Guia FODMAP: indicações e dicas para implementação da dieta
Apontada como tratamento eficiente para os sintomas da síndrome do intestino irritável, a dieta baixa em FODMAP vem ganhando a atenção de pesquisadores. Diversos estudos vêm indicando importantes reduções nos sintomas que acometem a maioria desses pacientes, como inchaço abdominal e flatulência.
Entre os alimentos que podem desencadear esses sintomas gastrointestinais estão laticínios, leguminosas, vegetais crucíferos, certas frutas e cereais, incluindo trigo. Esses e outros alimentos, que apresentam grande quantidade de carboidratos de cadeia curta, formam o grupo dos FODMAP (oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis, na sigla em inglês).
Estudos demonstram que a exclusão e a eliminação de alguns desses itens alimentares podem levar à melhora desses sintomas. Porém, por ser uma dieta mais restritiva, a dieta baixa em FODMAP pode ser desafiadora para alguns nutricionistas e médicos.
Confira neste texto um resumo do que é, as principais indicações e dicas para implementar uma dieta baixa em FODMAP.
O que são FODMAP?
Os FODMAP são um grupo de carboidratos de cadeia curta, que são digeridos e mal absorvidos no trato gastrointestinal por parte da população. Estudos apontam que o tamanho microscópico, a alta atividade osmótica e a alta fermentação dos FODMAP não absorvidos pelas bactérias do cólon podem causar distensão abdominal, dor abdominal e flatulência.
Além disso, os efeitos dos carboidratos fermentáveis sobre os sintomas gastrointestinais demonstram ser dependentes da dose, com a combinação de diferentes tipos atuando de forma complementar. Estima-se que, em uma dieta ocidental padrão, até 40g/dia de carboidratos de cadeia curta não são completamente absorvidos no intestino delgado e chegam ao cólon.
Tipos de FODMAP
Monossacarídeo – a frutose, uma porção única de carboidrato e um produto digerido da sacarose, é a menor entre todos os outros FODMAP. Essa característica é responsável por sua alta osmolalidade e capacidade de atrair água para o lúmen intestinal. A frutose pode causar diarréia e alteração da motilidade gastrointestinal se ingerida em grandes quantidades. Alimentos com excesso de frutose, em comparação com a glicose, como maçãs e peras, têm potencial para induzir sintomas abdominais em pacientes com SII.
Dissacarídeos – a lactose é um dissacarídeo que é decomposto pela enzima lactase em glicose e galactose. A atividade diminuída ou a ausência de atividade da enzima lactase resulta em falha parcial ou completa da degradação da lactose em glicose e galactose no intestino. Quando a lactose ininterrupta e não absorvida atinge o cólon, as bactérias residentes a usam como substrato para a fermentação. Isso leva à produção de ácidos graxos de cadeia curta, excesso de hidrogênio e metano, o que pode resultar em distensão abdominal, diarréia e flatulência excessiva.
Oligossacarídeos – os oligossacarídeos, os frutanos/fruto-oligossacarídeos (FOS) e os galactanos/galacto-oligossacarídeos (GOS) têm o comprimento de cadeia mais longo entre todos os outros FODMAP. Os fruto-oligossacarídeos são encontrados principalmente no trigo, centeio, cevada e cebola, enquanto os galacto-oligossacarídeos, como a rafinose, são encontrados principalmente em legumes.
Polióis – polióis são álcoois de açúcar, como sorbitol e manitol, ou outros adoçantes, como xilitol, maltitol e isomaltose. Fontes comuns de polióis incluem maçãs, couve-flor, cogumelos, peras e ervilhas. Eles também são usados, como adoçantes, em comprimidos sem açúcar, em gomas de mascar e em balas.
Mecanismo de ação
As razões que contribuem para a má absorção dos FODMAP incluem ausência de enzimas luminais capazes de hidrolisar as ligações glicosídicas presentes em carboidratos complexos e ausência, ou baixa atividade, de enzimas da borda em escova, como lactase e transportador de glicose epitelial-2 (GLUT-2) e transportador de glicose-5 (GLUT-5).
A má absorção e a alta atividade osmolar dos FODMAP levam à extração de fluidos para o intestino delgado e o cólon, o que causa distensão do intestino, resultando em dor abdominal e outros sintomas associados. A fermentação dos FODMAP parcialmente ou não absorvidos é influenciada pela microflora colônica, resultando na produção adicional de gás.
Mecanismo de ação da alta ingestão de FODMAP: A alta ingestão de carboidratos fermentáveis induzem excessiva fermentação colônica e efeitos luminais que podem lesar reversivelmente a barreira mucosa e induzir hipersensibilidade visceral no sistema nervoso entérico.
Indicações para a dieta com baixo FODMAP
A dieta baixa em FODMAP vem demonstrando potencial para integrar o tratamento de diversas doenças ligadas ao intestino, como síndrome do intestino irritável, doenças inflamatórias intestinais não ativas e doença celíaca. Segundo estudo realizado na Faculdade de Medicina Federico II de Nápoles, com 146 pacientes com essas três doenças, a introdução de uma dieta baixa em FODMAP levou a reduções significativas nos sintomas percebidos.
Fig. 1. Análise do escore de gravidade da síndrome do intestino irritável (IBS-SSS). Os valores médios de IBS-SSS são relatados para a população geral e para cada grupo: IBS (Síndrome do intestino Irritável), IBD (Doença inflamatória intestinal) e CD (Doença Celíaca) na inscrição (T0) e após 1 mês (T1) e 3 meses (T3). * Estatisticamente significativo para IBS vs. IBD vs. CD vs. T0 (p <0,001)
Síndrome do Intestino Irritável e FODMAP
Entre as indicações, a mais pesquisada para a prescrição de uma dieta com baixo FODMAP é a síndrome do intestino irritável, uma doença gastrointestinal funcional e crônica. A prevalência de SII é observada em 10– 25% da população e é duas vezes mais comum em mulheres do que em homens.
Os conselhos alimentares tradicionalmente indicados para tratar essa síndrome se limitam a recomendações dietéticas da British Dietetic Association, como limitação de cafeína, álcool, alimentos condimentados, alimentos gordurosos e refrigerantes; fazer refeições de pequena frequência; comer devagar e em paz; e evitar gomas de mascar e adoçantes contendo polióis.
Porém, os potenciais benefícios da dieta baixa em FODMAP para esses pacientes vêm sendo apontados por diversos estudos clínicos randomizados. Um deles, publicado em The Journal of Gastroenterology and Hepatology, demonstrou que a dieta com baixo FODMAP induz melhora mais significativa nos sintomas individuais de SII que a recomendação padrão, particularmente em relação a dor e distensão abdominal, sintomas que ocorrem em 96% dos indivíduos com SII.
Fig. 2. A comparação das mudanças nas pontuações totais de IBS-SSS (escore de gravidade da síndrome do intestino irritável) no grupo de oligo-di monossacáridos e polióis (FODMAP) de baixa fermentação em comparação com o grupo de recomendações dietéticas gerais (GDA).
Uma meta-análise publicada no European Journal of Nutrition, que incluiu 6 ensaios clínicos randomizados e 16 não randomizados, confirmou uma diminuição significativa nos escores de gravidade dos sintomas para dor abdominal, distensão abdominal e sintomas gerais. Segundo esse estudo, a maior diferença na gravidade dos sintomas gastrointestinais gerais ocorre dentro de 7 dias de adesão à dieta baixa em FODMAP.
Doença celíaca e FODMAP
A dieta sem glúten é o tratamento padrão para pacientes com doença celíaca. Embora esse tratamento seja bem sucedido no geral, alguns sintomas abdominais, como flatulência, distensão abdominal, diarreia e dor abdominal podem persistir em alguns pacientes.
A combinação da dieta baixa em FODMAP com a dieta sem glúten foi analisada em estudo clínico randomizado, publicado em Nutrients. Segundo a pesquisa, a adoção combinada ampliou a redução nos principais sintomas abdominais associados à doença celíaca, em comparação à adoção apenas da dieta sem glúten.
Além disso, após 21 dias, a combinação das dietas levou a uma importante redução nos sintomas psicológicos, bem como melhora na percepção da qualidade de vida.
Em outra frente, uma revisão sistemática encontrou evidência de um papel combinado de glúten e FODMAP nos sintomas clínicos de sensibilidade não celíaca ao glúten, com melhora sintomática pela adesão à dieta com baixo FODMAP sozinha ou em combinação com dieta sem glúten.
Como implementar uma dieta baixa em FODMAP
A dieta com baixo FODMAP é uma intervenção em três fases, sendo que todas elas devem ser orientadas e acompanhadas por nutricionista ou médico que tenha bom conhecimento sobre FODMAP.
Um dos desafios para a definição de uma dieta com baixo FODMAP é o acesso a dados precisos sobre a composição dos alimentos. Isso porque o conteúdo de FODMAP varia de acordo com clima, estação, marcas, maturação e método de cozimento dos alimentos.
Uma dica é conferir os dados do FODMAP Friendly Certification Program, uma certificação global que, após exames laboratoriais, chancela produtos e alimentos com baixo teor de carboidratos fermentáveis.
Além disso, como restringe uma ampla variedade de alimentos, a dieta baixa em FODMAP pode levar a carências nutricionais que devem ser acompanhadas. Confira algumas delas:
- Fibras – Devido ao uso restritivo de fontes ricas em fibra, como legumes e muitos vegetais e frutas, a ingestão de fibra dietética diminui com uma dieta baixa em FODMAP. A falta de fibra dietética pode agravar a gravidade da constipação em pacientes com SII;
- Cálcio – Uma dieta pobre em FODMAP com restrição de lactose por mais de 4 semanas pode afetar a ingestão de cálcio na dieta;
- Vitamina D – Embora não seja uma fonte significativa de vitamina D, a restrição de produtos lácteos pode agravar a deficiência dessa vitamina;
- Antioxidantes – A ingestão dietética de antioxidantes naturais como carotenoides, flavonoides e vitamina C também pode ficar comprometida devido à exclusão de vegetais como couve-flor, brócolis, alho e cebola;
- Proteínas – Devido ao uso restrito de laticínios, legumes e leguminosas, a ingestão diária de proteínas pode ficar comprometida, especialmente em vegetarianos.
Para prevenir possíveis carências, os nutricionistas ou médicos devem garantir que a dieta administrada ao paciente seja completamente balanceada em termos de todos os grupos de alimentos, contendo substitutos com baixo FODMAP. Podem também prescrever suplementos nutricionais que forneçam esses nutrientes e tenham indicação de baixa concentração de FODMAP.
Outra dica é o fortalecimento da saúde da barreira intestinal através de um suplemento como o Collagen Gut. Além de certificado pelo FODMAP Friendly Certification Program, o Collagen Gut reúne peptídeos de colágeno, prebióticos, antioxidantes, anti-inflamatórios, imunomoduladores, vitaminas, minerais e outras substâncias envolvidas na formação e reparação das células da parede intestinal. Saiba mais sobre o Collagen Gut.
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