Saúde muscular e longevidade saudável

Alterações musculares no envelhecimento

Durante o processo de envelhecimento, mudanças de origem social, física, psicológica, fisiológica, ambiental e bioquímica podem acontecer. Muitas dessas alterações são normais e esperadas em certo nível, enquanto outras podem estar relacionadas a morbidades e doenças, levando a uma pior qualidade de vida e prognóstico.

Uma dessas mudanças ocorre na composição corporal: com o passar dos anos, a massa muscular tende a diminuir, enquanto a de gordura aumenta. A intensidade com que essas alterações aparecem nos idosos é um reflexo de muitos fatores, como hábitos de vida de curto e longo prazo, condições de saúde, presença de comorbidades, idade, sexo, renda, entre outros.

Desse modo, o indivíduo pode apresentar redução da força e da saúde muscular, condições que interferem diretamente na qualidade de vida, uma vez que dificultam ou impossibilitam a realização de tarefas diárias e a locomoção, estando associadas a uma pior capacidade funcional, menor autonomia e maior morbimortalidade. É nesse contexto que pode surgir a sarcopenia, condição que afeta especialmente os idosos.

Foco na sarcopenia

De acordo com o European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP), a sarcopenia é provável quando é detectada baixa força muscular, e o diagnóstico é confirmado pela baixa quantidade ou qualidade muscular. Além disso, quando também há baixo desempenho físico associado, considera-se que a sarcopenia é grave.

Estimativas sobre a sarcopenia no Brasil

A sarcopenia é uma condição multifatorial na qual muitos processos fisiológicos contribuem para a perda de massa muscular e força ao longo do tempo. Nos tópicos a seguir, você encontra mais informações sobre a fisiopatologia da sarcopenia, condições envolvidas na saúde muscular, prevenção e tratamento.

Condições crônicas e a perda de massa muscular

Inflamação

A inflamação sistêmica crônica de baixo grau do envelhecimento, chamada de “inflammaging”, é um importante fator de risco tanto para doenças mentais quanto físicas. Biomarcadores de inflamação, como interleucina 6 (IL-6) e Fator de Necrose Tumoral alfa (TNF-α), têm sido associados à atrofia muscular em revisões científicas.

Um estudo com idosos também verificou que altos níveis de IL-6 e proteína C reativa (PCR) estavam associados ao aumento do risco de perda de força muscular. Ainda, uma pesquisa observou que os níveis de IL-6 estavam até 2,4 vezes mais altos em idosos em comparação aos jovens, enquanto os níveis de TNF eram o dobro.

Estresse oxidativo

Durante o envelhecimento, acontece uma diminuição no conteúdo e na função mitocondrial, associados ao aumento da produção de espécies reativas de oxigênio (EROs). O acúmulo de EROs leva a danos ao DNA, às proteína e lipídeos, podendo estimular a apoptose. Além disso, a mitofagia - remoção e degradação de porções disfuncionais das mitocôndrias - também parece diminuir com o passar dos anos.

Pesquisadores afirmam que indivíduos idosos não apresentam a mesma capacidade antioxidante em comparação aos jovens. O desbalanço entre a produção e neutralização de radicais livres parece favorecer a perda de massa e força muscular a partir da ativação da via ubiquitina-proteassoma, levando à degradação proteica. Esse sistema é uma via importante de degradação de proteínas musculares que geralmente está cuidadosamente em equilíbrio pelo organismo. Todavia, sua inibição leva ao acúmulo de detritos celulares e a sua ativação demasiada acarreta em morte celular excessiva e, consequentemente, há perda de massa muscular e força pela diminuição no número de fibras.

Obesidade sarcopênica

A composição corporal muda com o avanço da idade, de forma que a gordura aumenta e a massa muscular diminui, podendo levar à obesidade sarcopênica. A obesidade está ligada à inflamação, que também pode desempenhar um papel na etiologia da sarcopenia. Em indivíduos com obesidade, os níveis aumentados de marcadores inflamatórios (adipocinas) podem levar à ativação de vias catabólicas e inibição no anabolismo, fato que pode ser ainda mais prejudicado pelo excesso de gordura intramuscular.

Resistência à insulina

Por fim, a resistência à insulina é um quadro comum no envelhecimento e pode precipitar a perda de massa muscular esquelética, reduzindo os efeitos normais desse hormônio. O principal papel da insulina na regulação da massa muscular é inibir a quebra das fibras. Por outro lado, uma vez que os músculos são um dos principais locais de captação de glicose no organismo, esse órgão é imprescindível para a homeostase da glicose. Distúrbios metabólicos nos músculos podem levar à resistência à insulina, síndrome metabólica e obesidade.

A conexão da microbiota com a saúde muscular

O equilíbrio da microbiota intestinal também parece influenciar nos mecanismos que levam à perda muscular e à sarcopenia. Sabe-se que mudanças do envelhecimento, como perda de dentes, dificuldade de mastigar, engolir e digerir os alimentos e diminuição da motilidade intestinal, além de mudanças no padrão alimentar levam a alterações dietéticas que influenciam na microbiota.

Uma pesquisa observou diminuição da inflamação, de lipopolissacarídeos (LPS) e aumento da massa muscular em camundongos obesos suplementados com prebióticos. Outro estudo verificou que a perda de massa muscular induzida em um modelo de camundongo foi atenuada pela suplementação oral com espécies de Lactobacillus.

Uma vez que a composição e eficiência de absorção de AA dietéticos influenciam na síntese de proteínas musculares, mudanças do microbioma intestinal podem afetar a biodisponibilidade desses nutrientes. No lúmen intestinal, os AA podem ser precursores para a síntese de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) pelas bactérias. Assim, é possível uma influência da microbiota intestinal na fisiologia muscular por meio da regulação da disponibilidade de aminoácidos (AA).

Cognição e saúde muscular

O déficit cognitivo é uma condição que pode atingir até 25% da população idosa, e sua prevalência aumenta com a idade. Existem algumas possíveis associações bidirecionais entre declínio físico e mental, de modo que a sarcopenia estaria associada a uma maior probabilidade de déficit cognitivo, de acordo com uma metanálise de estudos transversais.

Uma pesquisa brasileira com 62 idosos realizou um treinamento de resistência de 24 semanas para avaliar o impacto do treinamento de força muscular na função cognitiva. O grupo experimental mostrou melhora em testes neuropsicológicos.

evidências de que alterações na forma e função do sistema nervoso contribuem para a diminuição do desempenho do músculo esquelético, da coordenação motora e da força muscular com a idade. Pesquisas post mortem sugerem que idosos (>65 anos) apresentam redução volumétrica de mais de 40% no tamanho do corpo celular neuronal no córtex pré- motor em comparação aos adultos (<45 anos). Além disso, já foi observado que, em idosos, cada diminuição de 8kg de força de preensão manual (FPM) estava associada a um aumento de 59% na probabilidade de demência e a cada déficit de 1kg na FPM na linha de base conferia um risco maior de desenvolver doença de Alzheimer ao longo de 5 anos.

Prevenção e tratamento da sarcopenia

Manter a saúde muscular é importante para assegurar independência, qualidade de vida e longevidade em idosos. Para isso, atividade física e alimentação são os principais pilares para prevenir ou retardar o surgimento da sarcopenia. Além disso, a literatura destaca sua importância para o tratamento - ou até reversão - dessa condição.

Alimentação e suplementação

O processo de envelhecimento está associado a uma diminuição no apetite e na ingestão alimentar, levando à perda de peso não intencional. A esse processo dá-se o nome de anorexia do envelhecimento, que pode acometer até 20% dessa população e está associado a efeitos adversos como queda, imobilidade, pior qualidade de vida e maior morbimortalidade.

Dados de uma pesquisa mostram risco 88% maior de sarcopenia em idosos que sofrem de anorexia em comparação aos não anoréxicos. Nesses indivíduos, a ingestão de nutrientes pode ficar deficitária, levando a quadros de desnutrição, que podem desencadear ou agravar ainda mais a sarcopenia.

Atividade física

A atrofia dos músculos esqueléticos ocorre com o avanço da idade. O exercício é uma intervenção eficaz na prevenção e tratamento das alterações musculares e sarcopenia. O treinamento físico não apenas atenua a perda muscular, mas também aumenta a massa e a força, além de melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida.

A American College Sports Medicine (ACSM) orienta a prática de 150 minutos semanais de exercícios aeróbios de intensidade moderada para a manutenção da função cardiorrespiratória de idosos. Uma pesquisa mostrou que indivíduos que realizavam atividade física de acordo com a recomendação apresentaram uma perda menor de massa muscular em comparação aos sedentários.

Todos os tipos de atividade física oferecem benefícios, mas o treinamento de resistência parece ser a intervenção mais eficaz para promover melhorias na massa muscular, força e função em idosos. Além de sua eficácia comprovada por pesquisas, é sugerido que o músculo exercitado se torne mais sensível aos nutrientes, permitindo que mais dos AA disponíveis sejam sintetizados em proteínas musculares e inibindo a degradação proteica, o que não acontece em indivíduos sedentários.

Ao contrário do que ocorre após episódios agudos de exercício, o exercício crônico está associado a níveis reduzidos de marcadores de estresse oxidativo e a um aumento na capacidade antioxidante. Aumentos nas enzimas antioxidantes têm sido associados a melhorias nas alterações musculares relacionadas ao envelhecimento. A literatura traz que o treinamento de resistência crônica e o aumento da ingestão de proteína são estratégias bem-sucedidas para melhorar a massa livre de gordura e a ingestão de energia, quebrando o ciclo vicioso de redução do apetite, ingestão de energia e massa muscular em adultos mais velhos.

A atividade aeróbica também é importante para manter o desempenho muscular esquelético, uma vez que o pico de volume de O2 diminui com a idade. Esse tipo de exercício leva à melhora da função mitocondrial e cardiovascular, maior controle metabólico, redução do estresse oxidativo e consequentemente otimiza o desempenho dos músculos.

Proteínas

As proteínas desempenham um papel fundamental nesse cenário, e a ingestão adequada está diretamente relacionada à manutenção da massa muscular esquelética. Sua taxa de síntese é estimulada pela ingestão de AA e pelo exercício físico, podendo estar reduzida em até 30% nos idosos. Uma pesquisa observou que indivíduos mais velhos com ingestão diária de proteínas de 0,8g/kg/dia perdiam 40% mais massa muscular do que aqueles que consumiam 1,2 g/kg/dia.

Assim, apesar de as Referências de Ingestão Dietética (DRI) indicarem um consumo de 0,8g/kg/dia de proteínas para idosos, há um consenso entre pesquisadores e órgãos internacionais que propõem a ingestão mínima entre 1,0 e 1,5g/kg/dia para amenizar a perda de massa magra e suprir as necessidades em condições crônicas e inflamatórias, comuns no envelhecimento.

Dessa forma, o consumo adequado desse nutriente deve ser estimulado nessa população como forma de prevenção e tratamento da sarcopenia, visando uma melhor saúde muscular. A qualidade da proteína também deve ser observada, bem como sua distribuição de consumo ao longo do dia.

Vitamina D, cálcio e creatina

Outros nutrientes também têm sido elencados por estudos como contribuintes da saúde muscular. A vitamina D, por exemplo, auxilia na manutenção da função muscular e na melhora da força, de acordo com uma metanálise. Especula-se que a substância tenha função na renovação de proteínas musculares e regule as concentrações de cálcio, impactando na força. Um ensaio clínico com idosos sarcopênicos verificou que a ingestão de whey protein acrescido de aminoácidos essenciais e vitamina D associada à atividade física levou a um ganho de 1,7kg de massa livre de gordura, além de melhorias na força e função muscular.

O baixo consumo de cálcio já foi associado a um risco de três a quatro vezes maior de sarcopenia em idosos, e a suplementação de proteínas enriquecidas com leucina, cálcio e vitamina D melhorou a massa muscular de adultos mais velhos saudáveis. A suplementação de magnésio também já mostrou uma melhora em testes de desempenho físico e velocidade.

A creatina é uma substância bastante estudada no contexto de força e massa muscular. Pesquisas já comprovaram seus efeitos benéficos em idosos e, quando associada ao exercício físico, seu consumo aumenta a força, a espessura e a recuperação muscular.

Apoio nutricional para a saúde muscular

Vit D3: forma ativa e associada ao azeite de oliva e MCT, tornando-a mais biodisponível para o organismo.

Crealift: 100% Creapure®, reconhecido internacionalmente pela sua qualidade superior.

Whey protein, veggie protein e beef protein: atendem aos mais diversos públicos e situações com uma variedade incrível de sabores.

Aminolift: 9 aminoácidos essenciais + magnésio + vitamina B6 no sabor tangerina.

Collagen Essential Protein: proteína do colágeno BodyBalance ®, feito com peptídeos de colágeno hidrolisado mais biodisponíveis, nos sabores baunilha, chocolate, tangerina, frutas tropicais e neutro. Alta solubilidade.

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