Leucovorina (folinato de cálcio)
50mg/4mL – EV/IM

O que é leucovorina (folinato de cálcio)?

A leucovorina (folinato de cálcio) é um derivado 5-formil do tetrahidrofolato (THF), que pode ser rapidamente convertido em 5-10-metilenotetrahidrofolato (5-10 MTHF) e 5-metiltetrahidrofolato (5-MTHF) sem depender da ação da di-hidrofolato redutase (DHFR).

Esse mecanismo permite que ela seja amplamente utilizada para reduzir os efeitos tóxicos de agentes quimioterápicos que inibem o metabolismo do folato, como o metotrexato, e também atuar como adjuvante no tratamento de outras condições clínicas que exigem a disponibilização eficiente de folatos ativos.

Entenda a importância dos folatos

Os folatos desempenham um papel essencial na manutenção da vida, atuando como componentes e catalisadores em reações bioquímicas fundamentais, especialmente no metabolismo dos nucleotídeos e na síntese e metilação do DNA.

Esses processos dependem do ciclo do folato que está interligado ao ciclo do carbono e ambos são responsáveis pela geração de grupos metil e pela regulação da metilação, modificações epigenéticas e imprinting.

A atuação combinada desses ciclos metabólicos é crucial para a divisão celular, o desenvolvimento tecidual e outros processos relacionados à homeostase. Qualquer desequilíbrio enzimático nesses ciclos pode levar a consequências metabólicas adversas.

Apresentação disponível

Leucovorina (folinato de cálcio) 50mg/4mL

Indicações terapêuticas

A leucovorina (folinato de cálcio) é indicada em contextos clínicos que exigem uma restauração rápida e abrangente dos folatos intracelulares, como no “resgate” pós-quimioterapia com metotrexato, protegendo as células normais dos efeitos tóxicos do fármaco.

Além disso, por fornecer diretamente formas metabolicamente ativas de folato, sem depender da ação da di-hidrofolato redutase, a leucovorina é utilizada no tratamento e na prevenção de anemias megaloblásticas causadas por deficiência de folato, bem como no suporte a múltiplas vias metabólicas folato-dependentes, contribuindo para o equilíbrio geral do metabolismo.

Estudos também indicam que a leucovorina (folinato de cálcio) apresenta potencial adjuvante na cicatrização, promovendo reepitelização, angiogênese e deposição de colágeno, especialmente em feridas de difícil regeneração. No entanto, seu uso requer cautela em áreas estéticas devido ao possível aumento do risco de cicatrizes hipertróficas.

Sua capacidade de aumentar os níveis de folato no cérebro também a torna uma alternativa terapêutica interessante para o tratamento da deficiência cerebral de folato (DCF), uma síndrome neurológica genética que impede a reposição de folato com ácido fólico.

Mecanismo de ação

A leucovorina (folinato de cálcio) se liga ao receptor clássico de folato (FOLR1) e é transportada para o interior das células por meio do transportador de soluto SLC19A1. Uma vez internalizada, seu metabolismo leva à geração de tetrahidrofolato (THF) e 5,10-metilenotetrahidrofolato (5,10-MTHF), intermediários essenciais para a síntese de timidilato — uma etapa crítica na produção de DNA. Quando há deficiência nessa via, a incapacidade de gerar timidilato pode causar danos ao DNA, um fator que tem sido associado a processos carcinogênicos.

Além disso, a biossíntese de novas purinas depende de duas transformilases que utilizam formil-THF como cofator, tornando indispensável o suprimento adequado de folatos ativos. Nesse cenário, é fundamental diferenciar as três principais formas de suplementação de folato:

Leucovorina (folinato de cálcio)

Derivado do THF (5-formil-THF) que não necessita da di-hidrofolato redutase (DHFR) para ser convertido em cofatores funcionais do ciclo do folato. Fornece rapidamente intermediários para a síntese de nucleotídeos e evita o acúmulo de ácido fólico não metabolizado (UMFA).

Ácido fólico

Forma sintética e oxidada do folato, amplamente utilizada em alimentos fortificados. Porém depende da conversão sequencial pela DHFR até atingir formas ativas, o que pode representar um gargalo metabólico, especialmente em indivíduos com polimorfismos no gene MTHFR.

Metiltetraidrofolato (5-MTHF)

É a forma ativa e dispensa múltiplas etapas enzimáticas. Ideal para indivíduos com baixa atividade de MTHFR, garantindo a produção de metionina a partir da homocisteína. No entanto, sua ação está mais voltada à remetilação da homocisteína do que ao fornecimento abrangente de cofatores para a síntese de nucleotídeos.

 

Sabendo disso, podemos concluir que o folinato de cálcio oferece uma vantagem terapêutica significativa ao disponibilizar diretamente formas ativas de folato envolvidas em diversas reações essenciais, sem depender da conversão pela DHFR. Isso o torna útil tanto na mitigação dos efeitos tóxicos de fármacos antifolato quanto no suporte metabólico em casos de variações genéticas que comprometem o ciclo do folato.

Vias de administração

Endovenosa (EV)

Recomenda-se diluir a ampola do produto em 250mL de soro fisiológico 0,9% e aplicar pela via endovenosa, com gotejamento inicial lento (45-60min/bolsa), avaliando individualmente cada paciente.

Intramuscular (IM)

Recomenda-se a administração associada a uma ampola de lidocaína 2% ou 1% para maior conforto do paciente. O conteúdo de cada ampola deve ser aspirado em conjunto em uma seringa e aplicado lentamente no músculo ventroglúteo de forma profunda.

IMPORTANTE

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