O poder da cúrcuma na inflamação

Muitos alimentos e nutrientes se mostram promissores para a prevenção e o tratamento adjacente de doenças crônicas não transmissíveis e quadros inflamatórios, entre eles a cúrcuma, uma raiz muito utilizada como tempero na culinária indiana e como tratamento alternativo em muitas culturas.

Esse fato se deve principalmente à presença da curcumina, um polifenol com propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, antiangiogênicas e antimutagênicas. Entenda mais sobre seus mecanismos de ação.

Inflamação como estado crônico

A inflamação é uma resposta do nosso corpo a alguma infecção, lesão tecidual, estresse ou patógeno. Vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular, recrutamento de leucócitos e aumento na produção de substâncias inflamatórias são reações normais que acontecem nessa situação.

Entretanto, quando esses efeitos duram mais tempo do que o considerado normal, a inflamação pode se tornar crônica e levar a danos teciduais, inibição do processo de cicatrização, fibrose e desequilíbrio da homeostase corporal.

A inflamação de baixo grau tem sido reconhecida como um estado crônico no qual substâncias inflamatórias estão levemente aumentadas mesmo quando na ausência de infecção ou lesão tecidual.

Envelhecimento, obesidade e estilo de vida não saudável são apontadas como prováveis causas. Essa condição tem sido associada a um maior risco de Síndrome Metabólica (SM) e de outras complicações.

Ação anti-inflamatória da curcumina

A curcumina é capaz de modular substâncias que desempenham papel na patogênese de muitas doenças, como citocinas, enzimas, fatores de transcrição e de crescimento, receptores, moléculas metastáticas e apoptóticas. Alguns exemplos são as interleucinas (IL) 1, 2, 6, 8 e 12, amplamente conhecidas pelas propriedades inflamatórias, e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), além de enzimas como óxido nítrico sintase, ciclo-oxigenase-2 e fator nuclear kappa beta (NF-κB).

Ainda, esse polifenol é capaz de reduzir a peroxidação lipídica, uma vez que normaliza os níveis de enzimas antioxidantes, como a superóxido dismutase e a glutationa peroxidase. Também parece diminuir a neuroinflamação por meio da interação com substâncias que inibem a quebra do triptofano no sistema nervoso central, um aminoácido essencial para a síntese de serotonina e para a saúde neural.

Por fim, a curcumina aumenta a eliminação de Espécies Reativas de Oxigênio (EROs) - também conhecidos como radicais livres - pela diminuição do malondialdeído, um marcador do estresse oxidativo, e regula negativamente adipocinas como leptina e resistina, por exemplo.

Síndrome Metabólica

Síndrome Metabólica (SM) é um conjunto de condições ou de doenças cuja base é a resistência à insulina. A presença de 3 dessas 5 condições caracteriza a SM: obesidade central, hipertensão arterial sistêmica (HAS), glicemia elevada ou diabetes mellitus (DM), hipertrigliceridemia e/ou colesterol HDL baixo.

Pelo fato de estar associada a um maior risco de doenças cardiovasculares (DCV), morbidade e mortalidade, é importante o tratamento dos componentes da SM.

Nesse cenário, o uso da cúrcuma é amplamente pesquisado como fator de proteção ou tratamento adjuvante. Nos tópicos seguintes, você encontra um resumo dos principais achados científicos.

Diabetes

A curcumina se mostra eficaz na diminuição da glicose sanguínea e da resistência à insulina. Um ensaio clínico randomizado com pré-diabéticos observou que, após a suplementação de curcumina por 9 meses, 16,4% dos indivíduos do grupo placebo foram diagnosticados com DM2, enquanto nenhum indivíduo do grupo intervenção desenvolveu a doença. Ainda, no grupo estudado houve melhora na função das células beta e maior índice HOMA-β. Maiores níveis de adiponectina e menor resistência à insulina também foram percebidos nesse grupo.

Uma pesquisa verificou que a curcumina diminui a produção hepática de glicose, a supressão da resposta inflamatória causada pela hiperglicemia, o aumento da captação de glicose pelas células e a ativação da via AMPK. Dessa forma, a substância seria capaz de diminuir a glicose sanguínea e a resistência à insulina.

Estudos feitos em seres humanos também verificaram redução significativa da glicemia de jejum, da resistência à insulina e de HbA1c em pacientes com DM2, além da redução dos níveis de triglicerídeos séricos (TG) e ácidos graxos livres e aumento da lipase lipoproteica após a suplementação de curcumina por 3 meses.

Dislipidemia

A proteção contra o infarto do miocárdio e da aterosclerose parece ser um dos efeitos da curcumina devido às suas propriedades anti inflamatórias e antioxidantes.

Em um estudo, a suplementação de curcumina por 12 semanas em pacientes diabéticos se mostrou eficiente na redução do colesterol total (CT), do LDL e TG, condição que favorece a prevenção de infarto do miocárdio e aterosclerose.Também há evidências de que os curcuminoides podem reduzir os níveis de proteína-C-reativa (PCR), importante preditor de DCV.

Além disso, em indivíduos com doença arterial coronariana, os níveis de TG, LDL e lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL) diminuíram consideravelmente naqueles que estavam ingerindo curcumina. Outro estudo observou que a substância aumentou os níveis de glutationa, superóxido dismutase e catalase, enquanto diminuiu os níveis elevados de malondialdeído.

O aumento nas concentrações de HDL também foi observado após a suplementação de nanocurcumina, substância idêntica à curcumina que tem se mostrado mais eficiente em algumas pesquisas. Por fim, a redução dos níveis de PCR e IL-6 mostram os efeitos anti-inflamatórios dessa substância.

Hipertensão e Doenças Cardiovasculares

A inflamação desempenha um papel importante no desenvolvimento de DCV e a curcumina tem mostrado prevenir e tratar essas condições. Diminuição do estresse oxidativo, melhora na vasodilatação, regulação da pressão arterial (PA) e proteção do endotélio, estão entre as ações observadas na literatura. A suplementação com curcumina parece prevenir a disfunção cardiovascular e seus fatores de risco (aterosclerose, aneurisma aórtico, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral).

Nesse sentido, alguns estudos encontraram diminuição na pressão arterial sistólica (PAS) após a suplementação com nano-curcumina. Além disso, a suplementação pode aumentar a adiponectina circulante em pacientes com SM, reduzindo o risco de doenças cardiovasculares.

Obesidade

Afirma-se que a suplementação de curcumina diminui os níveis de leptina no tecido adiposo branco, aumenta a expressão da adiponectina na obesidade relacionada à inflamação e, consequentemente, há uma diminuição da atividade do NF-κB, redução na expressão de citocinas inflamatórias e efeito positivo na obesidade.

Estudos mostram melhora na perda de peso, diminuição da gordura corporal e maior redução da circunferência da cintura, do quadril e do IMC com o uso da curcumina. Além disso, melhora nos níveis de PCR de adultos mais velhos com sobrepeso também foi verificada em um ensaio clínico randomizado, sugerindo que esse nutriente pode reduzir a inflamação sistêmica de baixo grau associada ao envelhecimento e à obesidade.

Doenças Intestinais

Estudos mostram que a curcumina é útil na prevenção e no tratamento da doença inflamatória intestinal (DII). A substância inibe a atividade de proteínas que desempenham papel na inflamação e na colite. Além disso, ao suprimir a atividade do NF-κB, a curcumina pode ser eficaz para a recuperação da inflamação do intestino. Seus efeitos positivos na sintomatologia da doença de Crohn e colite ulcerativa também já foram observados em um estudo piloto.

Câncer

O desenvolvimento de tumores pode ser suprimido ao inibir a via de sinalização das células cancerígenas. A curcumina é capaz de modular a liberação de citocinas, enzimas, fatores de transcrição e de crescimento, receptores, moléculas metastáticas e apoptóticas, conferindo efeitos anticancerígenos e efeitos citotóxicos a essa substância. A mesma tem se mostrado eficaz em muitas fases do desenvolvimento do câncer, suprimindo a transformação, o início, o desenvolvimento e a invasão do tumor, a angiogênese e a metástase.

Suas ações já foram observadas em câncer gástrico, de cólon, de cabeça e pescoço, de mama e de pulmão, além de efeitos preventivos no câncer de fígado induzido pelo tabaco. Uma revisão recente pontuou que a curcumina pode ser um tratamento adjuvante interessante em pacientes com câncer em tratamento quimioterápico. Ainda, o uso de cremes contendo curcumina também se mostrou eficaz na prevenção e no tratamento de dermatites causadas pelas sessões de radioterapia.

Doenças de Pele

Desde a antiguidade, a curcumina é utilizada no tratamento de doenças de pele, sendo amplamente conhecida em algumas culturas por auxiliar em infecções oculares, picadas de insetos, queimaduras e acne. Atualmente, a substância vem sendo estudada em várias outras condições, como dermatite e psoríase, por exemplo. Uma vez que muitas doenças de pele comuns estão ligadas à desregulação da resposta inflamatória, a curcumina demonstrou reduzir a regulação negativa de alvos inflamatórios, como a lipoxigenase e ciclo-oxigenase-2, além de inibir citocinas inflamatórias (TNF-α, IL-1, IL-2 e IL-6).

Em animais, a curcumina reduziu a inflamação semelhante à psoríase. Em humanos, o uso tópico de extrato de cúrcuma pareceu melhorar a extensão, espessura, descamação e vermelhidão das lesões. A combinação da suplementação oral e creme contendo curcumina melhorou as lesões de acne. Além disso, a melhora em sintomas de dermatite atópica, como eritema, descamação, espessamento cutâneo e coceira, também foi observada após o uso tópico de cremes contendo cúrcuma longa.

Por fim, a aplicação de gel contendo cúrcuma, alecrim e centella asiática, por 4 semanas, mostrou melhora significativa dos sinais de fotoenvelhecimento em mulheres: firmeza da pele e melhora na avaliação clínica e na autoavaliação da pele foram observadas.

Alergias e Asma

A alergia e a asma são doenças inflamatórias decorrentes de citocinas. Em alguns países asiáticos, a cúrcuma é usada há muito tempo para tratar essas condições. Pesquisas nesse sentido já são realizadas há décadas, e há indícios de que a planta suprime a liberação de histamina, tendo efeitos antialérgicos. Ainda, tem capacidade de dilatar as vias aéreas e aumentar a capacidade antioxidante, tendo efeitos positivos na asma. Foi determinado que a curcumina causa regulação negativa de linfócitos que produzem anticorpos IgE e citocinas, possibilitando, assim, uma resposta inflamatória menos intensa nesses indivíduos.

Doenças Articulares

As propriedades antioxidantes da curcumina também auxiliam em doenças articulares, como a osteoartrite (OA). Sua ação parece inibir a resposta inflamatória de fosfolipases, inibindo a produção de fatores inflamatórios como IL1-B, IL-6, IL-8 e TNF-α, evitando a degradação da matriz extracelular e da cartilagem. O extrato da cúrcuma longa é capaz de aumentar a sobrevida dos condrócitos.

Como resultado, uma redução nos níveis de dor são observadas nas pesquisas. Ainda, em comparação aos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), a substância parece ter efeitos similares aos medicamentos nos níveis de dor, com menor incidência de efeitos colaterais.

Dosagem, efeitos colaterais e biodisponibilidade

A curcumina possui uma biodisponibilidade limitada no nosso corpo devido à sua absorção insuficiente, velocidade elevada de metabolismo e rápida excreção pelo organismo. Essa característica limitaria significativamente os efeitos terapêuticos da mesma. Análogos estruturais são mais biodisponíveis e eficazes, como a nanocurcumina, a curcumina lipossomal e o uso de complexos de fosfolipídeos.

Tecnologias como o sistema Micro-sr também são utilizadas: evidências indicam que a curcumina Micro-SR tem absorção até 10 vezes maior do que a curcumina tradicional. Além disso, a utilização da piperina com a curcumina também pareceu aumentar sua biodisponibilidade.

De acordo com a Food and Drug Administration (FDA), a curcumina é considerada segura e não tem efeito tóxico. O valor de ingestão diária adequada (IDA) é de 0 a 3mg/kg/dia. Estudos observaram que dosagens entre 4 e 8g/dia parecem seguras. Em indivíduos saudáveis, a ingestão de até 12g/dia não mostrou efeitos prejudiciais.

Prováveis mecanismos de ação dos curcuminoides em diversas condições

Após trazer as principais propriedades da cúrcuma mostradas pelas pesquisas científicas atuais, conheça os produtos da Essential Nutrition que contêm em sua formulação esse nutriente tão poderoso.

Nossas formulações utilizam o extrato de cúrcuma longa que, em associação com a piperina presente na pimenta-preta e o óleo de coco, tem sua biodisponibilidade aumentada. Além disso, as combinações de ingredientes e nutrientes presentes nos nossos suplementos potencializam ainda mais sua atuação. Confira!

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