Hidroxicloroquina para nebulização

A hidroxicloroquina é um medicamento inicialmente utilizado na profilaxia e tratamento agudo de malária. Posteriormente, foi descoberto que ele atua também como um potente imunomodulador. Passou então a ser utilizado no controle de doenças autoimunes como lúpus e artrite.

Esse medicamento age como antitrombótico e possui efeitos anti-inflamatórios, inibindo a atividade dos lisossomos e a autofagia. Além disso, tem ação inibitória de citocinas, como TNF, IL-1,IL-6, INFα através da inibição dos receptores Toll-Like (TLR) , e também por inibir funções lisossomais dos fagócitos e macrófagos.

Sua aplicação clínica é limitada pelo seu lento metabolismo (demora a fazer efeito), concentração tóxica em alguns órgãos vitais, como coração e olhos, e baixa concentração tecidual em certos órgãos alvos como os pulmões (entre 1 a 2% do que foi absorvido).

Dessa forma, a hidroxicloroquina na apresentação líquida para nebulização proporciona maior concentração nos alvéolos pulmonares, em comparação a forma oral, sendo uma opção para tratamento de condições clínicas relacionadas à inflamação do trato respiratório.

A hipótese terapêutica que utiliza a nebulização de hidroxicloroquina para tratamento da COVID-19, foi publicada em janeiro de 2020 por Klimke e colaboradores. Eles propuseram a dose de 4mg de HCQ para nebulização, inferindo a dose a partir de cálculos de biodisponibilidade. Em junho de 2020, um novo artigo (KAVANAGH et al., 2020) revisou o tema e sugeriu o uso de 20mg de HCQ para nebulização para o Covid.

Em janeiro de 2021, o Dr. Zelenko, médico de Nova York famoso por divulgar o tratamento precoce com hidroxicloroquina, azitromicina e sulfato de zinco, publicou a sua experiência clínica com o uso de doses de 150mg para melhorar rapidamente pacientes com insuficiência respiratória aguda causada pelo Covid.

Seu protocolo utilizou nebulização com a dose de 150mg por 15 minutos. A mesma dose foi repetida nos pacientes que não apresentaram melhora visível do quadro respiratório após a primeira nebulização. Os pacientes foram monitorados com ECG e exames laboratoriais e não apresentaram nenhum efeito colateral, além do gosto amargo na boca.

Os possíveis mecanismos de ação, segurança e resultados obtidos:

Dentre os possíveis mecanismos de ação atribuídos à hidroxicloroquina no tratamento da COVID-19, está a redução na glicosilação de um receptor de superfície celular do vírus, a enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2), hipótese essa observada em estudo in vitro.

Outra possibilidade levantada é a sua ação no sistema imunológico por meio de sinalização celular e regulação de citocinas pró-inflamatórias, reduzindo inflamação e dano tecidual.

O relato de casos do Dr. Zelenko, com rápida melhora em pacientes que estavam prestes a serem entubados, encheu de esperanças os médicos em todo o mundo, que começaram a usar essa forma farmacêutica com surpreendentes relatos de melhoras.

Entretanto, não existem estudos randomizados de eficácia, nem clareza quanto a dose ideal a ser usada nas diversas fases da COVID-19.

Em um estudo realizado com portadores de asma, avaliando a segurança de Hidroxicloroquina, foi utilizada a dose de 5mg a 20mg, via nebulização. No estudo, conduzido com indivíduos de ambos os sexos, não foram relatadas alterações de eletrocardiograma estatisticamente importantes ou clinicamente significativas, e os efeitos colaterais foram leves (dor de cabeça, náuseas), concluindo que a Hidroxicloroquina, via nebulização, apresenta bom perfil de segurança.

Foi relatado pelos participantes do estudo, como efeito transitório, gosto amargo na boca após a utilização da medicação. Novos estudos precisam ser feitos para determinar doses e benefícios a longo prazo de seu uso para o tratamento da asma. Outro importante campo para futuras pesquisas, envolvendo esse medicamento, poderá ser o seu uso em patologias como a Fibrose Pulmonar, Sarcoidose e manifestações pulmonares de doenças autoimunes.