Folinato de cálcio
10mg/1mL – EV/IM

O que é folinato de cálcio?

O folinato de cálcio (leucovorina) é um derivado 5-formil do tetraidrofolato (THF), que pode ser rapidamente convertido em 5-10-metilenotetraidrofolato (5-10 MTHF) e 5-metiltetraidrofolato (5-MTHF) sem depender da ação da di-hidrofolato redutase (DHFR).

Esse mecanismo permite que ele seja amplamente utilizado para reduzir os efeitos tóxicos de agentes quimioterápicos que inibem o metabolismo do folato, como o metotrexato, bem como adjuvante no tratamento de outras condições clínicas que exigem a disponibilização eficiente de folatos ativos.

Entenda a importância dos folatos

Os folatos desempenham um papel essencial na manutenção da vida, atuando como componentes e catalisadores em reações bioquímicas fundamentais, especialmente no metabolismo dos nucleotídeos e na síntese e metilação do DNA.

Esses processos dependem do ciclo do folato que está interligado ao ciclo do carbono e ambos são responsáveis pela geração de grupos metil e pela regulação da metilação, modificações epigenéticas e imprinting.

A atuação combinada desses ciclos metabólicos é crucial para a divisão celular, o desenvolvimento tecidual e outros processos relacionados à homeostase. Qualquer desequilíbrio enzimático nesses ciclos pode levar a consequências metabólicas adversas.

Apresentação disponível

Folinato de cálcio 10mg/1mL

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Indicações terapêuticas

O folinato de cálcio é indicado em contextos clínicos que exigem uma restauração rápida e abrangente dos folatos intracelulares, como no “resgate” pós-quimioterapia com metotrexato, protegendo as células normais dos efeitos tóxicos do fármaco.

Além disso, por fornecer diretamente formas metabolicamente ativas de folato, sem depender da ação da di-hidrofolato redutase, é utilizado no tratamento e na prevenção de anemias megaloblásticas causadas por deficiência de folato, bem como no suporte a múltiplas vias metabólicas folato-dependentes, contribuindo para o equilíbrio geral do metabolismo.

Estudos também indicam que o folinato de cálcio apresenta potencial adjuvante na cicatrização, promovendo reepitelização, angiogênese e deposição de colágeno, especialmente em feridas de difícil regeneração. No entanto, seu uso requer cautela em áreas estéticas devido ao possível aumento do risco de cicatrizes hipertróficas.

Mecanismo de ação

O folinato de cálcio se liga ao receptor clássico de folato (FolR1) e é transportado para o interior das células por meio do transportador de soluto SLC19A1. Uma vez internalizado, seu metabolismo leva à geração de tetraidrofolato (THF) e 5,10-metilenotetraidrofolato (5,10-MTHF), intermediários essenciais para a síntese de timidilato — uma etapa crítica na produção de DNA. Quando há deficiência nessa via, a incapacidade de gerar timidilato pode causar danos ao DNA, um fator que tem sido associado a processos carcinogênicos.

Além disso, a biossíntese de novo de purinas depende de duas transformilases que utilizam formil-THF como cofator, tornando indispensável o suprimento adequado de folatos ativos. Nesse cenário, é fundamental diferenciar as três principais formas de suplementação de folato:

Folinato de cálcio (ácido folínico)

Derivado do THF (5-formil-THF) que não necessita da di-hidrofolato redutase (DHFR) para ser convertido em cofatores funcionais do ciclo do folato. Fornece rapidamente intermediários para a síntese de nucleotídeos e evita o acúmulo de ácido fólico não metabolizado (UMFA).

Ácido fólico

Forma sintética e oxidada do folato, amplamente utilizada em alimentos fortificados. Porém depende da conversão sequencial pela DHFR até atingir formas ativas, o que pode representar um gargalo metabólico, especialmente em indivíduos com polimorfismos no gene MTHFR.

Metiltetraidrofolato (5-MTHF)

É a forma ativa e dispensa múltiplas etapas enzimáticas. Ideal para indivíduos com baixa atividade de MTHFR, garantindo a produção de metionina a partir da homocisteína. No entanto, sua ação está mais voltada à remetilação da homocisteína do que ao fornecimento abrangente de cofatores para a síntese de nucleotídeos.

 

Sabendo disso, podemos concluir que o folinato de cálcio oferece uma vantagem terapêutica significativa ao disponibilizar diretamente formas ativas de folato envolvidas em diversas reações essenciais, sem depender da conversão pela DHFR. Isso o torna útil tanto na mitigação dos efeitos tóxicos de fármacos antifolato quanto no suporte metabólico em casos de variações genéticas que comprometem o ciclo do folato.

Vias de administração

Endovenosa (EV)

Recomenda-se diluir a ampola do produto em 250mL de soro fisiológico 0,9% e aplicar pela via endovenosa, com gotejamento inicial lento (45-60min/bolsa), avaliando individualmente cada paciente.

Intramuscular (IM)

Recomenda-se a administração associada a uma ampola de lidocaína 2% ou 1% para maior conforto do paciente. O conteúdo de cada ampola deve ser aspirado em conjunto em uma seringa e aplicado lentamente no músculo ventroglúteo de forma profunda.

IMPORTANTE

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