fragrância subjetivamente prazerosa e/ou um valor de custo baixo de um cosmético geralmente influenciam a escolha de um produto. No entanto, a origem do produto ou confiabilidade da marca são um dos pontos essenciais a serem considerados, especialmente frente à abundância de oferta em vários canais digitais e físicos.

Ocorrências de ingredientes indevidos e não listados na lista de ingredientes são possivelmente comuns. Os asbestos, por exemplo, ainda são detectados em sombra para os olhos, pós compactos e talcos. Um estudo de 2020 revelou a presença de amianto em 3 dos 21 cosméticos à base de pó testados. Os pesquisadores afirmam que os cosméticos à base de talco ou pós podem ser negligenciados e difíceis de caracterizar como fonte de exposição ao amianto, um conhecido carcinógeno. No mesmo ano, a FDA fez uma análise da situação e, das amostras testadas, 43 foram negativas e 9 foram positivas para amianto.51,52

Quanto às diferenças de concentrações declaradas e atualmente presentes nas fórmulas, um estudo analisou a presença de mercúrio, hidroquinona e propionato de clobetasol de 93 sabonetes e 98 cremes clareadores, comprados em mercados de grandes cidades na África Ocidental Subsaariana e em pequenas lojas étnicas no Canadá. No total, 68-84% de todos os cremes e 7,5-65% de todos os sabonetes excediam as diretrizes regulamentares para pelo menos um ingrediente ativo, principalmente para o mercúrio e a hidroquinona.53

Conclusão

Nas últimas décadas, compostos sintéticos potencialmente tóxicos que afetam, entre outros, o sistema endócrino tornaram-se componentes onipresentes dos produtos de higiene pessoal e cosméticos. Um estilo de vida carregado de toxinas corre paralelamente às taxas sem precedentes de muitas doenças e transtornos relacionados ao sistema endócrino.

Apesar do aumento de evidências e revelações da relação causa-efeito, a maioria das populações vulneráveis não tem conhecimento ou ainda não percebe as substâncias tóxicas como venenos lentos em “doses muito pequenas”. Portanto, os pesquisadores precisam validar ainda mais a toxicidade desses compostos para um amplo aumento da conscientização sobre os riscos à saúde. Essa informação precisa chegar com mais força aos administradores públicos de maneira geral, em especial, às agências reguladoras.

Por outro lado, atualmente, uma parcela de pacientes começa a perceber a seriedade desse tópico e está mais aberto para fazer mudanças em suas escolhas diárias de consumo em comparação com uma década atrás. Como que em uma “defesa ofensiva”, ele trabalha para a minimização da carga tóxica não somente para a sua saúde direta, mas também como contribuição para a proteção dos recursos naturais.

Observa-se, porém, uma maior necessidade de diálogo entre médicos, farmacêuticos, químicos e nutricionistas para melhores buscas de soluções, ações e atualizações. Opções de produtos cosméticos com ingredientes menos invasivos ou persistentes, mas também eficientes, vêm sendo lançados no mercado e estão mais acessíveis. Um grande apoio pode vir através de boas farmácias de manipulação que também estão aptas a fornecer formulações de ponta, sem o uso de substâncias danosas.

Além do estudo piloto publicado no Journal of Women’s Health supracitado, temos outros estudos mostrando que a redução da carga tóxica é possível sem sacrifícios. Publicado no International Journal of Hygiene and Environmental Health (2020), um estudo observou que, entre 2009 e 2017, em homens e jovens dinamarqueses, ocorreu uma redução natural na excreção urinária de ftalatos, substitutos do ftalato, bisfenol e outras substâncias policloradas e fenólicas que interferem com a saúde geral. Isso significa que em certos países a conscientização da necessidade de mudança comportamental/ambiental vem alterando legislações e o comportamento das próprias indústrias. É um importante começo.26,54

Se todos estamos interconectados em um vasto sistema circular, para nos sustentarmos com ótima saúde neste planeta, devemos sustentar a teia da vida que nos sustenta. Nesse contexto, os ingredientes encontrados nos cosméticos merecem total atenção dos médicos, inclusive, em suas próprias vidas.

(Fytianos et al; 2020)

1- Chen X, et al. Toxicity of cosmetic preservatives on human ocular surface and adnexal cells. Exp. Eye Res. 2018

2- Aldayel OA, et al. Heavy Metals Concentration in Facial Cosmetics. Natural products chemistry & research; 2018. Doi:10.4172/2475-7675.1000303Corpus

3- Landrigan PJ, et al. The Lancet Commission on pollution and health. The Lancet; 2018. Doi:10.1016/S0140-6736(17)32345-0

4- Bergman A, et al. The impact of endocrine disruption a consensus statement on the state of the Science. Environmental Health Perspectives;

5- Encarnação T, et al. Endocrine disrupting chemicals: Impact on human health, wildlife and the environment. Science Progress; 2019. Doi:10.1177/0036850419826802

6- Lumey LH, et al. Prenatal famine and adult health. Review Annu Rev Public Health; 2011. Doi:10.1146/annurev-publhealth-031210-101230

7- Pembrey M, et al. Human transgenerational responses to early-life experience: potential impact on development, health and biomedical research. Review J Med Genet; 2014. Doi:10.1136/jmedgenet-2014-102577

8- Hanson MA; Skinner MK. Developmental origins of epigenetic transgenerational inheritance. Environ Epigenet; 2016. Doi:10.1093/eep/dvw002

9- Baccarelli A; Bollati V. Epigenetics and environmental chemicals. Curr Opin Pediatr; 2009

10- Nilsson EE, et al. Environmentally induced epigenetic transgenerational inheritance of disease. Environ Epigenet. 2018. Doi:10.1093/eep/dvy016

11- Anway MD, et al. Endocrine Disruptor Vinclozolin Induced Epigenetic Transgenerational Adult-Onset Disease. Endocrinology; 2006. Doi:10.1210/en.2006-0640

12- Pinkas A, et al. Neurotoxicity of fragrance compounds: A review. Environmental Research; 2017. Doi:10.1016/j.envres.2017.06.035

13- Bickers DR, et al. The safety assessment of fragrance materials. Regulatory Toxicology and Pharmacology; 2003. Doi:10.1016/s0273-2300(03)00003-5

14- Cuesta L, et al. Fragrance contact allergy: a 4-year retrospective study. Contact Dermatitis; 2010

15- Patel S. Fragrance compounds: The wolves in sheep’s clothings. Medical Hipothesis; 2017

16- Nassan FL, et al. Personal Care Product Use in Men and Urinary Concentrations of Select Phthalate Metabolites and Parabens: Results from the Environment And Reproductive Health (EARTH) Study. Environmental Health Perspectives; 2017. Doi:10.1289/EHP1374Cited by:5

17- Ebele AJ, et al. Pharmaceuticals and personal care products (PPCPs) in the freshwater aquatic environment. Emerging Contaminants; 2017. Doi:10.1016/j.emcon.2016.12.004

18- de Melo ED, et al. Toxicity identification evaluation of cosmetics industry wastewater. Journal of Hazardous Materials; 2013

19- Gbetoh MH; Amyot M. Mercury, hydroquinone and clobetasol propionate in skin lightening products in West Africa and Canada. Environmental Research; 2016. Doi:10.1016/j.envres.2016.06.030

20- “Hidden Toxins in Everyday Cosmetics.” Disponível em https://digitalcommons.bard.edu/senproj_s2019/152/ Acessado em 03/03/2021

21- Ross PS, et al. Pervasive distribution of polyester fibres in the Arctic Ocean is driven by Atlantic inputs. Nature Communications; 2021. Doi:10.1038/s41467-020-20347-1

22- Lu L, et al, Interaction between microplastics and microorganism as well as gut microbiota: A consideration on environmental animal and human health. Science of The Total Environment; 2019. Doi:10.1016/j.scitotenv.2019.02.380

23- Mason SA, et al. Synthetic Polymer Contamination in Bottled Water. Front Chem; 2018. Doi:10.3389/fchem.2018.00407

24- Ragusa A, et al. Plasticenta: First evidence of microplastics in human placenta. Environment International; 2021. Doi:10.1016/j.envint.2020.106274

25- Moon S, et al. Effects of bisphenol A on cardiovascular disease: An epidemiological study using National Health and Nutrition Examination Survey 2003–2016 and meta-analysis. Science of Total Environment; 2021

26- Hagobian T, et al. Randomized Intervention Trial to Decrease Bisphenol A Urine Concentrations in Women: Pilot Study. Journal of Women’s Health; 2017. Doi:10.1089/jwh.2016.5746

27- Lu P-J, et al. Analysis of titanium dioxide and zinc oxide nanoparticles in cosmetics. Journal of Food and Drug Analysis; 2015. Doi:10.1016/j.jfda.2015.02.009

28- Gajbhiye S; Sakharwade S. Silver Nanoparticles in Cosmetics. Journal of Cosmetics, Dermatological Sciences and Applications; 2016. Doi:10.4236/jcdsa.2016.61007

29- Bilal M; Iqbal HMN. New Insights on Unique Features and Role of Nanostructured Materials in Cosmetics. Cosmetics; 2020. Doi:10.3390/cosmetics7020024

30- Lee C-C, et al. Exposure to ZnO/TiO2 Nanoparticles Affects Health Outcomes in Cosmetics Salesclerks. Int. J. Environ. Res. Public Health; 2020. Doi:10.3390/ijerph17176088

31- Fytianos G, et al. Nanomateriais em cosméticos: atualizações recentes. Nanomaterials; 2020. Doi:10.3390/nano10050979

32- Sakhi AK, et al. Levels, variability and determinants of environmental phenols in pairs of Norwegian mothers and children. Environment International; 2018. Doi:10.1016/j.envint.2018.02.037

33- Nohynek GJ, et al. Endocrine disruption: Fact or urban legend? Toxicology Letters; 2013. Doi:10.1016/j.toxlet.2013.10.022

34- Darbre PD; Harvey PW. Paraben esters: review of recent studies of endocrine toxicity, absorption, esterase and human exposure, and discussion of potential human health risks. Journal of Applied Toxicology; 2008. Doi:10.1002/jat.1358

35- Routledge JE, et al. Some Alkyl Hydroxy Benzoate Preservatives (Parabens) Are Estrogenic. Toxicology and Applied Pharmacology; 1998. Doi:10.1006/taap.1998.8544

36- Bledzka D, et al. Parabens. From environmental studies to human health. Environment International; 2014. Doi:10.1016/j.envint.2014.02.007

37- Darbre PD. Environmental oestrogens, cosmetics and breast cancer. Best Practice & Research Clinical Endocrinology & Metabolism; 2006. Doi:10.1016/j.beem.2005.09.007

38- Pan S, et al. Parabens and Human Epidermal Growth Factor Receptor Ligand Cross-Talk in Breast Cancer Cells. Environmental Health Perspectives; 2016. Doi:10.1289/ehp.1409200Cited by:3

39- Bilal M, et al. The Beast of Beauty: Environmental and Health Concerns of Toxic Components in Cosmetics. Cosmetics; 2020. Doi:10.3390/cosmetics7010013

40- Guth M, et al. Concentrations of urinary parabens and reproductive hormones in girls 6–17 years living in Canada. Environmental Health; 2021. Doi:10.1016/j.ijheh.2020.113633

41- Sathyanarayana S, et al. Baby Care Products: Possible Sources of Infant Phthalate Exposure. American Academy of Pediatrics; 2008

42- “Phthalates.” Disponível em https://www.fda.gov/cosmetics/cosmetic-ingredients/phthalates#fda Acessado em 05/03/2020

43- Bansal A, et al. Immune System: An Emerging Player in Mediating Effects of Endocrine Disruptors on Metabolic Health. Endocrinology. 2018. Doi:10.1210/en.2017-00882

44- Hampl R; Stárka L. Endocrine Disruptors and Gut Microbiome Interactions. Physiol. Res; 2020. Doi:10.33549/physiolres.934513

45- Schmidt C. Out of your skin. Nat Biotechnol; 2020. Doi:10.1038/s41587-020-0473-8

46- Splunter MV, et al. Mechanisms Underlying the Skin-Gut Cross Talk in the Development of IgE-Mediated Food Allergy. Nutrients; 2020. Doi:10.3390/nu12123830

47- Bickham J, et al. Effects of chemical contaminants on genetic diversity in natural populations: Implications for biomonitoring and ecotoxicology. Mutation Research/Fundamental and Molecular Mechanisms of Mutagenesis; 2000. Doi:10.1016/S1383-5742(00)00004-1

48- Seo H, et al. Deleterious genetic variants in ciliopathy genes increase risk of ritodrine-induced cardiac and pulmonary side effects. BMC Medical Genomics; 2018. Doi:10.1186/s12920-018-0323-4

49- Favé M-J, et al. Gene-by-environment interactions in urban populations modulate risk phenotypes. Nat Commun; 2018. Doi:10.1038/s41467-018-03202-2

50- “Amanterquat.” Disponível em http://www.centraldasessencias.com.br/product/cloreto-de-benzalconeo/ Acessado em 05/03/2020

51- “Circular Economy and Health.” Disponível em https://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0004/374917/Circular-Economy_EN_WHO_web_august-2018.pdf Acessado em 5/03/21

52- Stoiber T, et al. Asbestos Contamination in Talc-Based Cosmetics: An Invisible Cancer Risk. Environmental Health Insights; 2020

52- “FDA In Brief: FDA Releases Final Report of Talc-containing Cosmetic Products Tested for Asbestos.” Disponível em https://www.fda.gov/news-events/fda-brief/fda-brief-fda-releases-final-report-talc-containing-cosmetic-products-tested-asbestos Acessado em 05/03/2020

53- Honoré M; Amyot GM. Mercury, hydroquinone and clobetasol propionate in skin lightening products in West Africa and Canada. Environmental Research; 2016

54- Frederiksen H, et al. Changes in urinary excretion of phthalates, phthalate substitutes, bisphenols and other polychlorinated and phenolic substances in young Danish men; 2009–2017. International Journal of Hygiene and Environmental Health; 2020. Doi:10.1016/j.ijheh.2019.10.002