Essentia Atual
Nossa newsletter quinzenal com novidades científicas nas áreas de nutrição e saúde.
Aqui estão as versões que enviamos até agora, fique à vontade para ler os artigos, links e referências.
19 DE MARÇO DE 2024 | EDIÇÃO 45 |
Olá! Nesta edição, a Essentia Atual traz dois estudos sobre a utilização de fibras prebióticas em diferentes desfechos na saúde: um verificou o efeito da glucomanano da inulina e do psyllium no peso e na composição corporal de adultos e o outro investigou a ação da suplementação de Chlorella em mulheres grávidas com inflamação de baixo grau. Boa leitura! |
Fibras e peso corporal na obesidade As fibras dietéticas como glucomanano, inulina e psyllium, através de mecanismos como o aumento da saciedade, contribuem para o emagrecimento e alterações metabólicas benéficas. Pokushalov et al. (2024) realizaram um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo para testar esses carboidratos não digeríveis no peso e composição corporal de adultos com presença de pelo menos um alelo menor em qualquer um dos seguintes polimorfismos genéticos associados à obesidade: LEP (leptina), LEPR (receptor da leptina), MC4R (receptor de melanocortina 4) e FTO (massa adiposa associada à obesidade). Numa proporção 2:1, os adultos considerados saudáveis (71,6% mulheres, média 46 anos) foram divididos entre grupo glucomanano + inulina + psyllium (1g + 1g + 3g, respectivamente, com 70% de fibra solúvel; n = 75) ou placebo (maltodextrina + farinha de arroz; n = 37), além de intervenção no estilo de vida (redução calórica e aumento da atividade física). Todos foram orientados a tomar o suplemento 30 minutos antes do café da manhã, almoço e jantar, dissolvido em um copo de água para garantir hidratação adequada. A duração do estudo foi de 180 dias, com checagens semanais. Na visita do dia 180, os limites de perda de 5% ou mais e 10% ou mais do peso corporal basal foram alcançados por 59,2% (42 participantes) e 21,1% (15 participantes) no grupo experimental, respectivamente, em comparação com 26,5% (9 participantes) e 8,8% (3 participantes) no grupo placebo (p < 0,01 para ambos os limites). A mudança absoluta no peso corporal desde o início até o dia 180 foi de -6,5 kg (IC 95%: -7,2 kg a -5,9 kg) no grupo experimental, em comparação com -2,2 kg (IC 95%: -2,4 kg a -2,0 kg ) no grupo placebo (diferença de tratamento, −4,3 kg; IC 95%: −5,2 kg a −3,5 kg; p < 0,01). Uma resposta mais pronunciada foi alcançada pelos portadores de alelos menores em homozigotos. Os autores destacaram que o estudo contou com ótima aderência (93,7%). Entretanto, pelo menos 1 efeito secundário gastrointestinal, principalmente ligeiro a moderado, ocorreu em 74,6% dos participantes do grupo ativo, sublinhando a importância de considerar estratégias para a boa tolerabilidade e individualização da suplementação de fibras. |
Chlorella com ação prebiótica em gestantes Um pequeno estudo aberto, randomizado e controlado avaliou a eficácia e a segurança da suplementação de Chlorella – um gênero de algas verdes ricas em nutrientes, incluindo aminoácidos, clorofila, ferro, magnésio, B6, folato, B12 e fibra – em gestantes com inflamação de baixo grau e observou a diminuição da constipação e da necessidade de tomar laxantes. As pacientes japonesas (23-38 anos) do estudo apresentavam níveis de proteína C reativa >0,05 mg/dL (n = 22) e foram alocadas aleatoriamente no grupo 6g Chlorella pyrenoidosa (Sun Chlorella Corp.; n = 10) ou grupo zero Chlorella (n = 12). Não houve limitação ao uso de multivitaminas e minerais durante o estudo, que foi realizado da 12ª a 18ª semana de gestação até o parto, e os dados foram coletados nas semanas 16, 25, 30 e 35.
Embora o nível de PCR na 16ª semana de gestação
tenha sido maior no grupo Chlorella do que no grupo controle,
não houve diferenças significativas na 35ª semana de
gestação. Nessa mesma semana, as dosagens de ferritina e
hemoglobina no grupo Chlorella se mostraram significativamente
menores do que no grupo controle. |
Fontes: The Impact of Glucomannan, Inulin, and Psyllium Supplementation (Soloways TM ) on Weight Loss in Adults with FTO, LEP, LEPR, and MC4R Polymorphisms: A Randomized, Double-Blind, Placebo-Controlled Trial The effect of Chlorella supplementation in pregnant women with low‐grade inflammation - Uchiyama‐Tanaka - 2024 - Food Science & Nutrition - Wiley Online Library |
08 DE MARÇO DE 2024 | EDIÇÃO 44 |
Olá!
Nesta edição, a Essentia Atual traz uma síntese de
cinco estudos recém-publicados sobre temas relevantes na
prática clínica. |
Taurina na degeneração macular relacionada à idade Publicado no Journal of Ophthalmology and Advance Research, um estudo de caso relatou uma estabilização duradoura e subsequente melhora moderada da visão, da espessura macular e da pigmentação da retina com a administração oral de taurina em um paciente de 62 anos diagnosticado com degeneração macular relacionada à idade do tipo seco ou não-neovascular. Em 2013, o paciente iniciou a suplementação com taurina na dose de 600mg, 3x/dia (1,8g/dia; 27mg/kg/dia), seguido de controle anual. Em dezembro de 2018, a dose foi duplicada para 1800mg 2x/dia (3,6g/dia; 54mg/kg/dia). Em janeiro de 2020, o paciente apresentou melhora objetiva da acuidade visual Snellen, juntamente com aumento da espessura macular em ambos os olhos, que permaneceu estável até o último controle em janeiro de 2023. Da mesma forma, também foi observada uma pigmentação aumentada de toda a retina. Além da facilidade de utilização, o tratamento com o aminoácido taurina – que desempenha um papel importante na função da retina, incluindo a sobrevivência dos fotorreceptores – apresentou excelente tolerabilidade e ausência de efeitos secundários. |
Ômega-3 na esteatose hepática Publicada no jornal médico revisado por pares EMBO Molecular Medicine, uma análise multiômica (transcriptoma, metaboloma, lipidoma e sequenciamento de RNA de célula única) conduzida por pesquisadores da Oregon State University revelou novos insights sobre como o ômega-3 pode atuar na esteatose hepática. O mecanismo envolve a betacelulina (BTC) como uma reguladora mestre cuja redução pelo DHA potencialmente leva à prevenção/tratamento da fibrose. De fato, os pesquisadores encontraram que a BTC induz o TGFβ-2, um contribuinte crítico para a fibrose hepática através da produção de colágeno pelas células estreladas hepáticas. Além disso, em combinação com agonistas TLR 2/4 (também reduzidos pelo DHA), a BTC induz a via da integrina nos macrófagos, o tipo de célula do fígado mais afetado pelo tratamento com DHA e bem conhecido por estar envolvido na patogênese da fibrose em diferentes órgãos. Além do seu efeito sobre a fibrose, a redução da BTC parece também mediar outro efeito importante do DHA, que é a melhoria das vias relacionadas com a função mitocondrial. |
Policosanol nas enzimas hepáticas Uma revisão sistemática e meta-análise de dose-resposta de estudos randomizados e controlados publicada no Complementary Therapies in Medicine investigou a influência do policosanol sobre as enzimas hepáticas. Foram incluídos 23 ensaios realizados de 1992 a 2023 (n= 2535; 45,7-69,7 anos), e as dosagens oscilaram entre 5 e 20mg/dia, enquanto a duração das intervenções variou de 4 a 144 semanas. Os resultados mostraram que o policosanol reduziu significativamente a ALT (média ponderada: −1,48 U/L; IC 95%: −2,33 a −0,64; P = 0,001) e a AST (média ponderada: −1,10 U/L; IC 95%: −1,70 a −0,51; P < 0,001) em indivíduos com diferentes doenças metabólicas, especialmente hipercolesterolemia tipo II. A dose de 20mg/dia foi a que mais demonstrou efeito redutor. Quanto à segurança desse composto extraído da cana-de-açúcar, de acordo com ensaios anteriores e os resultados dessa revisão sistemática e metanálise, os autores destacam que o consumo de policosanol mostra-se seguro para reduzir os perfis lipídicos e as enzimas hepáticas, sem eventos adversos e toxicidade hepática. |
Lactoferrina na prevenção de infecções respiratórias Publicado no Children, um jornal revisado por pares e de acesso aberto sobre saúde infantil, um ensaio clínico prospectivo randomizado investigou a lactoferrina na prevenção de infecções respiratórias recorrentes em crianças pré-escolares. Foram incluídas 50 crianças (4,2 ± 0,1 anos) e a dosagem de lactoferrina foi de 400mg/dia, dividida em 2 vezes ao dia (longe das refeições), durante 4 meses. Os investigadores observaram uma redução clinicamente relevante de 50% nos episódios de infecção respiratória durante a fase de suplementação, com número necessário para tratar (NNT) de 4. Além disso, o grupo lactoferrina exibiu uma redução de 80% nas chances de sofrer episódios múltiplos, juntamente com uma duração mais curta dos sintomas, em comparação com o grupo controle (medianas de 3 vs. 6 dias, respectivamente). Embora não tenha alcançado significância estatística, os dias de ausência da escola foram menores entre as crianças que tomaram lactoferrina (mediana: 3 dias) do que as do grupo controle (mediana: 6 dias, p = 0,15). Ao longo do acompanhamento de 2 meses, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos, no entanto, as crianças tratadas com lactoferrina receberam significativamente menos corticosteroides durante todo o período de estudo de 6 meses (32% vs. 60%; p = 0,047). |
Ômega-3 e marcadores de trombose na fibrilação atrial Uma grande análise transversal do estudo de coorte "Swiss Atrial Fibrillation" (Swiss-AF), publicada no Nutrients, investigou a relação ômega-3 (n-3), D-dímero e beta-tromboglobulina (BTG) em pacientes com fibrilação atrial (FA). A quantificação dos ômegas foi realizada através do Índice Ômega-3 (EPA, DHA, DPA e ALA), atingindo o índice de 6,0% (desvio padrão (DP) 1,2%). A idade média dos pacientes incluídos na análise para D-dímero e BTG foi de 75 anos e 73 anos, respectivamente, e 27% eram mulheres. A FA paroxística foi o tipo mais comum de FA, e a grande maioria dos pacientes estava sob medicação anticoagulante. Foi encontrada uma associação inversa de n-3 totais com D-dímero (coeficiente 0,94, IC 95%: 0,90 a 0,98, p = 0,004) e n-3 totais com BTG (coeficiente 0,97, lC 95%: 0,95 a 0,99, p = 0,003) após ajuste para múltiplos fatores de confusão, incluindo PCR de alta sensibilidade. Assim, um aumento de um ponto percentual no total de n-3 foi associado a um valor de BTG 3% menor, e um aumento de um ponto percentual no total de n-3 foi associado a um valor de D-dímero 6% menor. "Essas observações sugerem potenciais propriedades antitrombóticas dos ácidos graxos n-3 em pacientes com FA e podem, em parte, explicar o menor risco de AVC isquêmico observado em indivíduos com FA e níveis elevados de ácidos graxos n-3 no sangue", escreveram os investigadores. |
Fontes: Long-Lasting Stabilization and Improvement of Dry Age-Related Macular Degeneration by a High Oral Taurine Dose Multi‐omic network analysis identified betacellulin as a novel target of omega‐3 fatty acid attenuation of western diet‐induced nonalcoholic steatohepatitis What is the influence of policosanol supplementation on liver enzymes? A systematic review and dose-response meta-analysis of randomized controlled trials Lactoferrin in the Prevention of Recurrent Respiratory Infections in Preschool Children: A Prospective Randomized Study Omega-3 Fatty Acids and Markers of Thrombosis in Patients with Atrial Fibrillation |
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15 DE MARÇO DE 2023 | EDIÇÃO 29 |
Olá! Vez ou outra, um estudo científico sobre um nutracêutico, ou uma molécula encontrada na natureza e produzida comercialmente, recebe ampla atenção das mídias. Com frequência, as manchetes jornalísticas podem confundir os leitores pela falta de contexto.
O mais recente, "The artificial sweetener erythritol and
cardiovascular
risk", de Witkowski et al.
(2023), publicado em Nature Medicine, chamou a
atenção de médicos e
nutricionistas, pois o seu manuscrito deu a entender que o
eritritol
dietético causaria
risco cardiovascular. Aproveite a leitura! |
Eritritol em foco
Neste texto, pontuamos possíveis correções
e agregarmos
achados anteriores e
atuais pertinentes, que não foram discutidos pela equipe
da
Clínica de Cleveland,
EUA, com o objetivo de contribuir para sua
contextualização.
B - Os pesquisadores então validaram
esse resultado
em duas outras coortes
independentes dos Estados Unidos (n=2.149) e da Europa (n=833),
conduzindo
ensaios
metabolômicos específicos de eritritol em amostras
de plasma em
jejum e analisando
associações com MACE em 3 anos de acompanhamento.
Mais uma
vez, os resultados
mostraram uma correlação entre os níveis de
eritritol
circulante mais
elevados e a incidência de MACE. C - Para avaliar a possibilidade de que o eritritol pudesse contribuir para o risco de MACE ao aumentar a coagulação sanguínea, Witkowski et al. então aplicaram várias concentrações de eritritol ou solução de controle ao plasma rico em plaquetas (PRP) de adultos saudáveis (n=55) e observaram uma relação dose-dependente entre a intervenção com eritritol e a agregação plaquetária. Além disso, ao injetar camundongos com eritritol (25 mg/kg), ocorreu uma aceleração na taxa de formação de coágulos em relação ao controle.
As concentrações séricas de eritritol nesse
experimento
animal foram mais do
que o dobro das concentrações mais altas
observadas nas
coortes de descoberta (EUA e
Europa). Da mesma forma, os efeitos na agregação
plaquetária no PRP foram
significativos apenas em níveis de eritritol
próximos e acima
do limite superior das
concentrações observadas nas coortes humanas.
D - No experimento seguinte (COSETTE), oito
participantes
tomaram uma bebida
adoçada com 30 g de eritritol. Como resultado, os
níveis
circulantes aumentaram em
até 1.000 vezes os valores basais em 30 minutos –
bem acima dos
intervalos em que os
efeitos de coagulação estavam presentes – e
não
retornaram a
níveis mais normais em até quase dois
dias.
O
eritritol é um poliol
As análises de segurança do eritritol foram
conduzidas por
várias entidades
reguladoras baseadas em múltiplos estudos animais e
humanos. Em
geral, a ingestão
excessiva de polióis está associada a efeitos
gastrointestinais indesejáveis,
incluindo náuseas, distensão abdominal e diarreia.
Esses
efeitos adversos são
atribuídos ao fato de os polióis serem pouco
absorvidos,
induzindo assim um efeito
osmótico e retenção de água no
intestino.
Além disso, os
polióis não absorvidos podem sofrer
fermentação
pela microbiota
intestinal, resultando na formação de gases.
Voltando ao estudo de Witkowski et al. Eles escreveram que "a ingestão diária de eritritol na população total dos EUA foi estimada em até 30 g por dia em alguns participantes com base nos dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição de 2013–2014 e nos registros do FDA". A fonte de sua citação diz que a média estimada por usuário de todos os usos pretendidos de eritritol (portanto, incluindo medicamentos, alimentos e saúde bucal) foi calculada em 13 g/dia. Em 2017, Hootman et al. demonstraram que o eritritol é sintetizado endogenamente a partir da glicose através da via das pentoses-fosfato (PPP) em experimentos de incubação de sangue ex vivo assistidos por isótopos estáveis e através da conversão in vivo de eritritol em eritronato em experimentos de sangue seco assistidos por isótopos estáveis. Esse metabolismo de glicose para eritritol anteriormente não reconhecido foi publicado no PNAS, trazendo a PPP como contribuinte para o risco de ganho de peso. Em 2022, Ortiz et al. publicaram em Frontiers in Nutrition que o eritritol intracelular foi diretamente associado à concentração de glicose no meio. Tanto o estresse oxidativo induzido quimicamente quanto a ativação constitutiva do fator de transcrição da resposta antioxidante NRF2 elevaram o eritritol intracelular através da PPP e suas enzimas não oxidativas.10 O fluxo através da PPP – um ramo do metabolismo da glicose – é um mecanismo de defesa-chave para combater o excesso de estresse oxidativo.
O grupo
que
recebeu um multivitamínico, contendo as vitaminas
B1, B3, B6,
B9 e B12 em doses baixas,
mas não betaína, obteve
redução
média de 15,5% (-21,2 a
-9,4); desse modo, um resultado inferior, mas
também
significativo (p < 0,001), em
comparação com o controle. Portanto, o
estudo de Lu et
al. (2023) parece mostrar
que a betaína, quando usada junto a vitaminas do
complexo B,
recebe influência
aditiva ou agregadora, possivelmente, obtendo resultados
positivos
sobre os níveis de
Hcy em dose (mais) baixa. O conjunto da pesquisa recente vem assinalando que o eritritol sérico é um potencial biomarcador preditivo do início de doenças crônicas e complicações associadas. Em uma grande coorte prospectiva, o eritritol sérico basal se mostrou elevado em indivíduos que desenvolveram doença cardiovascular ou diabetes tipo 2 até 20 anos depois.
Outro estudo recente comparou pacientes com fatores de risco
cardiovascular
que desenvolveram e
não desenvolveram DAC. O eritritol sérico se
apresentou
significativamente elevado
naqueles que desenvolveram a DAC. Além disso, o eritritol
também demonstrou prever o
risco de complicações diabéticas, incluindo
retinopatia, nefropatia e rigidez
arterial. Teysseire et al. (2023) investigaram os efeitos metabólicos da administração intragástrica aguda de 25g de D-alulose e 50g de eritritol nas concentrações de glicose, insulina, grelina, bem como os aspectos de segurança de ambos os adoçantes. O estudo usou um design cruzado, duplo-cego, controlado por placebo (n=18; 19-35 anos). Em comparação com o controle (água), os resultados mostram que: (i) as concentrações de glicose e insulina não aumentaram em resposta aos adoçantes; (ii) as concentrações de grelina diminuíram em resposta ao eritritol, mas não à D-alulose; (iii) ambos não afetaram os lipídios sanguíneos, ácido úrico e hsCRP.
Wölnerhanssen et al (2021) avaliaram o efeito
dose-dependente na
estimulação da
liberação de hormônios intestinais,
além da
velocidade de esvaziamento
gástrico, secreção de glucagon, motilina e
polipeptídeo
insulinotrópico dependente de glicose (GIP), e
possíveis
efeitos colaterais. Foi um
estudo randomizado, duplo-cego, cruzado e controlado por placebo
(n=12). Os
participantes
receberam uma das seguintes soluções de teste
diretamente no
estômago durante
2 min: 10, 25 ou 50 g de eritritol + 50 mg de acetato de
sódio
dissolvido em 300 mL de
água ou placebo.
Concluindo Por que esse resultado gerou tanto alarde, chegando a catapultar o eritritol exógeno como um vilão? A resposta começa pela escolha enviesada do título do estudo. Depois, o manuscrito apresenta viés confundidor para leitores não versados na área da pesquisa científica. Na conclusão do seu estudo, por exemplo, Witkowski et al. citam o artigo de pesquisa metabolômica de Wang et al. (2019), onde encontraram 19 analitos diferentes – um dos quais, o eritritol – que ajudaram coletivamente a previsão de risco de DAC. No entanto, a amostragem dos participantes do estudo de coorte prospectivo (ARIC; n=15.792; 45-64 anos), que Wang et al. se basearam, foi originalmente obtida entre 1987 e 1989 – mais de uma década antes da liberação comercial do ingrediente eritritol pela FDA. Por fim, é clara a necessidade de uma revisão do estudo por pares qualificados. O estudo de Witkowski et al. não apresenta evidência que justifique um paciente parar de usar o eritritol de maneira moderada. Possíveis dúvidas surgidas precisam de novos estudos clínicos controlados para o contínuo aprendizado sobre o tema. |
Fontes: Witkowski M, et al. The artificial sweetener erythritol and cardiovascular event risk USDA: Sugar and Sweeteners Yearbook Tables Munro I, et al. Erythritol: an interpretive summary of biochemical, metabolic, toxicological and clinical data Bordier V, et al. Absorption and Metabolism of the Natural Sweeteners Erythritol and Xylitol in Humans: A Dose-Ranging Study Fint N, et al. Effects of erythritol on endothelial function in patients with type 2 diabetes mellitus: a pilot study Ishikawa M, et al. Effects of Oral Administration of Erythritol on Patients with Diabetes Mela D, et al. Erythritol: An In-Depth Discussion of Its Potential to Be a Beneficial Dietary Component GAS: Notice 789 for Erythritol Hootman K, et al. Erythritol is a pentose-phosphate pathway metabolite and associated with adiposity gain in young adults Ortiz S, et al. Erythritol synthesis is elevated in response to oxidative stress and regulated by the non-oxidative pentose phosphate pathway in A549 cells Stincone A, et al. The return of metabolism: biochemistry and physiology of the pentose phosphate pathway
Wang Z, et al. Metabolomic
Pattern Predicts Incident Coronary Heart
Disease |
28 DE FEVEREIRO DE 2022 | EDIÇÃO 28 |
Olá! A literatura científica vem progredindo acerca do complexo B. Estudos apontam aprendizados nas funcionalidades inter-relacionadas das oito vitaminas nos níveis celulares e sistêmico, sendo algumas delas mais proeminentes ao apontar relações associativas, como o déficit de folato e/ou vitamina B12 e níveis mais altos de homocisteína. Há décadas, portanto, essa interação é estudada e se antes estavam mais focadas em populações adultas, hoje essa relação é observada cada vez mais em populações pediátricas. Esta edição da Essentia Atual traz o resultado de estudos recém-publicados sobre esse importante tema associado à longevidade qualitativa, incluindo doses e a ajuda da betaína, entre outros detalhes. Aproveite a leitura! |
Complexo B, betaína, homocisteína e interações Com o aumento da idade, observa-se uma relação inversa entre os níveis de homocisteína e vitaminas do complexo B. No entanto, essa relação também pode ser observada na população pediátrica. Grande parte da prevalência de níveis séricos elevados de homocisteína (Hcy) nessas populações é atribuída a uma baixa ingestão de vitaminas, como as do complexo B, além de outros fatores ambientais e genéticos. O folato e as vitaminas B2, B6 e B12 são nutrientes essenciais para o metabolismo da Hcy, como a síntese de ácidos nucleicos e a geração do grupo metil. Evidências emergentes sugerem que o baixo status dessas vitaminas, em longo prazo, pode levar a uma série de condições de saúde, como a adiposidade, dislipidemia, disfunção endotelial vascular, intolerância à glicose e resistência à insulina. Consequentemente, a hiper-homocisteinemia pode atuar como um fator de risco às principais causas de mortalidade e morbidade em todo o mundo, além do risco de várias doenças cardiovasculares, doenças neurodegenerativas, cânceres e, possivelmente, síndrome metabólica. A investigação sobre a síndrome metabólica (MetS) e os níveis baixos de vitaminas do complexo B é um pouco mais recente, mas os resultados consecutivos vêm mostrando a associação sob diferentes vias. De maneira panorâmica, Zhu et al. (2023) relatam através do seu estudo de coorte de 4.414 adultos americanos – acompanhados desde a idade média de 24,9 anos, por um período de trinta anos – que a ingestão e as concentrações séricas de folato e vitaminas B6 e B12 se mostraram inversamente associadas à incidência de MetS. Além da avaliação dietética (incluindo suplementos) e questionários, o design do estudo publicado no JAMA contou com a coleta de amostras séricas em jejum de uma subcoorte de 1.430 participantes nos anos de exame 0, 7 e 15 para avaliar os níveis das vitaminas B e as concentrações de Hcy. Tanto níveis mais baixos das vitaminas B se correlacionaram com níveis mais elevados de Hcy quanto níveis mais altos de Hcy se correlacionaram com a MetS. De maneira preventiva ou corretiva, um estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado, publicado no European Journal of Nutrition, investigou os efeitos da suplementação de baixas doses de vitaminas do complexo B e betaína para a redução das concentrações de Hcy entre adultos chineses (18-65 anos) com hiper-homocisteinemia (>15 μmol/L), mas ainda considerados saudáveis. Semelhante ao folato, a betaína, cujo precursor é a colina, também age como doadora importante de metil para a Hcy, reduzindo assim o excesso da sua concentração circulante por meio de vias metabólicas de um carbono. A estratégia de adicionar betaína à suplementação de B serve para a otimização das vias de metilação e aborda certas possíveis limitações individuais, como aqueles com homocistinúria resistente à piridoxina e hiper-homocisteinemia devido à atividade deficiente da cistationina β-sintase, ou após um aumento da carga pós-metionina na homocisteína. No estudo, Lu et al. (2023) forneceram 400mcg de ácido fólico; 8mg de vitamina B6; 6,4mcg de vitamina B12, e 1g de betaína, diariamente. Após 12 semanas, em comparação com o grupo placebo, o grupo suplementado apresentou uma redução significativa nas concentrações plasmáticas de Hcy (diferença média do grupo − 3,87; P = 0,012; taxa de redução de 10,1%; P < 0,001, ambos ajustados por covariável). Em comparação com os estudos realizados anteriormente com design semelhante, os resultados obtidos por Lu et al. se mostram relevantes tendo em vista a baixa dose de betaína utilizada, o que sugere um efeito aditivo. Anteriormente, uma meta-análise de 2013, por exemplo, observou redução da concentração de Hcy sérica em μmol/L (P=0.01) ao analisar cinco ensaios que utilizaram betaína por si só, mas na dose de 4g, entre 6 e 24 semanas. Um outro exemplo do uso da betaína na dose de 4g, vem através do estudo de James et al. (2019), publicado no PLOS Medicine, com resultados positivos do uso combinado de vitaminas B + betaína, ou não, na forma de bebida entre mulheres saudáveis e relativamente jovens (18-45 anos). Após doze semanas, o grupo B + betaína apresentou redução da Hcy plasmática média de 23,6% (-29,5 a -17,1) (p < 0,001), em comparação com o grupo controle. O grupo que recebeu um multivitamínico, contendo as vitaminas B1, B3, B6, B9 e B12 em doses baixas, mas não betaína, obteve redução média de 15,5% (-21,2 a -9,4); desse modo, um resultado inferior, mas também significativo (p < 0,001), em comparação com o controle. Portanto, o estudo de Lu et al. (2023) parece mostrar que a betaína, quando usada junto a vitaminas do complexo B, recebe influência aditiva ou agregadora, possivelmente, obtendo resultados positivos sobre os níveis de Hcy em dose (mais) baixa. Por uma perspectiva mais holística da "vitamina B" Historicamente, percebe-se que as investigações epidemiológicas e de ensaios controlados em humanos – e os comentários científicos resultantes – focaram quase exclusivamente no pequeno subconjunto de vitaminas (B9/B12/B6) que são as vitaminas B mais proeminentes (mas não exclusivas) envolvidas no metabolismo da homocisteína. No entanto, o grupo de oito vitaminas hidrossolúveis do complexo B desempenha funções essenciais e estreitamente inter-relacionadas no funcionamento celular, atuando como coenzimas em uma vasta gama de reações enzimáticas catabólicas e anabólicas. Citando somente alguns dos seus efeitos coletivos prevalentes sobre o cérebro, tem-se a produção de energia, síntese/reparo de DNA/RNA, metilação genômica e não genômica e a síntese de numerosos neuroquímicos e moléculas de sinalização. Notavelmente, a associação entre a hiper-homocisteinemia, o declínio cognitivo e a demência já foi relatada em vários estudos, incluindo possíveis papéis da B1 e B2 na patogênese do declínio cognitivo. Já um artigo de revisão (Bekdash; 2023), publicado como parte da edição especial do Molecular and Cellular Biology, sobre a conexão de moléculas doadoras de metila, como a colina, betaína, metionina, vitaminas B6, B9 e B12, a alterações epigenéticas, distúrbios relacionados ao estresse e saúde cerebral, recomenda um monitoramento contínuo desses nutrientes em todos os estágios de desenvolvimento para um cérebro mais saudável. Evidências de pesquisas em humanos mostram claramente que uma proporção significativa das populações de países desenvolvidos sofre de deficiências ou insuficiências em um ou mais desse grupo de nutrientes, incluindo outras vitaminas do complexo B. Na ausência de uma dieta ideal e/ou presença de condições limitantes de sua ótima absorção, a administração de todo o complexo B, em vez de um pequeno subconjunto, funciona, além do aspecto da homocisteína, para preservar a saúde no longo prazo como um todo. Enquanto acompanhamos o desenvolvimento da pesquisa de maneira integrativa, aos poucos, instituições de saúde estão renovando suas diretrizes e recomendando o monitoramento isolado dos níveis de vitamina B12 em pacientes sob o uso da metformina, uma interação que também associa a níveis mais altos de homocisteína. Interação drogas e estilo de vida O aumento da concentração sérica de Hcy nos pacientes tratados com metformina vem sendo confirmado por uma série de estudos observacionais desde a década de 90. Em 2016, na análise de subgrupo de uma meta-análise de estudos randomizados e controlados, publicada em Nutrients, Zhang et al. encontraram que a metformina foi significativamente associada a um aumento da concentração de Hcy na ausência de suplementação exógena de ácido fólico ou vitaminas do grupo B (MD, 2,02 μmol/L; 95% CI, 1,37~2,67 μmol/L, p < 0,00001), mas com uma concentração diminuída de Hcy sérica na presença dessas suplementações exógenas (MD, −0,74 μmol/L; 95% CI, −1,19~−0,30 μmol/L, p=0,001). Recém-publicado no Journal of Academic Medicine and Pharmacy, o estudo de Sharan et al. (2023) confirmou mais uma vez a interação droga-nutriente em pacientes com diabetes e uso de metformina (> 6 meses) versus controles (média de idade dos grupos, 64 anos). Quarenta e dois por cento do grupo metformina apresentou nível de vitamina B12 considerado deficiente (≤150) versus dezesseis por cento no grupo controle. Além dessa depleção causada pelo uso crônico da metformina, atualmente, são vários os cofatores de risco que podem limitar a obtenção e absorção de vitaminas B. Pessoas com distúrbios gastrointestinais, distúrbios inflamatórios intestinais ou condições autoimunes, a cirurgia bariátrica, o uso crônico de bomba de próton, antibióticos e a adoção de dietas com eliminação ou redução de fontes animais, como veganas e vegetarianas, respectivamente, são alguns exemplos. |
Fontes: Leal A, et al. Homocysteine: cardiovascular risk factor in children and adolescents? - ScienceDirect McRae, Marc P. Betaine supplementation decreases plasma homocysteine in healthy adult participants: a meta-analysis - PMC Smith A, et al. The worldwide challenge of the dementias: A role for B vitamins and homocysteine? Mikkelsen K, et al. Cognitive decline: A vitamin B perspective Kennedy D, et al. B Vitamins and the Brain: Mechanisms, Dose and Efficacy—A Review - PMC Cassiano L, et al. Neuroinflammation regulates the balance between hippocampal neuron death and neurogenesis in an ex vivo model of thiamine deficiency Zhang Q, et al. Metformin Treatment and Homocysteine: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials - PMC Medicines & Healthcare products Regulatory Agency, Metformin and reduced vitamin B12 levels: new advice for monitoring patients at risk Bekdash, Rola A. Methyl Donors, Epigenetic Alterations, and Brain Health: Understanding the Connection Yago M, et al. The Use of Betaine HCl to Enhance Dasatinib Absorption in Healthy Volunteers with Rabeprazole-Induced Hypochlorhydria | SpringerLink |
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25 DE AGOSTO DE 2022 | EDIÇÃO 22 |
Olá! Com a persistente situação de níveis baixos de ferro na população mundial, uma das questões atualmente discutidas é sobre as estratégias para sua melhor absorção. Que vitamina C, ácidos cítricos e moléculas provenientes de tecidos animais ajudam neste processo não há mais dúvidas. Porém, pesquisas recentes indicam que a absorção pode ser ainda mais impulsionada por prebióticos. Os estudos indicam que sua metabolização pelas bactérias residentes no intestino originam a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), dentre outros metabólitos conhecidos como posbióticos, que facilitam a absorção de Fe2+. Confira nesta edição do Essentia Atual uma atualização sobre o assunto. Boa leitura! |
Prebióticos na absorção de ferro A deficiência de ferro em pacientes com doenças inflamatórias crônicas é frequente e muitas vezes subdiagnosticada. Sem computar o grande número de pessoas com anemia ferropriva, pacientes com doenças inflamatórias crônicas, como câncer, insuficiência cardíaca, doença renal crônica e doença inflamatória intestinal estão entre as populações com forte possibilidade de apresentarem níveis laboratoriais abaixo do recomendado. Nesses pacientes, a prevalência de deficiência de ferro foi relatada em até 60-90%. Entretanto, a ferritina e a saturação da transferrina, entre outros marcadores mais sensíveis para avaliar o ferro (Fe), precisam de atenção também em populações consideradas "saudáveis". Níveis abaixo do ideal de Fe já reduzem a produção de energia físico-mental e os processos metabólicos, sobrecarregando sistematicamente o organismo, incluindo a função tireoidiana, a autoimunidade e até mesmo o metabolismo ósseo. Sob este ângulo, praticantes de esportes e atletas podem apresentar considerável perda férrica através da inflamação, suor, urina e possível hemólise. Baixos níveis de ferro podem ser comuns em pacientes com dieta vegetariana ou vegana, particularmente em mulheres. Perante a persistente situação mundial de níveis baixos de ferro (versus o excesso) em diversas populações, uma das questões atualmente discutidas é sobre as estratégias para sua melhor absorção. O conhecimento sobre a absorção de Fe da dieta e sobre os fatores (dietéticos, ambientais, estilo de vida, genéticos) que influenciam essa absorção vem crescendo. Pelo ângulo dietético, sua absorção é determinada pelo estado e conteúdo de Fe heme e não-heme, e a biodisponibilidade de ambos os tipos, que por sua vez é determinada pelo equilíbrio entre os fatores dietéticos que aumentam ou inibem a absorção do mineral. Entre os diversos compostos dietéticos que apresentam capacidade de inibir a absorção de Fe, temos os fitatos, encontrados em muitos grãos e vegetais, o cálcio, presente nos alimentos lácteos, ovos, e certos polifenóis, como os taninos, encontrados no chá verde, vinhos, frutas e chocolates. Além de conter taninos, certos vegetais como o café e o blueberry possuem ácido clorogênico, outro inibidor do mineral. Semelhante ao cálcio, o zinco, o manganês e o cobalto também podem competir com o ferro pelo organismo. Em contrapartida, a vitamina C (ácido ascórbico), ácidos cítricos e moléculas provenientes de tecidos animais são conhecidos por ajudar na absorção de Fe, que ocorre predominantemente no intestino delgado. Mais recentemente, vimos observando o aumento de estudos mostrando a importância da microbiota intestinal para o ferro, especialmente através do aumento do consumo de prebióticos. |
Prebióticos, microbiota intestinal, absorção A microbiota intestinal desempenha um papel importante para funções nutricionais, fisiológicas e imunológicas do hospedeiro, como digestão de alimentos, absorção de nutrientes, produção de vitaminas, proteção da integridade intestinal, regulação da imunidade e patogênese da doença. Parte dessa valorosa contribuição vem a partir da metabolização de substâncias prebióticas pelas bactérias residentes, originando a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), dentre outros metabólitos conhecidos como posbióticos, como butirato e propionato, que facilitam a absorção de Fe2+ no intestino. Os prebióticos mais conhecidos são a inulina, os fruto-oligossacarídeos (FOS), os galacto-oligossacarídeos (GOS) e, mais recentemente, os oligossacarídeos do leite humano (HMO). Os prebióticos mais conhecidos são a inulina, os fruto-oligossacarídeos (FOS), os galacto-oligossacarídeos (GOS) e, mais recentemente, os oligossacarídeos do leite humano (HMO). Ahmad et al. (2021) concluíram que a inulina e os GOS aumentam a produção de AGCC, aumentando assim a absorção de Fe no duodeno e cólon proximal. A revisão de Husmann et al. (2022) encontrou resultados consistentes para os prebióticos FOS e GOS combinados com o composto de ferro fumarato ferroso, a partir de estudos em mulheres adultas com baixos estoques de Fe e bebês anêmicos. Agregando valor à estratégia do consumo de prebióticos junto às refeições ou à suplementação com ferro, Gosh et al. (2022) observam no jornal Alternatives to Antibiotics que os prebióticos e seus subprodutos, ao melhorar o microbioma, atuam como bons imunomoduladores através de suas ações nas mucosas. Isso se traduz em uma abordagem benéfica tanto para o fortalecimento da saúde quanto o manejo de doenças infecciosas ou não. Algo ainda carente de estudos é quanto à eficácia do uso de prebióticos para a absorção do ferro não-heme. Em 2017, Weinborn et al. dividiram 24 mulheres saudáveis em dois grupos. O grupo de tratamento foi alimentado com iogurte misturado com prebiótico por 12 dias, enquanto o grupo controle recebeu iogurte sem a mistura prebiótica. Os resultados indicaram que a absorção de Fe heme no grupo de tratamento aumentou significativamente em 56%, em comparação com o grupo controle. Por outro lado, nenhuma diferença significativa na absorção de Fe não-heme foi observada pelos pesquisadores. Enquanto a pesquisa avança, para as populações com dietas veganas, portanto, uma possível estratégia integrativa seria a utilização de probióticos. Os probióticos, definidos como “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro”, também vêm se mostrando eficazes em relação à absorção de Fe em humanos, conforme relatado na revisão sistemática e metanálise de Vonderheid et al.(2019). Analisando oito estudos cruzados, os pesquisadores descobriram que o probiótico Lactobacillus plantarum 299v aumentou significativamente (p = 0,001) a absorção dietética de ferro não-heme em europeus saudáveis (principalmente mulheres), em comparação com grupos controles. Muito importante para os pacientes sob suplementação de ferro seria considerar que o uso concomitante de prebióticos e probióticos mitiga possíveis efeitos colaterais da suplementação no intestino. Ademais, frente aos diversos achados positivos sobre os benefícios dos prebióticos para a saúde, um fato contrastante continua sendo a sua pequena presença nas dietas diárias de grande parte da população. Quando consumidos em pouca quantidade, seus níveis se tornam insuficientes para produzir uma quantidade biologicamente significativa de produtos finais benéficos por meio do metabolismo bacteriano. |
Fontes: Shatilo V, et al. Quercetin effect on endogenous factors of cardiovascular risk and ageing biomarkers in elderly people. Salehi B, et al.Quercetin Therapeutic Potential of Quercetin: New Insights and Perspectives for Human Health | ACS Omega |
20 DE JULHO DE 2022 | EDIÇÃO 21 |
Olá! Cada vez mais pesquisada por efeitos antidiabéticos, anti-inflamatórios, antioxidantes e anti-Alzheimer, a quercetina vem ganhando importância como um flavonoide de potencial ação geroprotetora. Nesta linha, estudo recente, publicado em Ageing and Longevity, investigou os efeitos da quercetina sobre fatores endógenos de risco cardiovascular e biomarcadores de envelhecimento em adultos mais velhos com síndrome metabólica. Além de um resumo desse estudo, esta Essentia Atual traz uma atualização sobre os efeitos geroprotetores desse flavonoide, que é encontrado em frutas, legumes e oleaginosas. Boa leitura! |
Quercetina: crescente evidência de ação geroprotetora Há uma atenção extraordinária na pesquisa de moléculas bioativas que ocorrem em plantas, e a quercetina vem se mostrando um ótimo exemplo para possíveis aplicações terapêuticas e preventivas na população adulta. Os efeitos antidiabéticos, anti-inflamatórios, antioxidantes, antimicrobianos, anti-Alzheimer, antiartríticos, cardiovasculares e cicatrizantes da quercetina têm sido amplamente investigados, assim como sua atividade anticancerígena contra diferentes linhagens de células cancerígenas foi recentemente relatada. A pesquisa desse flavonoide, encontrado em frutas, legumes e oleaginosas sob diferentes formas glicosídicas, vem encontrando também que a sua combinação com múltiplos fármacos determina suas habilidades de potencializar ou interagir sinergicamente. Consequentemente, oferece potencial de reduzir efeitos colaterais e toxidade de fármacos, ao mesmo tempo que aumenta sua eficácia e segurança geral (como é o caso dos medicamentos antitumorais). Para a especialidade geriátrica, um recém-publicado estudo em Ageing & Longevity realizado por pesquisadores ucranianos (Shatilo et al. 2022) não somente confirma alguns achados anteriores como traz algo inédito: a administração de quercetina por três meses em adultos mais velhos levou ao alongamento dos telômeros e à diminuição da idade metabólica. Esta descoberta indica a presença de um efeito geroprotetor sobre um reconhecido importante marcador, ou seja, a região de sequências de DNA repetitivas no final de um cromossomo. Os telômeros protegem as extremidades dos cromossomos de ficarem desgastadas ou emaranhadas. Cada vez que uma célula se divide, os telômeros ficam ligeiramente mais curtos, indicando o envelhecimento celular. Eventualmente, eles se tornam tão curtos que a célula não pode mais se dividir com sucesso, se tornam senescentes, disfuncionais ou morrem. |
Senolíticos Nos últimos anos, a quercetina tem sido considerada uma agente “senolítica” que mostra poder eliminar um certo excesso de células senescentes. As células senescentes produzem uma série de moléculas sinalizadoras, como interleucina-6 e interleucina-8, cujo excesso leva à inflamação crônica. Como essas mesmas células também desempenham papéis importantes ao longo da vida, inclusive no desenvolvimento embrionário, parto e cicatrização de feridas, o foco terapêutico está na retirada do seu excesso, consequentemente levando a uma redução na inflamação e estresse oxidativo, que por sua vez pode levar ao alongamento dos telômeros. Todos os senolíticos agem da mesma forma? Não. Estudos mostram que algumas abordagens podem ser melhores ou complementares, desde que diferentes agentes senolíticos atingem diferentes tipos de células e origens da senescência celular. |
O estudo O estudo de Shatilo et al. teve como meta descobrir o efeito da quercetina sobre fatores endógenos de risco cardiovascular e biomarcadores de envelhecimento em adultos mais velhos (60-74 anos) com síndrome metabólica (SM). Os investigadores escolheram a SM, primeiro, devido à sua atual prevalência, definindo-se como uma combinação de fatores de risco cardiovascular endógenos, diabetes mellitus tipo 2, neoplasias malignas e comprometimento cognitivo. O desenvolvimento da SM é baseado na resistência à insulina, que também é um dos principais fatores endógenos do envelhecimento humano acelerado. O número de achados anteriores apontando o efeito favorável da quercetina no estado do metabolismo de carboidratos foi outra importante influência para a sua escolha do status de saúde dos participantes do estudo. Esse efeito pode ser explicado por sua ação protetora nas células β das ilhotas pancreáticas (ilhotas de Langherans) e um aumento na secreção de insulina, bem como uma melhora na sensibilidade à insulina. Os efeitos vasoprotetores da quercetina são realizados pela redução da atividade do processo inflamatório no endotélio vascular, aumentando a atividade da NO-sintase endotelial (eNOS), o que leva a um aumento do nível de óxido nítrico nas células endoteliais e a uma consequente melhora da função das mesmas. Sabe-se também que com o envelhecimento, a sensibilidade do corpo à hipóxia aumenta e a resistência à hipóxia diminui, o nível de oxigênio livre nos tecidos diminui, o conteúdo de produtos suboxidados aumenta e as reações de glicólise são ativadas. |
O protocolo Foram formados dois grupos de pacientes. Os pacientes do grupo principal (n=55) tomaram quercetina na dose diária de 240 mg por três meses. Os pacientes do grupo controle (n=55) tomaram placebo (não especificado). Ambos os grupos tomavam inibidores da ECA, estatinas e ácido acetilsalicílico (75-100 mg/dia) em dose constante por pelo menos um mês antes da inclusão no estudo e durante a participação no estudo como terapia básica. |
Os achados Em três meses, a quercetina teve um efeito corretivo favorável nos fatores de risco cardiovascular endógenos da maioria dos pacientes:
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Fontes: Shatilo V, et al. Quercetin effect on endogenous factors of cardiovascular risk and ageing biomarkers in elderly people. Salehi B, et al.Quercetin Therapeutic Potential of Quercetin: New Insights and Perspectives for Human Health | ACS Omega |
23 DE JUNHO DE 2022 | EDIÇÃO 20 |
Olá!
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18 DE MAIO DE 2022 | EDIÇÃO 19 |
Olá! |
Efeitos
da vitamina
E, silimarina e carnitina nas
anormalidades
metabólicas associadas
à
doença hepática
não
alcoólica |
14 DE ABRIL DE 2022 | EDIÇÃO 18 |
Olá! |
Melatonina
e
saúde
bucal |
23 DE MARÇO DE 2022 | EDIÇÃO 17 |
Olá! |
Melatonina
na
potencialização da
melhora da
doença hepática
gordurosa
não
alcoólica |
08 DE FEVEREIRO DE 2022 | EDIÇÃO 16 |
Olá! |
Prebiótico
GOS e
a
via
intestino-cérebro |
12 DE JANEIRO DE 2022 | EDIÇÃO 15 |
Olá! |
Magnésio
para um melhor metabolismo da
glicose |
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15 DE MARÇO DE 2023 | EDIÇÃO 29 |
Olá! Vez ou outra, um estudo científico sobre um nutracêutico, ou uma molécula encontrada na natureza e produzida comercialmente, recebe ampla atenção das mídias. Com frequência, as manchetes jornalísticas podem confundir os leitores pela falta de contexto.
O mais recente, "The artificial sweetener erythritol and
cardiovascular
risk", de Witkowski et al.
(2023), publicado em Nature Medicine, chamou a
atenção de médicos e
nutricionistas, pois o seu manuscrito deu a entender que o
eritritol
dietético causaria
risco cardiovascular. Aproveite a leitura! |
Eritritol em foco
Neste texto, pontuamos possíveis correções
e agregarmos
achados anteriores e
atuais pertinentes, que não foram discutidos pela equipe
da
Clínica de Cleveland,
EUA, com o objetivo de contribuir para sua
contextualização.
B - Os pesquisadores então validaram
esse resultado
em duas outras coortes
independentes dos Estados Unidos (n=2.149) e da Europa (n=833),
conduzindo
ensaios
metabolômicos específicos de eritritol em amostras
de plasma em
jejum e analisando
associações com MACE em 3 anos de acompanhamento.
Mais uma
vez, os resultados
mostraram uma correlação entre os níveis de
eritritol
circulante mais
elevados e a incidência de MACE. C - Para avaliar a possibilidade de que o eritritol pudesse contribuir para o risco de MACE ao aumentar a coagulação sanguínea, Witkowski et al. então aplicaram várias concentrações de eritritol ou solução de controle ao plasma rico em plaquetas (PRP) de adultos saudáveis (n=55) e observaram uma relação dose-dependente entre a intervenção com eritritol e a agregação plaquetária. Além disso, ao injetar camundongos com eritritol (25 mg/kg), ocorreu uma aceleração na taxa de formação de coágulos em relação ao controle.
As concentrações séricas de eritritol nesse
experimento
animal foram mais do
que o dobro das concentrações mais altas
observadas nas
coortes de descoberta (EUA e
Europa). Da mesma forma, os efeitos na agregação
plaquetária no PRP foram
significativos apenas em níveis de eritritol
próximos e acima
do limite superior das
concentrações observadas nas coortes humanas.
D - No experimento seguinte (COSETTE), oito
participantes
tomaram uma bebida
adoçada com 30 g de eritritol. Como resultado, os
níveis
circulantes aumentaram em
até 1.000 vezes os valores basais em 30 minutos –
bem acima dos
intervalos em que os
efeitos de coagulação estavam presentes – e
não
retornaram a
níveis mais normais em até quase dois
dias.
O
eritritol é um poliol
As análises de segurança do eritritol foram
conduzidas por
várias entidades
reguladoras baseadas em múltiplos estudos animais e
humanos. Em
geral, a ingestão
excessiva de polióis está associada a efeitos
gastrointestinais indesejáveis,
incluindo náuseas, distensão abdominal e diarreia.
Esses
efeitos adversos são
atribuídos ao fato de os polióis serem pouco
absorvidos,
induzindo assim um efeito
osmótico e retenção de água no
intestino.
Além disso, os
polióis não absorvidos podem sofrer
fermentação
pela microbiota
intestinal, resultando na formação de gases.
Voltando ao estudo de Witkowski et al. Eles escreveram que "a ingestão diária de eritritol na população total dos EUA foi estimada em até 30 g por dia em alguns participantes com base nos dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição de 2013–2014 e nos registros do FDA". A fonte de sua citação diz que a média estimada por usuário de todos os usos pretendidos de eritritol (portanto, incluindo medicamentos, alimentos e saúde bucal) foi calculada em 13 g/dia. Em 2017, Hootman et al. demonstraram que o eritritol é sintetizado endogenamente a partir da glicose através da via das pentoses-fosfato (PPP) em experimentos de incubação de sangue ex vivo assistidos por isótopos estáveis e através da conversão in vivo de eritritol em eritronato em experimentos de sangue seco assistidos por isótopos estáveis. Esse metabolismo de glicose para eritritol anteriormente não reconhecido foi publicado no PNAS, trazendo a PPP como contribuinte para o risco de ganho de peso. Em 2022, Ortiz et al. publicaram em Frontiers in Nutrition que o eritritol intracelular foi diretamente associado à concentração de glicose no meio. Tanto o estresse oxidativo induzido quimicamente quanto a ativação constitutiva do fator de transcrição da resposta antioxidante NRF2 elevaram o eritritol intracelular através da PPP e suas enzimas não oxidativas.10 O fluxo através da PPP – um ramo do metabolismo da glicose – é um mecanismo de defesa-chave para combater o excesso de estresse oxidativo.
O grupo que
recebeu um multivitamínico, contendo as vitaminas
B1, B3, B6,
B9 e B12 em doses baixas,
mas não betaína, obteve
redução
média de 15,5% (-21,2 a
-9,4); desse modo, um resultado inferior, mas
também
significativo (p < 0,001), em
comparação com o controle. Portanto, o
estudo de Lu et
al. (2023) parece mostrar
que a betaína, quando usada junto a vitaminas do
complexo B,
recebe influência
aditiva ou agregadora, possivelmente, obtendo resultados
positivos
sobre os níveis de
Hcy em dose (mais) baixa. O conjunto da pesquisa recente vem assinalando que o eritritol sérico é um potencial biomarcador preditivo do início de doenças crônicas e complicações associadas. Em uma grande coorte prospectiva, o eritritol sérico basal se mostrou elevado em indivíduos que desenvolveram doença cardiovascular ou diabetes tipo 2 até 20 anos depois.
Outro estudo recente comparou pacientes com fatores de risco
cardiovascular
que desenvolveram e
não desenvolveram DAC. O eritritol sérico se
apresentou
significativamente elevado
naqueles que desenvolveram a DAC. Além disso, o eritritol
também demonstrou prever o
risco de complicações diabéticas, incluindo
retinopatia, nefropatia e rigidez
arterial. Teysseire et al. (2023) investigaram os efeitos metabólicos da administração intragástrica aguda de 25g de D-alulose e 50g de eritritol nas concentrações de glicose, insulina, grelina, bem como os aspectos de segurança de ambos os adoçantes. O estudo usou um design cruzado, duplo-cego, controlado por placebo (n=18; 19-35 anos). Em comparação com o controle (água), os resultados mostram que: (i) as concentrações de glicose e insulina não aumentaram em resposta aos adoçantes; (ii) as concentrações de grelina diminuíram em resposta ao eritritol, mas não à D-alulose; (iii) ambos não afetaram os lipídios sanguíneos, ácido úrico e hsCRP.
Wölnerhanssen et al (2021) avaliaram o efeito
dose-dependente na
estimulação da
liberação de hormônios intestinais,
além da
velocidade de esvaziamento
gástrico, secreção de glucagon, motilina e
polipeptídeo
insulinotrópico dependente de glicose (GIP), e
possíveis
efeitos colaterais. Foi um
estudo randomizado, duplo-cego, cruzado e controlado por placebo
(n=12). Os
participantes
receberam uma das seguintes soluções de teste
diretamente no
estômago durante
2 min: 10, 25 ou 50 g de eritritol + 50 mg de acetato de
sódio
dissolvido em 300 mL de
água ou placebo.
Concluindo Por que esse resultado gerou tanto alarde, chegando a catapultar o eritritol exógeno como um vilão? A resposta começa pela escolha enviesada do título do estudo. Depois, o manuscrito apresenta viés confundidor para leitores não versados na área da pesquisa científica. Na conclusão do seu estudo, por exemplo, Witkowski et al. citam o artigo de pesquisa metabolômica de Wang et al. (2019), onde encontraram 19 analitos diferentes – um dos quais, o eritritol – que ajudaram coletivamente a previsão de risco de DAC. No entanto, a amostragem dos participantes do estudo de coorte prospectivo (ARIC; n=15.792; 45-64 anos), que Wang et al. se basearam, foi originalmente obtida entre 1987 e 1989 – mais de uma década antes da liberação comercial do ingrediente eritritol pela FDA. Por fim, é clara a necessidade de uma revisão do estudo por pares qualificados. O estudo de Witkowski et al. não apresenta evidência que justifique um paciente parar de usar o eritritol de maneira moderada. Possíveis dúvidas surgidas precisam de novos estudos clínicos controlados para o contínuo aprendizado sobre o tema. |
Fontes: Witkowski M, et al. The artificial sweetener erythritol and cardiovascular event risk USDA: Sugar and Sweeteners Yearbook Tables Munro I, et al. Erythritol: an interpretive summary of biochemical, metabolic, toxicological and clinical data Bordier V, et al. Absorption and Metabolism of the Natural Sweeteners Erythritol and Xylitol in Humans: A Dose-Ranging Study Fint N, et al. Effects of erythritol on endothelial function in patients with type 2 diabetes mellitus: a pilot study Ishikawa M, et al. Effects of Oral Administration of Erythritol on Patients with Diabetes Mela D, et al. Erythritol: An In-Depth Discussion of Its Potential to Be a Beneficial Dietary Component GAS: Notice 789 for Erythritol Hootman K, et al. Erythritol is a pentose-phosphate pathway metabolite and associated with adiposity gain in young adults Ortiz S, et al. Erythritol synthesis is elevated in response to oxidative stress and regulated by the non-oxidative pentose phosphate pathway in A549 cells Stincone A, et al. The return of metabolism: biochemistry and physiology of the pentose phosphate pathway
Wang Z, et al. Metabolomic
Pattern Predicts Incident Coronary Heart
Disease |
28 DE FEVEREIRO DE 2022 | EDIÇÃO 28 |
Olá! A literatura científica vem progredindo acerca do complexo B. Estudos apontam aprendizados nas funcionalidades inter-relacionadas das oito vitaminas nos níveis celulares e sistêmico, sendo algumas delas mais proeminentes ao apontar relações associativas, como o déficit de folato e/ou vitamina B12 e níveis mais altos de homocisteína. Há décadas, portanto, essa interação é estudada e se antes estavam mais focadas em populações adultas, hoje essa relação é observada cada vez mais em populações pediátricas. Esta edição da Essentia Atual traz o resultado de estudos recém-publicados sobre esse importante tema associado à longevidade qualitativa, incluindo doses e a ajuda da betaína, entre outros detalhes. Aproveite a leitura! |
Complexo B, betaína, homocisteína e interações Com o aumento da idade, observa-se uma relação inversa entre os níveis de homocisteína e vitaminas do complexo B. No entanto, essa relação também pode ser observada na população pediátrica. Grande parte da prevalência de níveis séricos elevados de homocisteína (Hcy) nessas populações é atribuída a uma baixa ingestão de vitaminas, como as do complexo B, além de outros fatores ambientais e genéticos. O folato e as vitaminas B2, B6 e B12 são nutrientes essenciais para o metabolismo da Hcy, como a síntese de ácidos nucleicos e a geração do grupo metil. Evidências emergentes sugerem que o baixo status dessas vitaminas, em longo prazo, pode levar a uma série de condições de saúde, como a adiposidade, dislipidemia, disfunção endotelial vascular, intolerância à glicose e resistência à insulina. Consequentemente, a hiper-homocisteinemia pode atuar como um fator de risco às principais causas de mortalidade e morbidade em todo o mundo, além do risco de várias doenças cardiovasculares, doenças neurodegenerativas, cânceres e, possivelmente, síndrome metabólica. A investigação sobre a síndrome metabólica (MetS) e os níveis baixos de vitaminas do complexo B é um pouco mais recente, mas os resultados consecutivos vêm mostrando a associação sob diferentes vias. De maneira panorâmica, Zhu et al. (2023) relatam através do seu estudo de coorte de 4.414 adultos americanos – acompanhados desde a idade média de 24,9 anos, por um período de trinta anos – que a ingestão e as concentrações séricas de folato e vitaminas B6 e B12 se mostraram inversamente associadas à incidência de MetS. Além da avaliação dietética (incluindo suplementos) e questionários, o design do estudo publicado no JAMA contou com a coleta de amostras séricas em jejum de uma subcoorte de 1.430 participantes nos anos de exame 0, 7 e 15 para avaliar os níveis das vitaminas B e as concentrações de Hcy. Tanto níveis mais baixos das vitaminas B se correlacionaram com níveis mais elevados de Hcy quanto níveis mais altos de Hcy se correlacionaram com a MetS. De maneira preventiva ou corretiva, um estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado, publicado no European Journal of Nutrition, investigou os efeitos da suplementação de baixas doses de vitaminas do complexo B e betaína para a redução das concentrações de Hcy entre adultos chineses (18-65 anos) com hiper-homocisteinemia (>15 μmol/L), mas ainda considerados saudáveis. Semelhante ao folato, a betaína, cujo precursor é a colina, também age como doadora importante de metil para a Hcy, reduzindo assim o excesso da sua concentração circulante por meio de vias metabólicas de um carbono. A estratégia de adicionar betaína à suplementação de B serve para a otimização das vias de metilação e aborda certas possíveis limitações individuais, como aqueles com homocistinúria resistente à piridoxina e hiper-homocisteinemia devido à atividade deficiente da cistationina β-sintase, ou após um aumento da carga pós-metionina na homocisteína. No estudo, Lu et al. (2023) forneceram 400mcg de ácido fólico; 8mg de vitamina B6; 6,4mcg de vitamina B12, e 1g de betaína, diariamente. Após 12 semanas, em comparação com o grupo placebo, o grupo suplementado apresentou uma redução significativa nas concentrações plasmáticas de Hcy (diferença média do grupo − 3,87; P = 0,012; taxa de redução de 10,1%; P < 0,001, ambos ajustados por covariável). Em comparação com os estudos realizados anteriormente com design semelhante, os resultados obtidos por Lu et al. se mostram relevantes tendo em vista a baixa dose de betaína utilizada, o que sugere um efeito aditivo. Anteriormente, uma meta-análise de 2013, por exemplo, observou redução da concentração de Hcy sérica em μmol/L (P=0.01) ao analisar cinco ensaios que utilizaram betaína por si só, mas na dose de 4g, entre 6 e 24 semanas. Um outro exemplo do uso da betaína na dose de 4g, vem através do estudo de James et al. (2019), publicado no PLOS Medicine, com resultados positivos do uso combinado de vitaminas B + betaína, ou não, na forma de bebida entre mulheres saudáveis e relativamente jovens (18-45 anos). Após doze semanas, o grupo B + betaína apresentou redução da Hcy plasmática média de 23,6% (-29,5 a -17,1) (p < 0,001), em comparação com o grupo controle. O grupo que recebeu um multivitamínico, contendo as vitaminas B1, B3, B6, B9 e B12 em doses baixas, mas não betaína, obteve redução média de 15,5% (-21,2 a -9,4); desse modo, um resultado inferior, mas também significativo (p < 0,001), em comparação com o controle. Portanto, o estudo de Lu et al. (2023) parece mostrar que a betaína, quando usada junto a vitaminas do complexo B, recebe influência aditiva ou agregadora, possivelmente, obtendo resultados positivos sobre os níveis de Hcy em dose (mais) baixa. Por uma perspectiva mais holística da "vitamina B" Historicamente, percebe-se que as investigações epidemiológicas e de ensaios controlados em humanos – e os comentários científicos resultantes – focaram quase exclusivamente no pequeno subconjunto de vitaminas (B9/B12/B6) que são as vitaminas B mais proeminentes (mas não exclusivas) envolvidas no metabolismo da homocisteína. No entanto, o grupo de oito vitaminas hidrossolúveis do complexo B desempenha funções essenciais e estreitamente inter-relacionadas no funcionamento celular, atuando como coenzimas em uma vasta gama de reações enzimáticas catabólicas e anabólicas. Citando somente alguns dos seus efeitos coletivos prevalentes sobre o cérebro, tem-se a produção de energia, síntese/reparo de DNA/RNA, metilação genômica e não genômica e a síntese de numerosos neuroquímicos e moléculas de sinalização. Notavelmente, a associação entre a hiper-homocisteinemia, o declínio cognitivo e a demência já foi relatada em vários estudos, incluindo possíveis papéis da B1 e B2 na patogênese do declínio cognitivo. Já um artigo de revisão (Bekdash; 2023), publicado como parte da edição especial do Molecular and Cellular Biology, sobre a conexão de moléculas doadoras de metila, como a colina, betaína, metionina, vitaminas B6, B9 e B12, a alterações epigenéticas, distúrbios relacionados ao estresse e saúde cerebral, recomenda um monitoramento contínuo desses nutrientes em todos os estágios de desenvolvimento para um cérebro mais saudável. Evidências de pesquisas em humanos mostram claramente que uma proporção significativa das populações de países desenvolvidos sofre de deficiências ou insuficiências em um ou mais desse grupo de nutrientes, incluindo outras vitaminas do complexo B. Na ausência de uma dieta ideal e/ou presença de condições limitantes de sua ótima absorção, a administração de todo o complexo B, em vez de um pequeno subconjunto, funciona, além do aspecto da homocisteína, para preservar a saúde no longo prazo como um todo. Enquanto acompanhamos o desenvolvimento da pesquisa de maneira integrativa, aos poucos, instituições de saúde estão renovando suas diretrizes e recomendando o monitoramento isolado dos níveis de vitamina B12 em pacientes sob o uso da metformina, uma interação que também associa a níveis mais altos de homocisteína. Interação drogas e estilo de vida O aumento da concentração sérica de Hcy nos pacientes tratados com metformina vem sendo confirmado por uma série de estudos observacionais desde a década de 90. Em 2016, na análise de subgrupo de uma meta-análise de estudos randomizados e controlados, publicada em Nutrients, Zhang et al. encontraram que a metformina foi significativamente associada a um aumento da concentração de Hcy na ausência de suplementação exógena de ácido fólico ou vitaminas do grupo B (MD, 2,02 μmol/L; 95% CI, 1,37~2,67 μmol/L, p < 0,00001), mas com uma concentração diminuída de Hcy sérica na presença dessas suplementações exógenas (MD, −0,74 μmol/L; 95% CI, −1,19~−0,30 μmol/L, p=0,001). Recém-publicado no Journal of Academic Medicine and Pharmacy, o estudo de Sharan et al. (2023) confirmou mais uma vez a interação droga-nutriente em pacientes com diabetes e uso de metformina (> 6 meses) versus controles (média de idade dos grupos, 64 anos). Quarenta e dois por cento do grupo metformina apresentou nível de vitamina B12 considerado deficiente (≤150) versus dezesseis por cento no grupo controle. Além dessa depleção causada pelo uso crônico da metformina, atualmente, são vários os cofatores de risco que podem limitar a obtenção e absorção de vitaminas B. Pessoas com distúrbios gastrointestinais, distúrbios inflamatórios intestinais ou condições autoimunes, a cirurgia bariátrica, o uso crônico de bomba de próton, antibióticos e a adoção de dietas com eliminação ou redução de fontes animais, como veganas e vegetarianas, respectivamente, são alguns exemplos. |
Fontes: Leal A, et al. Homocysteine: cardiovascular risk factor in children and adolescents? - ScienceDirect McRae, Marc P. Betaine supplementation decreases plasma homocysteine in healthy adult participants: a meta-analysis - PMC Smith A, et al. The worldwide challenge of the dementias: A role for B vitamins and homocysteine? Mikkelsen K, et al. Cognitive decline: A vitamin B perspective Kennedy D, et al. B Vitamins and the Brain: Mechanisms, Dose and Efficacy—A Review - PMC Cassiano L, et al. Neuroinflammation regulates the balance between hippocampal neuron death and neurogenesis in an ex vivo model of thiamine deficiency Zhang Q, et al. Metformin Treatment and Homocysteine: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials - PMC Medicines & Healthcare products Regulatory Agency, Metformin and reduced vitamin B12 levels: new advice for monitoring patients at risk Bekdash, Rola A. Methyl Donors, Epigenetic Alterations, and Brain Health: Understanding the Connection Yago M, et al. The Use of Betaine HCl to Enhance Dasatinib Absorption in Healthy Volunteers with Rabeprazole-Induced Hypochlorhydria | SpringerLink |
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25 DE AGOSTO DE 2022 | EDIÇÃO 22 |
Olá! Com a persistente situação de níveis baixos de ferro na população mundial, uma das questões atualmente discutidas é sobre as estratégias para sua melhor absorção. Que vitamina C, ácidos cítricos e moléculas provenientes de tecidos animais ajudam neste processo não há mais dúvidas. Porém, pesquisas recentes indicam que a absorção pode ser ainda mais impulsionada por prebióticos. Os estudos indicam que sua metabolização pelas bactérias residentes no intestino originam a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), dentre outros metabólitos conhecidos como posbióticos, que facilitam a absorção de Fe2+. Confira nesta edição do Essentia Atual uma atualização sobre o assunto. Boa leitura! |
Prebióticos na absorção de ferro A deficiência de ferro em pacientes com doenças inflamatórias crônicas é frequente e muitas vezes subdiagnosticada. Sem computar o grande número de pessoas com anemia ferropriva, pacientes com doenças inflamatórias crônicas, como câncer, insuficiência cardíaca, doença renal crônica e doença inflamatória intestinal estão entre as populações com forte possibilidade de apresentarem níveis laboratoriais abaixo do recomendado. Nesses pacientes, a prevalência de deficiência de ferro foi relatada em até 60-90%. Entretanto, a ferritina e a saturação da transferrina, entre outros marcadores mais sensíveis para avaliar o ferro (Fe), precisam de atenção também em populações consideradas "saudáveis". Níveis abaixo do ideal de Fe já reduzem a produção de energia físico-mental e os processos metabólicos, sobrecarregando sistematicamente o organismo, incluindo a função tireoidiana, a autoimunidade e até mesmo o metabolismo ósseo. Sob este ângulo, praticantes de esportes e atletas podem apresentar considerável perda férrica através da inflamação, suor, urina e possível hemólise. Baixos níveis de ferro podem ser comuns em pacientes com dieta vegetariana ou vegana, particularmente em mulheres. Perante a persistente situação mundial de níveis baixos de ferro (versus o excesso) em diversas populações, uma das questões atualmente discutidas é sobre as estratégias para sua melhor absorção. O conhecimento sobre a absorção de Fe da dieta e sobre os fatores (dietéticos, ambientais, estilo de vida, genéticos) que influenciam essa absorção vem crescendo. Pelo ângulo dietético, sua absorção é determinada pelo estado e conteúdo de Fe heme e não-heme, e a biodisponibilidade de ambos os tipos, que por sua vez é determinada pelo equilíbrio entre os fatores dietéticos que aumentam ou inibem a absorção do mineral. Entre os diversos compostos dietéticos que apresentam capacidade de inibir a absorção de Fe, temos os fitatos, encontrados em muitos grãos e vegetais, o cálcio, presente nos alimentos lácteos, ovos, e certos polifenóis, como os taninos, encontrados no chá verde, vinhos, frutas e chocolates. Além de conter taninos, certos vegetais como o café e o blueberry possuem ácido clorogênico, outro inibidor do mineral. Semelhante ao cálcio, o zinco, o manganês e o cobalto também podem competir com o ferro pelo organismo. Em contrapartida, a vitamina C (ácido ascórbico), ácidos cítricos e moléculas provenientes de tecidos animais são conhecidos por ajudar na absorção de Fe, que ocorre predominantemente no intestino delgado. Mais recentemente, vimos observando o aumento de estudos mostrando a importância da microbiota intestinal para o ferro, especialmente através do aumento do consumo de prebióticos. |
Prebióticos, microbiota intestinal, absorção A microbiota intestinal desempenha um papel importante para funções nutricionais, fisiológicas e imunológicas do hospedeiro, como digestão de alimentos, absorção de nutrientes, produção de vitaminas, proteção da integridade intestinal, regulação da imunidade e patogênese da doença. Parte dessa valorosa contribuição vem a partir da metabolização de substâncias prebióticas pelas bactérias residentes, originando a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), dentre outros metabólitos conhecidos como posbióticos, como butirato e propionato, que facilitam a absorção de Fe2+ no intestino. Os prebióticos mais conhecidos são a inulina, os fruto-oligossacarídeos (FOS), os galacto-oligossacarídeos (GOS) e, mais recentemente, os oligossacarídeos do leite humano (HMO). Os prebióticos mais conhecidos são a inulina, os fruto-oligossacarídeos (FOS), os galacto-oligossacarídeos (GOS) e, mais recentemente, os oligossacarídeos do leite humano (HMO). Ahmad et al. (2021) concluíram que a inulina e os GOS aumentam a produção de AGCC, aumentando assim a absorção de Fe no duodeno e cólon proximal. A revisão de Husmann et al. (2022) encontrou resultados consistentes para os prebióticos FOS e GOS combinados com o composto de ferro fumarato ferroso, a partir de estudos em mulheres adultas com baixos estoques de Fe e bebês anêmicos. Agregando valor à estratégia do consumo de prebióticos junto às refeições ou à suplementação com ferro, Gosh et al. (2022) observam no jornal Alternatives to Antibiotics que os prebióticos e seus subprodutos, ao melhorar o microbioma, atuam como bons imunomoduladores através de suas ações nas mucosas. Isso se traduz em uma abordagem benéfica tanto para o fortalecimento da saúde quanto o manejo de doenças infecciosas ou não. Algo ainda carente de estudos é quanto à eficácia do uso de prebióticos para a absorção do ferro não-heme. Em 2017, Weinborn et al. dividiram 24 mulheres saudáveis em dois grupos. O grupo de tratamento foi alimentado com iogurte misturado com prebiótico por 12 dias, enquanto o grupo controle recebeu iogurte sem a mistura prebiótica. Os resultados indicaram que a absorção de Fe heme no grupo de tratamento aumentou significativamente em 56%, em comparação com o grupo controle. Por outro lado, nenhuma diferença significativa na absorção de Fe não-heme foi observada pelos pesquisadores. Enquanto a pesquisa avança, para as populações com dietas veganas, portanto, uma possível estratégia integrativa seria a utilização de probióticos. Os probióticos, definidos como “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro”, também vêm se mostrando eficazes em relação à absorção de Fe em humanos, conforme relatado na revisão sistemática e metanálise de Vonderheid et al.(2019). Analisando oito estudos cruzados, os pesquisadores descobriram que o probiótico Lactobacillus plantarum 299v aumentou significativamente (p = 0,001) a absorção dietética de ferro não-heme em europeus saudáveis (principalmente mulheres), em comparação com grupos controles. Muito importante para os pacientes sob suplementação de ferro seria considerar que o uso concomitante de prebióticos e probióticos mitiga possíveis efeitos colaterais da suplementação no intestino. Ademais, frente aos diversos achados positivos sobre os benefícios dos prebióticos para a saúde, um fato contrastante continua sendo a sua pequena presença nas dietas diárias de grande parte da população. Quando consumidos em pouca quantidade, seus níveis se tornam insuficientes para produzir uma quantidade biologicamente significativa de produtos finais benéficos por meio do metabolismo bacteriano. |
Fontes: Shatilo V, et al. Quercetin effect on endogenous factors of cardiovascular risk and ageing biomarkers in elderly people. Salehi B, et al.Quercetin Therapeutic Potential of Quercetin: New Insights and Perspectives for Human Health | ACS Omega |
20 DE JULHO DE 2022 | EDIÇÃO 21 |
Olá! Cada vez mais pesquisada por efeitos antidiabéticos, anti-inflamatórios, antioxidantes e anti-Alzheimer, a quercetina vem ganhando importância como um flavonoide de potencial ação geroprotetora. Nesta linha, estudo recente, publicado em Ageing and Longevity, investigou os efeitos da quercetina sobre fatores endógenos de risco cardiovascular e biomarcadores de envelhecimento em adultos mais velhos com síndrome metabólica. Além de um resumo desse estudo, esta Essentia Atual traz uma atualização sobre os efeitos geroprotetores desse flavonoide, que é encontrado em frutas, legumes e oleaginosas. Boa leitura! |
Quercetina: crescente evidência de ação geroprotetora Há uma atenção extraordinária na pesquisa de moléculas bioativas que ocorrem em plantas, e a quercetina vem se mostrando um ótimo exemplo para possíveis aplicações terapêuticas e preventivas na população adulta. Os efeitos antidiabéticos, anti-inflamatórios, antioxidantes, antimicrobianos, anti-Alzheimer, antiartríticos, cardiovasculares e cicatrizantes da quercetina têm sido amplamente investigados, assim como sua atividade anticancerígena contra diferentes linhagens de células cancerígenas foi recentemente relatada. A pesquisa desse flavonoide, encontrado em frutas, legumes e oleaginosas sob diferentes formas glicosídicas, vem encontrando também que a sua combinação com múltiplos fármacos determina suas habilidades de potencializar ou interagir sinergicamente. Consequentemente, oferece potencial de reduzir efeitos colaterais e toxidade de fármacos, ao mesmo tempo que aumenta sua eficácia e segurança geral (como é o caso dos medicamentos antitumorais). Para a especialidade geriátrica, um recém-publicado estudo em Ageing & Longevity realizado por pesquisadores ucranianos (Shatilo et al. 2022) não somente confirma alguns achados anteriores como traz algo inédito: a administração de quercetina por três meses em adultos mais velhos levou ao alongamento dos telômeros e à diminuição da idade metabólica. Esta descoberta indica a presença de um efeito geroprotetor sobre um reconhecido importante marcador, ou seja, a região de sequências de DNA repetitivas no final de um cromossomo. Os telômeros protegem as extremidades dos cromossomos de ficarem desgastadas ou emaranhadas. Cada vez que uma célula se divide, os telômeros ficam ligeiramente mais curtos, indicando o envelhecimento celular. Eventualmente, eles se tornam tão curtos que a célula não pode mais se dividir com sucesso, se tornam senescentes, disfuncionais ou morrem. |
Senolíticos Nos últimos anos, a quercetina tem sido considerada uma agente “senolítica” que mostra poder eliminar um certo excesso de células senescentes. As células senescentes produzem uma série de moléculas sinalizadoras, como interleucina-6 e interleucina-8, cujo excesso leva à inflamação crônica. Como essas mesmas células também desempenham papéis importantes ao longo da vida, inclusive no desenvolvimento embrionário, parto e cicatrização de feridas, o foco terapêutico está na retirada do seu excesso, consequentemente levando a uma redução na inflamação e estresse oxidativo, que por sua vez pode levar ao alongamento dos telômeros. Todos os senolíticos agem da mesma forma? Não. Estudos mostram que algumas abordagens podem ser melhores ou complementares, desde que diferentes agentes senolíticos atingem diferentes tipos de células e origens da senescência celular. |
O estudo O estudo de Shatilo et al. teve como meta descobrir o efeito da quercetina sobre fatores endógenos de risco cardiovascular e biomarcadores de envelhecimento em adultos mais velhos (60-74 anos) com síndrome metabólica (SM). Os investigadores escolheram a SM, primeiro, devido à sua atual prevalência, definindo-se como uma combinação de fatores de risco cardiovascular endógenos, diabetes mellitus tipo 2, neoplasias malignas e comprometimento cognitivo. O desenvolvimento da SM é baseado na resistência à insulina, que também é um dos principais fatores endógenos do envelhecimento humano acelerado. O número de achados anteriores apontando o efeito favorável da quercetina no estado do metabolismo de carboidratos foi outra importante influência para a sua escolha do status de saúde dos participantes do estudo. Esse efeito pode ser explicado por sua ação protetora nas células β das ilhotas pancreáticas (ilhotas de Langherans) e um aumento na secreção de insulina, bem como uma melhora na sensibilidade à insulina. Os efeitos vasoprotetores da quercetina são realizados pela redução da atividade do processo inflamatório no endotélio vascular, aumentando a atividade da NO-sintase endotelial (eNOS), o que leva a um aumento do nível de óxido nítrico nas células endoteliais e a uma consequente melhora da função das mesmas. Sabe-se também que com o envelhecimento, a sensibilidade do corpo à hipóxia aumenta e a resistência à hipóxia diminui, o nível de oxigênio livre nos tecidos diminui, o conteúdo de produtos suboxidados aumenta e as reações de glicólise são ativadas. |
O protocolo Foram formados dois grupos de pacientes. Os pacientes do grupo principal (n=55) tomaram quercetina na dose diária de 240 mg por três meses. Os pacientes do grupo controle (n=55) tomaram placebo (não especificado). Ambos os grupos tomavam inibidores da ECA, estatinas e ácido acetilsalicílico (75-100 mg/dia) em dose constante por pelo menos um mês antes da inclusão no estudo e durante a participação no estudo como terapia básica. |
Os achados Em três meses, a quercetina teve um efeito corretivo favorável nos fatores de risco cardiovascular endógenos da maioria dos pacientes:
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Fontes: Shatilo V, et al. Quercetin effect on endogenous factors of cardiovascular risk and ageing biomarkers in elderly people. Salehi B, et al.Quercetin Therapeutic Potential of Quercetin: New Insights and Perspectives for Human Health | ACS Omega |
23 DE JUNHO DE 2022 | EDIÇÃO 20 |
Olá!
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18 DE MAIO DE 2022 | EDIÇÃO 19 |
Olá! |
Efeitos
da vitamina
E, silimarina e carnitina nas
anormalidades
metabólicas associadas
à
doença hepática
não
alcoólica |
14 DE ABRIL DE 2022 | EDIÇÃO 18 |
Olá! |
Melatonina
e
saúde
bucal |
23 DE MARÇO DE 2022 | EDIÇÃO 17 |
Olá! |
Melatonina
na
potencialização da
melhora da
doença hepática
gordurosa
não
alcoólica |
08 DE FEVEREIRO DE 2022 | EDIÇÃO 16 |
Olá! |
Prebiótico
GOS e
a
via
intestino-cérebro |
12 DE JANEIRO DE 2022 | EDIÇÃO 15 |
Olá! |
Magnésio
para um melhor metabolismo da
glicose |
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