A influência da hidratação no funcionamento cerebral

A hidratação eficiente é muito conhecida por otimizar o funcionamento de uma série de órgãos e sistemas do organismo. De uma forma geral, a água participa do transporte de energia, da eliminação de toxinas e do controle da pressão arterial, entre tantas outras funções. Há, ainda, uma área em que o conhecimento sobre a importância da hidratação ainda não é tão difundido.

Com 75% de seu volume composto de água (entre 5 pp e 15 pp a mais que os outros órgãos), o cérebro é altamente impactado por estados ideais ou deficitários de hidratação. Neste Clinical Report reunimos uma série de estudos clínicos e metanálises que avaliam a relação entre hidratação e funções cerebrais. Mas antes, uma pequena recapitulação sobre a importância da hidratação.

A água e o equilíbrio do organismo

A água desempenha um papel crucial nos processos do metabolismo, como regulação da temperatura e manutenção do equilíbrio eletrolítico. É o principal componente de todas as células, incluindo as do sistema nervoso central.

Segundo o Instituto Europeu de Hidratação, perdas de líquidos superiores a 1% do peso corporal podem levar sucessivamente a uma redução no desempenho físico e na capacidade de controlar a temperatura corporal. Com déficits hídricos de 4% ou mais, podem ser observados decréscimos severos de desempenho, bem como dificuldades de concentração, dores de cabeça, irritabilidade e sonolência e aumentos na temperatura corporal e nas frequências respiratórias. A desidratação que causa uma perda de 10% ou mais do peso corporal pode ser fatal.

A desidratação diminui também o volume de sangue, podendo, portanto, reduzir a quantidade de sangue intracerebral. Nesse cenário, há um aumento na osmolaridade do plasma, o que altera o volume do cérebro e leva à retirada de líquido das células, o que pode comprometer seu funcionamento.

Hidratação e desempenho cognitivo

Metanálise realizada por pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia considerou 33 estudos clínicos, que analisaram os efeitos da desidratação superior a 2% no desempenho cognitivo de 413 pessoas. Os autores concluíram que a desidratação não afeta todos os domínios cognitivos igualmente. A coordenação motora e o processamento cognitivo de alta ordem, que envolve atenção e função executiva, são mais suscetíveis ao comprometimento após desidratação. Em comparação, domínios que envolvem processamento mental de ordem inferior, como tempo de reação simples, são menos afetados. Concluíram também que o grau de comprometimento cognitivo está associado à magnitude da desidratação.

Humor

Outro estudo avaliou, além do desempenho cognitivo, a variação de humor em condição de hidratação ideal, desidratação e reidratação. Participaram da pesquisa, realizada pela Universidade de Pequim em 2018, 12 jovens do sexo masculino, com idade entre 18 anos e 25 anos.

Após restrição na hidratação, todos os participantes tiveram efeito negativo no Distúrbio Total do Humor, que é calculado somando as pontuações de tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão e subtraindo a pontuação de vigor. Na média, a reidratação recuperou todos os índices, exceto o de vigor.

ESTADO DE HUMOR

Perfil de estado de humor ReferênciaPeríodo de desidrataçãoPeríodo de reidratação
Tensão3.4 +/- 2.53.0 +/- 3.61.8 +/- 2.7
Raiva0.9 +/- 1.71.1 +/- 1.60.1 +/- 0.3
Fadiga2.6 +/- 2.04.3 +/- 3.82.1 +/- 3.0#
Depressão1.2 +/- 1.62.2 +/- 3.10.9 +/- 1.6
Confusão2.9 +/- 2.22.8 +/- 2.41.6 +/- 1.9
Vigor11.9 +/- 2.5*8.8 +/- 4.59.8 +/- 4.3
Auto-estima8.2 +/- 2.2*5.7 +/- 2.36.5 +/- 2.3
DTM90.9 +/- 8.699.0 +/- 17.090.2 +/- 12.3#

Notas: * tem uma diferença estatística significante entre a referência e o período de desidratação, p < 0.025. # tem uma diferença estatística significante entre período de desidratação e o período de reidratação, p < 0.025.

Outro estudo, realizado pelo mesmo grupo em 2021, contou com 76 participantes, sendo 40 homens e 36 mulheres. No início, todos fizeram um jejum de 12 horas. Durante as 24 horas seguintes, receberam três refeições e não puderam beber água. Eles foram então divididos em quatro grupos, que receberam zero, 200 ml, 500 ml ou 1.000 ml de água. Aspectos do humor foram medidos em três ocasiões: após o jejum, após as três refeições e após a reidratação.

A restrição hídrica por 36 h teve também um impacto negativo no vigor e afeto relacionado à estima. Ainda, as pontuações do teste de memória visual foram prejudicadas, o que indica que a memória episódica (memória de longo prazo) foi prejudicada. Já a suplementação de água melhorou o desempenho cognitivo, incluindo velocidade de processamento e memória de trabalho.

Variações na rotina de hidratação

Ainda com foco nas variações de humor, pesquisadores franceses avaliaram os efeitos do aumento na quantidade de água ingerida por pessoas que habitualmente bebem pequenas quantidades por dia, assim como o impacto da redução na hidratação de quem ingere grandes quantidades frequentemente. Participaram do estudo 30 pessoas que ingerem menos de 1,2 litro de água no dia a dia e 22 pessoas que bebem entre 2l e 4l de água diariamente.

Durante os três dias de intervenção, o grupo que bebe menos passou a ingerir 2,5l de água diariamente, enquanto o outro grupo reduziu a ingestão para 1 litro.

Entre as pessoas que normalmente ingerem pequenas quantidades de água, o aumento do consumo resultou em uma diminuição significativa nos indicadores de fadiga e confusão, além de uma tendência a menor sonolência. No outro grupo, a ingestão restrita de água resultou em diminuição nos índices de contentamento, calma, emoções positivas e vigor.

Erros ao dirigir

Pesquisadores da Universidade de Loughborough, na Inglaterra, constataram que a desidratação, ainda que leve, produz um aumento significativo de pequenos erros de direção. Durante uma condução prolongada e monótona há naturalmente um aumento progressivo no número total de erros do motorista, mas significativamente mais incidentes foram registrados ao longo do teste com motoristas desidratados.

Segundo o estudo, a magnitude da deterioração do desempenho ao volante foi semelhante à observada após a ingestão de bebida alcoólica ou durante a privação de sono.

No experimento, no dia anterior ao teste, 11 homens saudáveis foram instruídos a consumir 2,5 litros de água, enquanto outro grupo, também formado por 11 homens saudáveis, ingeriu 625ml. Todos os participantes eram motoristas experientes. No dia do teste, ambos os grupos receberam o mesmo café da manhã e foram submetidos a 120 minutos de direção. Erros de condução, como desvio de pista ou frenagem tardia, foram registrados durante toda a tarefa de direção, assim como EEG e frequência cardíaca.

Efeitos na memória

A medição do efeito da desidratação na memória foi um dos objetivos de estudo promovido por pesquisadores do Departamento de Psicologia da Universidade de Swansea, no Reino Unido. Foram analisadas as alterações de memória em 101 pessoas, de ambos os sexos, que receberam ou não hidratação durante um período de 4h sob calor de 30oC.

Os testes revelaram que beber água evitou um declínio na memória. Aos 90 min, a sede mediou o efeito na memória, enquanto que aos 180 min, uma maior perda de massa corporal e um aumento na osmolalidade foram associados a uma memória mais fraca. Em ambos os casos, a perda foi maior em indivíduos que não beberam do que naqueles que o fizeram.

Todos esses resultados confirmam a necessidade de chamar a atenção para a importância da ingestão de água e hidratação para o bom funcionamento cerebral. A ingestão de quantidades adequadas de água, assim como de eletrólitos que permitem a hidratação eficiente, deve ser ensinada e estimulada entre os pacientes.

Crianças e idosos, por dependerem de terceiros para se hidratar, estão entre os principais grupos de risco de desidratação. No entanto, com o atual ritmo de vida acelerado, todas as pessoas estão sujeitas à hidratação deficiente e seus efeitos.

Nesse cenário, a Essential Nutrition preparou e disponibiliza o e-book Hidratação e Energia Celular, onde, de forma clara, é explicada a importância da hidratação e são ensinadas técnicas para uma hidratação eficiente. Nesse mesmo sentido, o Hydrolift pode ser indicado aos pacientes como ferramenta saudável para garantir a hidratação eficiente e o bom funcionamento cerebral.

Wittbrodt MT, Millard-Stafford M. Dehydration Impairs Cognitive Performance: A Meta-analysis. Med Sci Sports Exerc. 2018 Nov;50(11):2360-2368. doi: 10.1249/MSS.0000000000001682. PMID: 29933347.

Zhang J, Ma G, Du S, Liu S, Zhang N. Effects of Water Restriction and Supplementation on Cognitive Performances and Mood among Young Adults in Baoding, China: A Randomized Controlled Trial (RCT). Nutrients. 2021 Oct 18;13(10):3645. doi: 10.3390/nu13103645. PMID: 34684650; PMCID: PMC8539979.

Pross N, Demazières A, Girard N, Barnouin R, Metzger D, Klein A, Perrier E, Guelinckx I. Effects of changes in water intake on mood of high and low drinkers. PLoS One. 2014 Apr 11;9(4):e94754. doi: 10.1371/journal.pone.0094754. PMID: 24728141; PMCID: PMC3984246.

Zhang N, Du SM, Zhang JF, Ma GS. Effects of Dehydration and Rehydration on Cognitive Performance and Mood among Male College Students in Cangzhou, China: A Self-Controlled Trial. Int J Environ Res Public Health. 2019 May 29;16(11):1891. doi: 10.3390/ijerph16111891. PMID: 31146326; PMCID: PMC6603652.

Watson P, Whale A, Mears SA, Reyner LA, Maughan RJ. Mild hypohydration increases the frequency of driver errors during a prolonged, monotonous driving task. Physiol Behav. 2015 Aug 1;147:313-8. doi: 10.1016/j.physbeh.2015.04.028. Epub 2015 Apr 16. PMID: 25890276.

Benton D, Jenkins KT, Watkins HT, Young HA. Minor degree of hypohydration adversely influences cognition: a mediator analysis. Am J Clin Nutr. 2016 Sep;104(3):603-12. doi: 10.3945/ajcn.116.132605. Epub 2016 Aug 10. PMID: 27510536.

Benton D, Young HA. Do small differences in hydration status affect mood and mental performance? Nutr Rev. 2015 Sep;73 Suppl 2:83-96. doi: 10.1093/nutrit/nuv045. PMID: 26290294.