L-glutathion: um antioxidante poderoso em formulação injetável
O que é o L-glutathion?
O L-glutathion, também conhecido como glutationa (GSH), é um antioxidante natural presente em praticamente todas as células humanas. Esse composto é amplamente reconhecido na medicina ortomolecular por suas propriedades antioxidantes, desintoxicantes, imunomoduladoras e reguladoras de funções como proliferação celular, apoptose e produção de citocinas.
Por apresentar alguns desafios ao ser administrado pela via oral, como as barreiras físicas e enzimáticas do trato gastrointestinal, a suplementação de L-glutathion pela via parenteral tem se tornado uma abordagem popular na medicina. Por ser mais biodisponível, essa via garante maior eficácia terapêutica.
L-glutathion e sua relevância no organismo humano
O L-glutathion é um tripeptídeo composto por glicina, ácido glutâmico e cisteína, encontrado em concentrações significativas em diversos tecidos. Sua principal atividade biológica está relacionada ao grupo tiol da cisteína, que atua como o principal defensor contra o estresse oxidativo no organismo. Ele age neutralizando espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (ROS e RNS) por meio de processos de oxidação. Além disso, é um cofator essencial para várias enzimas envolvidas na proteção e manutenção celular.
Dentro da célula, o L-glutathion está presente em compartimentos como o núcleo, onde desempenha papéis críticos na regulação do ciclo celular, especialmente nas fases G1 e S, contribuindo para a homeostase redox e a expressão gênica. No entanto, suas funções não se restringem ao interior das células; fora delas, o L-glutathion pode ser metabolizado pela enzima γ-L-glutamil transpeptidase, que transforma parte da molécula em glutamato ou transfere o grupo γ-glutamil para outros compostos.
Suas principais funções incluem:
• Síntese e reparo de DNA;
• Síntese proteica e de prostaglandinas;
• Transporte de aminoácidos;
• Ativação enzimática.
Estudos indicam que níveis adequados de L-glutathion são fundamentais para prevenir condições crônicas relacionadas à idade, como neurodegeneração e disfunções mitocondriais, além de ser promissor no suporte ao tratamento de condições oncológicas.
Apresentações disponíveis
L-glutathion 100mg/2mL: EV / IM / SC / ID
L-glutathion 600mg/5mL: EV / IM
L-glutathion 1g/10mL: exclusivo EV
Principais indicações do L-glutathion
Imunidade
A manutenção de níveis adequados de L-glutathion é essencial para assegurar um equilíbrio redox, que sustenta o funcionamento eficiente de linfócitos e macrófagos. Estudos indicam que a suplementação desse antioxidante ajusta o estado redox celular, resultando em uma resposta imunológica mais eficaz, especialmente contra patógenos como o Mycobacterium tuberculosis.
A deficiência de glutationa está diretamente associada à disfunção imunológica, aumentando a vulnerabilidade a diversas patologias. Indivíduos com HIV, por exemplo, frequentemente apresentam níveis baixos de glutationa, o que contribui para a progressão da doença e maior susceptibilidade a infecções.
A suplementação de L-glutathion não apenas fortalece o sistema imunológico como também melhora os níveis de glutationa no corpo, ajudando na recuperação da função imunológica. Esses benefícios reforçam seu potencial como uma estratégia terapêutica adjuvante em condições infecciosas, incentivando novas pesquisas clínicas nesse campo.
Proteção cardiovascular
O L-glutathion desempenha um papel importante na manutenção da saúde cardiovascular. Ele ajuda a equilibrar o ambiente redox intracelular, protegendo o óxido nítrico da inativação. Esse mecanismo é essencial para a dilatação vascular e o controle da pressão arterial, especialmente em pacientes com angina vasoespástica, pois ajuda a regular a reatividade vasomotora.
Polimorfismos genéticos em enzimas relacionadas ao metabolismo da glutationa, como glutationa peroxidase e glutationa S-transferase, estão associados a um maior risco de hipertensão, aterosclerose e outras condições cardiovasculares. Fumantes, por exemplo, apresentam um risco aumentado de doenças coronarianas devido a alterações na glutationa S-transferase, sugerindo que o L-glutathion seja um modulador importante na defesa antioxidante do organismo contra fatores externos que afetam a saúde cardiovascular.
Adjuvante no tratamento de Parkinson
No contexto neurológico, o L-glutathion ajuda a neutralizar espécies reativas de oxigênio e radicais livres no cérebro. Esse efeito protetor contribui para preservar os neurônios dopaminérgicos, que são particularmente vulneráveis ao estresse oxidativo, o que é comum na progressão da doença de Parkinson.
Além disso, o L-glutathion protege as células nervosas contra danos causados por toxinas e contribui para a manutenção de uma função mitocondrial saudável, outro fator comprometido na doença. Estudos mostraram que a administração endovenosa de L-glutathion pode melhorar sintomas motores em pacientes com Parkinson, reforçando seu potencial como um adjuvante terapêutico nessa condição.
Desintoxicação de compostos endógenos e xenobióticos
O L-glutathion e suas enzimas associadas desempenham um papel central na desintoxicação celular. Como um nucleófilo, ou seja, uma molécula rica em elétrons e que tende a “doar” esses elétrons, o L-glutathion reage com moléculas eletrofílicas, transformando compostos potencialmente prejudiciais em substâncias mais solúveis, prontas para excreção pelo corpo.
Esse processo é mediado pelas GSTs (Glutationa S-Transferases), uma superfamília de enzimas de desintoxicação de Fase II. Essas enzimas são classificadas em GSTs citosólicas, mitocondriais e microssomais, de acordo com as suas localizações e propriedades.
Saúde hepática
O L-glutathion desempenha um papel central na defesa antioxidante do fígado em pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Durante os estágios iniciais da esteatose hepática, há um aumento compensatório na produção de L-glutathion. Entretanto, à medida que a condição evolui para formas mais graves, como esteato-hepatite não alcoólica, fibrose ou cirrose, os níveis de glutationa diminuem progressivamente.
Essa redução está associada ao aumento da peroxidação lipídica e ao agravamento do estresse oxidativo, contribuindo para a progressão da doença. Terapias com suplementação de L-glutathion ou seus precursores (como glicina, serina e N-acetilcisteína) têm mostrado eficácia na restauração da homeostase antioxidante, prevenindo o avanço da DHGNA para estágios mais severos.
Fertilidade
Masculina:
A infertilidade masculina está frequentemente associada a alterações na qualidade do esperma, como motilidade reduzida, danos no DNA espermático e alterações morfológicas. O estresse oxidativo é um fator chave, promovendo danos na membrana dos espermatozoides e comprometendo sua funcionalidade.
O L-glutathion atua na proteção contra o estresse oxidativo e na proteção da integridade do esperma. Esse ativo previne a peroxidação lipídica, um processo que danifica a membrana dos espermatozoides, resultando em defeitos na motilidade. O L-glutathion também elimina o superóxido e neutraliza o peróxido de hidrogênio, compostos responsáveis pelo início dos danos oxidativos. Estudos mostram que sua suplementação melhora significativamente a qualidade do esperma, aumentando as taxas de motilidade e fertilização, especialmente em casos de varicocele ou inflamação do trato genital.
Feminina:
No caso das mulheres, o estresse oxidativo é um dos principais responsáveis por condições como endometriose, síndrome dos ovários policísticos e até mesmo falhas na fertilização in vitro. O excesso de ROS pode danificar o DNA dos oócitos, reduzir as chances de fertilização e comprometer o sucesso da implantação do embrião.
O L-glutathion protege os oócitos contra danos oxidativos durante a foliculogênese, promovendo a qualidade dos óvulos e embriões. Estudos demonstram que níveis elevados de glutationa estão correlacionados com melhores taxas de fertilização, sucesso reprodutivo e menor risco de malformações.
Além disso, mulheres mais jovens possuem naturalmente níveis mais elevados de glutationa, o que está correlacionado com a melhor qualidade dos óvulos.
Uniformização da pele
A exposição a poluentes ambientais e à radiação UV contribui para a geração de radicais livres, que prejudicam as células cutâneas, levando a manchas, a rugas e à perda de firmeza. Como um potente antioxidante, o L-glutathion combate os danos causados por essas agressões externas, promovendo uma pele mais uniforme e hidratada.
Vias de administração
Cuidados para uma administração segura
Embora sua administração seja segura, alguns pacientes podem apresentar reações como dor abdominal, disfunção tireoidiana ou erupções cutâneas.
Por isso, é recomendável iniciar o tratamento com doses baixas e aumentá-las gradativamente, monitorando as possíveis reações adversas. Pacientes com sensibilidade química múltipla devem receber doses iniciais baixas na faixa de 100 a 200mg.
Em formulações de 600mg/5mL e 1g/10mL, a administração deve ser isolada, devido à possibilidade de incompatibilidades com outros ativos. Nessas situações, o uso em bolsas de soro fisiológico com gotejamento lento é a abordagem mais indicada.
Conteúdos relacionados
Antioxidants 2022, 11(11), 2100; https://doi.org/10.3390/antiox11112100.Submission received: 7 September 2022 / Revised: 4 October 2022 / Accepted: 19 October 2022 / Published: 25 October 2022
Pedro Diaz Vivancos, Tonja Wolff, Jelena Markovic, Federico V. Pallardó, Christine H. Foyer; A nuclear glutathione cycle within the cell cycle. Biochem J 15 October 2010; 431 (2): 169–178. doi: https://doi.org/10.1042/BJ20100409
Hauser RA, Lyons KE, McClain T, Carter S, Perlmutter D. Randomized, double-blind, pilot evaluation of intravenous glutathione in Parkinson’s disease. Mov Disord. 2009 May 15;24(7):979-83. doi: 10.1002/mds.22401
Wei,Tielan. Oral Delivery of Glutathione: the Antioxidant Function, the Barriers and the Strategies. The University of Auckland. 2022. Disponível em: https://researchspace.auckland.ac.nz/handle/2292/63880. Acesso em 21 de outubro de 2024
Lomaestro BM, Malone M. Glutathione in health and disease: pharmacotherapeutic issues. Ann Pharmacother. 1995 Dec;29(12):1263-73. doi: 10.1177/106002809502901213
Teleanu RI, Chircov C, Grumezescu AM, Volceanov A, Teleanu DM. Antioxidant Therapies for Neuroprotection-A Review. J Clin Med. 2019 Oct 11;8(10):1659. doi: 10.3390/jcm8101659
Lushchak VI. Glutathione homeostasis and functions: potential targets for medical interventions. J Amino Acids. 2012;2012:736837. doi: 10.1155/2012/736837
ZHANG, Hongqiao; FORMAN, Henry Jay. Redox regulation of γ-glutamyl transpeptidase. American Journal of Respiratory Cell and Molecular Biology, v. 41, n. 5, p. 509-515, 2009. DOI: 10.1165/rcmb.2009-0169TR
Allocati N, Masulli M, Di Ilio C, Federici L. Glutathione transferases: substrates, inihibitors and pro-drugs in cancer and neurodegenerative diseases. Oncogenesis. 2018 Jan 24;7(1):8. doi: 10.1038/s41389-017-0025-3
Yu JC, Jiang ZM, Li DM. Glutamine: a precursor of glutathione and its effect on liver. World J Gastroenterol. 1999 Apr;5(2):143-146. doi: 10.3748/wjg.v5.i2.143
Zhou X, Han D, Xu R, Wu H, Qu C, Wang F, Wang X, Zhao Y. Glycine protects against high sucrose and high fat-induced non-alcoholic steatohepatitis in rats. Oncotarget. 2016 Dec 6;7(49):80223-80237. doi: 10.18632/oncotarget.12831
Honda, Y., Kessoku, T., Sumida, Y. et al. Eficácia da glutationa para o tratamento da doença hepática gordurosa não alcoólica: um estudo piloto multicêntrico, aberto, de braço único. BMC Gastroenterol 17 , 96 (2017). https://doi.org/10.1186/s12876-017-0652-3
Adeoye O, Olawumi J, Opeyemi A, Christiania O. Review on the role of glutathione on oxidative stress and infertility. JBRA Assist Reprod. 2018 Mar 1;22(1):61-66. doi: 10.5935/1518-0557.20180003
VAIRETTI, Mariapia; DI PASQUA, Laura Giuseppina; CAGNA, Marta; RICHELMI, Plinio; FERRIGNO, Andrea; BERARDO, Clarissa. Changes in Glutathione Content in Liver Diseases: An Update. Antioxidants, v. 10, n. 3, p. 364, 2021. DOI: https://doi.org/10.3390/antiox10030364
TOLA, EN,. et al. Intracellular Ca2+ and antioxidant values induced positive effect on fertilisation ratio and oocyte quality of granulosa cells in patients undergoing in vitro fertilisation. Reprod Fertil Dev. 2013;25:746–752. DOI: 10.1071/RD12144
KANKOFER, M,. ET AL. Sex- and age-dependent activity of glutathione peroxidase in reproductive organs in pre- and post-pubertal cattle in relation to total antioxidant capacity. Aging Clin Exp Res. 2013;25:365–370. doi: 10.1007/s40520-013-0056-3
LIM,. et al. Glutathione-deficient mice have increased sensitivity to transplacental benzo[a]pyrene-induced premature ovarian failure and ovarian tumorigenesis. Cancer Res. 2013;73:908–917. doi: 10.1158/0008-5472
TSAI-TURTON, M; LUDERER, U. Opposing effects of glutathione depletion and follicle-stimulating hormone on reactive oxygen species and apoptosis in cultured preovulatory rat follicles. Endocrinology. 2006;147:1224–1236. doi: 10.121
HANSEN, JC; DEGUCHI, Y. Selenium and fertility in animals and man--a review. Acta Vet Scand. 1996;37:19–30. doi: 10.1186/BF03548116
LENZI, A,. et al. A placebo-controlled double-blind randomized trial of the use of combined l-carnitine and l-acetyl-carnitine treatment in men with asthenozoospermia. Fertil Steril. 2004;81:1578–1584. doi: 10.1016/j.fertnstert.2003.10.034
Adeoye O, Olawumi J, Opeyemi A, Christiania O. Review on the role of glutathione on oxidative stress and infertility. JBRA Assist Reprod. 2018 Mar 1;22(1):61-66. doi: 10.5935/1518-0557.20180003
Sitohang IBS, Ninditya S. Systemic Glutathione as a Skin-Whitening Agent in Adult. Dermatol Res Pract. 2020 Apr 24;2020:8547960. doi: 10.1155/2020/8547960
LIN, Nicole et al. The role of glutathione in the management of cell-mediated immune responses in individuals with HIV. International Journal of Molecular Sciences, v. 25, n. 5, p. 2952, 2024. DOI: https://doi.org/10.3390/ijms25052952
BHASKAR, A. et al. Measuring glutathione redox potential of HIV-1-infected macrophages. Journal of Biological Chemistry, v. 290, p. 1020–1038, 2015. DOI: https://doi.org/10.1074/jbc.M114.591008
WROBLEWSKA, Joanna,. et al. The Role of Glutathione in Selected Viral Diseases. Antioxidants, v. 12, n. 7, p. 1325, 2023. DOI: https://doi.org/10.3390/antiox12071325
Comentários